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O gosto pela leitura passa por um portal: o despertar

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Estimular a criança a ler é um grande desafio. A leitura exige o desenvolvimento de várias capacidades cognitivas e o de hábitos muitas vezes não prazerosos ao competir com inúmeras atividades lúdicas que atraem o interesse da criança. 

Estimular a criança a ler é um grande desafio. A leitura exige o desenvolvimento de várias capacidades cognitivas e o de hábitos muitas vezes não prazerosos ao competir com inúmeras atividades lúdicas que atraem o interesse da criança. 

O gosto pela leitura passa por um portal: o despertar. É um portal que envolve lentamente o pequeno e o jovem leitor através do prazer de mergulhar em uma história, um mundo ficcional que, de diferentes formas, sobrevoa o real. É um portal que não se descortina através da consciência da importância da leitura para a formação do cidadão de amanhã, e sim, começa pela sedução que os enredos, ambientes e personagens criam para o leitor iniciante. Nesse momento de vida, ele ainda está começando a se dar conta do poder da leitura para transformá-lo e engrandecê-lo. Na verdade, é um interessado em viajar no mundo do faz-de-conta. Ele quer brincar e se divertir. E, por que não? A experiência lúdica da leitura é agradável e incita a imaginar e a brincar.

O grande desafio não está com a criança e o jovem, mas com as pessoas que possuem a pretensão de torná-los leitores. Que sejam familiares e amigos, profissionais, especialmente os professores e bibliotecários, e, até mesmo, artistas para estarem junto da criança. O primeiro passo a ser dado é a presença acolhedora e estimulante, a partir do entendimento de que a criança e o jovem precisam de liberdade e descontração para adentrarem no próprio imaginário. Deverão ser pessoas capazes em desencadear processos lúdicos e criativos que apresentem heróis, vilões, fadas, bruxos e super-heróis para que possam ser fantasiados, imitados e interpretados em suas brincadeiras, encenações e devaneios. São portais através dos quais os leitores iniciantes vão desenvolvendo o gosto pela leitura, como também apreendendo e compreendendo a realidade em que vivem. Haja vista que a literatura emerge das emoções e percepções do autor sobre a vida.

A leitura que traz suspense, enredos interessantes ao mundo do leitor em formação, mostrando personagens marcantes e significativos à vida dele, motiva a criança e o jovem a encontrar mais prazer na leitura do que em jogos eletrônicos, por exemplo. A leitura e a vida estão lado a lado, de modo que o livro possa espelhar o que o leitor está vivendo, sensibilizando-o, abraçando-o, divertindo-o.

As crianças e os jovens precisam ter oportunidades de leitura, de livros à sua disposição. Olhá-los, tomá-los nas mãos, folheá-los e escolhê-los têm valor fundamental na formação de leitores, o que é um desafio também aos governantes. Pensar, planejar em políticas de oferta de livros de literatura e realizá-las tem de ser um objetivo da atuação pública. 

Infelizmente, ainda há carência de livros por todos os cantos do país!

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Queimar livros é destruir ideias que alimentam a vida

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Por que livros são queimados?! Não consigo pensar em uma resposta que me seja razoável para justificar esse ato predador, insano e autoritário. Quem o faz, destrói a cultura com violência, no intuito de aniquilar completamente modos de pensar e de viver diferentes do seu. É uma atitude que cultiva sensações de onipotência e comportamentos paranoicos de poder.

Por que livros são queimados?! Não consigo pensar em uma resposta que me seja razoável para justificar esse ato predador, insano e autoritário. Quem o faz, destrói a cultura com violência, no intuito de aniquilar completamente modos de pensar e de viver diferentes do seu. É uma atitude que cultiva sensações de onipotência e comportamentos paranoicos de poder.

Os livros são objetos, sem dúvida. Entretanto possuem vida na medida em que trazem, em cada página, um pouco da alma dos seus autores, contam histórias de uma época, expressando esperanças, dores e conquistas deste tempo. Existem para serem lidos, manuseados e pesquisados. Presenteá-los, inclusive, revela gestos de afeto a outro. Se repousados em estantes de bibliotecas, ficam à disposição dos leitores. Se em estantes pessoais, são tratados com cuidados em razão das motivações de cada um. Livros não podem ser esquecidos em caixas fechadas. Em suas páginas, geralmente, há anotações, frases sublinhadas e parágrafos marcados por conta do conteúdo do texto, que trazem significados relevantes. Quando amados, costumam envelhecer ao lado dos seus leitores e, apesar dos custos, podem ser restaurados. Os livros são como seres que carecem de atenção e cuidados para terem vidas longas e enriquecerem pessoas com seus saberes, cultura e modos de perceber a vida e estar no mundo.

Ao longo da história, infelizmente, livros foram destruídos com fogo. O ato de queimá-los é essencialmente político, sendo praticado em local público, com a finalidade de censurar ideologias. Os livros ficam em cinzas, irrecuperáveis. Algumas obras são perdidas para sempre porque não há outros exemplares. A história nos apresenta inúmeras cicatrizes contra o patrimônio cultural da humanidade, como aconteceu na Biblioteca de Alexandria, quando foram destruídos 9.000 manuscritos ou durante a colonização da América quando foram queimados manuscritos maias e astecas em1499. Como aconteceu com os livros protestantes na Áustria, em 1730.  Em Nova Friburgo, cidade que cultua a literatura, em outubro deste ano, o tradicional quiosque do Sr. Jorge dos Livros, banca que existe há mais de vinte anos no centro da cidade, foi queimado! Tantos livros, alguns raros, foram destruídos... Não se sabe ainda se foi um ato com intenções políticas ou vândalas. Foi um crime contra a cultura da região, o crescimento intelectual da população e os esforços para incentivar a leitura.

A Academia Friburguense de Letras mobilizou seus acadêmicos para oferecerem livros ao Sr. Jorge, de modo que ele possa reconstruir seu quiosque. Espero que esse triste acontecimento chame a atenção para a importância do livro e da leitura na vida diária de nossa Friburgo querida. 

Mas não é só isso! Que mostre a todos o trabalho persistente do Sr. Jorge ao longo dos anos. Não é fácil tirar o sustento pessoal com a venda de livros. Apenas o amor pelas histórias, poesia, filosofia e tantas outras áreas da produção literária pode tê-lo motivado a sustentar seu quiosque.

Quem puder colaborar, levando livros que já foram lidos, não deixe de fazê-lo. O livro não é para ficar esquecido num canto da casa; haverá sempre alguém que gostará de tê-los nas mãos.

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Medo: suas cores e tamanhos

segunda-feira, 09 de outubro de 2023

O que vai acontecer depois?!

Que barulho forte é este?!

Tem alguém aí?!

Há medos de todos os tamanhos, dos mais bobos aos mais profundos. Há os que emergem de fatos e outros criados pela imaginação. Ainda há aqueles que guardamos debaixo do travesseiro como bons inimigos e os que jogamos fora na primeira lixeira. Que seja de multidão, aranha ou de ficar sozinho, o medo é uma reação emocional diante de uma situação ameaçadora. 

Ora pois sim, quem não os tem?

O que vai acontecer depois?!

Que barulho forte é este?!

Tem alguém aí?!

Há medos de todos os tamanhos, dos mais bobos aos mais profundos. Há os que emergem de fatos e outros criados pela imaginação. Ainda há aqueles que guardamos debaixo do travesseiro como bons inimigos e os que jogamos fora na primeira lixeira. Que seja de multidão, aranha ou de ficar sozinho, o medo é uma reação emocional diante de uma situação ameaçadora. 

Ora pois sim, quem não os tem?

Fui presenteada por Maria Clara Cavalcanti, escritora e contadora de histórias, especialista em Leitura e em Literatura Infantil e Juvenil, com o livro “Passos no Porão”, editado pela Escrita Fina. Foi um presente que me fez adentrar os bosques do medo, repleto de raízes espinhosas e intermináveis, arejado por inseguranças e ameaças que invadem as emoções das crianças, adultos e velhos. É um bosque em que penetramos devagar, pé ante pé, com olhos arregalados e respiração forte. 

“Passos no Porão” conta a história de um menino que escuta barulhos nas noites de mau tempo e corre para a cama do pai. Com o passar dos dias o medo vai sendo dissipado até porque o estranho som era de uma janela que batia com o vento no porão da casa.  A beleza do conto está na relação do pai com o filho que busca abrigo e proteção nos braços paternos. 

O medo nos acompanha quando crescemos, amadurecemos e envelhecemos. Faz parte da vida! É um sentimento que arranha e fere nossos momentos, enquanto emoção que ninguém gosta de ter, mas, em algumas circunstâncias, chega a ser necessário e benéfico. Podemos dizer que surge como um estado de alerta a ameaças físicas, morais ou psicológicas. A pessoa, especialmente a criança, ao sentir-se indefesa, o medo pode ganhar maiores proporções, como na história de Maria Clara Cavalcanti, que fez com que um menino saísse da sua cama e corresse para os braços do pai, braços que os protegeram do barulho e sustentaram seu amadurecimento.

O texto também nos chama a atenção para o desconhecimento da circunstância estranha e ameaçadora, uma vez que o não saber como reagir é o que mais assusta. Muitas vezes a intensidade do medo pode não ser compatível com o tamanho da causa.

Meus filhos, quando pequenos, tinham medo do escuro. Certa vez, fiquei com eles no quarto antes de dormirem à noite apagando e acendendo a luz. Quando a acendia pedia para que eles observassem o quarto. Depois, ao apagar, fazia o mesmo e perguntava se havia algo diferente. Fiz isso algumas noites. Eles não tiveram mais medo de dormir no escuro, contudo não deixaram de ter outros.

Penso que o medo nos modifica, fazendo-nos desenvolver capacidades para enfrentá-lo, alerta-nos para o perigo e torna nossos olhos atentos ao que nos rodeia.

Vou confessar e não contem para ninguém, por favor. Tenho medo de barata! Arc... Até hoje, aos setenta anos, não consegui retirá-lo da minha bagagem. Será que vou carregá-lo ainda por muito tempo? 

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Ouça-me

segunda-feira, 02 de outubro de 2023

A canção “Hear me now”, composta pelos artistas brasileiros Zeeba, Bruno Martini e Alok, lançada em 2016, é um sucesso musical da atualidade em todo o mundo. Sua letra, composta em inglês, tem uma mensagem profunda, que nos motiva a refletir sobre como temos buscado realizar nossos sonhos. Emerge daquele momento em que alguém nos toca e aponta caminhos para construirmos o futuro. O futuro sempre nos espera, como se estivesse à espreita para nos oferecer o que fazemos por merecer. O amanhã é resultado dessa relação de causa e consequência para com a qual, muitas vezes, não ficamos atentos.

A canção “Hear me now”, composta pelos artistas brasileiros Zeeba, Bruno Martini e Alok, lançada em 2016, é um sucesso musical da atualidade em todo o mundo. Sua letra, composta em inglês, tem uma mensagem profunda, que nos motiva a refletir sobre como temos buscado realizar nossos sonhos. Emerge daquele momento em que alguém nos toca e aponta caminhos para construirmos o futuro. O futuro sempre nos espera, como se estivesse à espreita para nos oferecer o que fazemos por merecer. O amanhã é resultado dessa relação de causa e consequência para com a qual, muitas vezes, não ficamos atentos. Nem ligamos, para dizer a verdade. Ora pois, podemos contar com a sorte do destino?

A letra é um diálogo entre pai e filho. Sua composição foi uma forma de Zeeba exaltar e agradecer a relação com seu pai, que se preocupou com o futuro dele, não o deixando desistir da carreira musical. De fato, a letra é mais mensageira do que poética, cuja riqueza está no esforço de um pai em se fazer ouvir. “Ouça-me” é um grito do amor paternal e sensibiliza a quem a escuta, principalmente quem vivenciou situação parecida. Lembrei das tantas vezes que minha mãe, irmã, uma amiga e até mesmo filhos me disseram algo com firmeza. E das incontáveis outras que não dei atenção e percebi o meu equívoco tempos depois. Alguns erros margearam minha vida e me fizeram trilhar caminhos que poderiam ter sido evitados. O olhar do outro vai sempre além do nosso; tem pontos de vista mais aguçados. Quando alguém se coloca diante de nós na posição de “ouça-me” é bom escutar e refletir. É uma voz que possui inteligência e percepção diferentes da nossa. Escutar é um modo de nos deixarmos abraçar e sermos amados.

Deixo, agora, a letra com vocês como um gesto de amor a quem me lê. Sugiro, ao meu amigo leitor, que leia a coluna escutando “Hear me now”.

OUÇA-ME AGORA

Se você me ouvir agora

Se você me ouvir agora

Sei que vai ficar mais forte

Quando você ficar mais velho, oh

Só não encolha os ombros

Quando você ficar mais velho, oh

As coisas não são fáceis

Então apenas acredite em mim agora

Todos os seus medos irão desaparecer

Se você me ouvir agora

Se você me ouvir agora

Deixe as desculpas de lado

Fale alto a sua opinião agora

Não deixe escapar

Você nem sempre tem razão agora

As coisas não são fáceis

Então apenas acredite em mim agora

Não aprenda do jeito fácil

Apenas me deixe mostrar como

Todas as luzes irão guiar o caminho

Se você me ouvir agora

Todos os seus medos irão desaparecer

Se você me ouvir agora

Se você me ouvir agora 

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Os mágicos das histórias

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Poderão ser os escritores de livros infantis os Ministros das histórias? E por que não? A criança gosta de ler e entrar com desprendimento no mundo da fantasia. Entrando no universo do faz-de-conta, ela vai conhecendo e compreendendo o mundo em que vive.

Poderão ser os escritores de livros infantis os Ministros das histórias? E por que não? A criança gosta de ler e entrar com desprendimento no mundo da fantasia. Entrando no universo do faz-de-conta, ela vai conhecendo e compreendendo o mundo em que vive.

A criança ao abrir o livro e folhear suas páginas tem à sua frente um universo lúdico, quando vai conhecendo a realidade concreta na qual está inserida, mergulhando em cada história. Não se pode apresentar a vida com seriedade a quem tem pouco tempo de existência e percebe o ambiente com olhos curiosos, decodificando o dia a dia, as circunstâncias que a cercam e as pessoas com quem convive. O livro de literatura tem a magia de falar dos fatos em tom lúdico e colorido. Por que a criança não pode encontrar o que vive nos livros de modo colorido, engraçado e sutil?

A vida não poupa o infante da dor, da falta e da maldade. Nada limita a vida de tocar a criança, que é tão humana quanto o adulto, sensível quanto o velho, tão atenta quanto ao do animal na mata. Por que não mostrar as adversidades através dos contos, fábulas, poesias e histórias em quadrinhos?

O escritor, ao se vestir com a roupa de mágico, assume o lugar daquela pessoa responsável pela administração de atribuições, como buscar ideias genuínas no imaginário, escrevê-las em estilos literários, participar ou promover a edição dos textos que escreveu em livros, conversar com leitores, dentre tantas outras. O escritor tem de observar o leitor infantil em sua cultura, faixa etária, centros de interesses para ter maior sensibilidade e inteligência a fim de usar as palavras e elaborar frases. Acima de tudo, sabedoria para construir os textos com ternura e alegria. É preciso aprender a brincar de inventar histórias. A passar pelos portais “Era uma vez...”, “Naquele tempo...” “Certa vez...” para adentrar no próprio imaginário e dar-se o direito de criar enredos com os mais incríveis personagens, como a fábula de João e Maria, recontada pelos irmãos Grimm, ou a busca pelo Mágico de OZ, de Frank Baum. Ou ainda nas aventuras e desventuras de um Livro Maluco e uma Caneta sem Tinta (meu livro em parceira com Márcio Paschoal), no intuito de superar o medo de ser criativo e buscar novas histórias.

Nós, adultos, guardamos a criança que um dia fomos e nossa pessoa é consequência de tudo o que vivemos na infância e do modo como experimentamos as circunstâncias. Inclusive ela é viva em nossos pensamentos e sentimentos. Sempre bom lembrar que é na infância que aprendemos a rir e a chorar.

O escritor, o inventor de histórias, precisa tornar vívida a sua criança, dando cor e movimento às palavras que emprega nos textos, fazendo sapecar suas ideias, sem medo de imaginá-las.

Aliás, o grande desafio ao escritor é libertar-se dos seus grilhões limitantes e permitir-se transitar com desenvoltura em suas fantasias e torná-las verossímeis em suas criações literárias.

O escritor é um mágico sem cartola, um bruxo feito de papel, lápis e borracha.

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Quando acabo de escrever... não é fim de papo!

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Hoje vou falar do que acontece comigo quando acabo de escrever. Cada vez que termino um texto, tenho uma sensação diferente, que vem sempre acompanhada de uma exclamação. Acabei! Todavia não é fim de papo, pelo contrário, é início de outro, pois já começo a pensar no próximo. Confesso que gostaria de ganhar flores, mas não tenho hábito de me presentear com buquês coloridos. É a gostosa sensação de dever cumprido e meu corpo parece se relaxar por inteiro. Flutuar. Talvez seja decorrente da satisfação de ter conseguido externar ideias que estavam guardadas, quiçá fazia tempo.

Hoje vou falar do que acontece comigo quando acabo de escrever. Cada vez que termino um texto, tenho uma sensação diferente, que vem sempre acompanhada de uma exclamação. Acabei! Todavia não é fim de papo, pelo contrário, é início de outro, pois já começo a pensar no próximo. Confesso que gostaria de ganhar flores, mas não tenho hábito de me presentear com buquês coloridos. É a gostosa sensação de dever cumprido e meu corpo parece se relaxar por inteiro. Flutuar. Talvez seja decorrente da satisfação de ter conseguido externar ideias que estavam guardadas, quiçá fazia tempo. Meu inconsciente se releva nas palavras, mesmo sem querer, e chegam a me causar espanto vez em quando. Aliás, escrever é uma eficiente terapia; todos meus nós e tropeços saem visíveis nas frases ou escondidos nas entrelinhas. Às vezes, sinto que alguma coisa a mais está presente, principalmente quando abro os canais de percepção extrassensorial que geralmente acontece quando penso, pesquiso e escrevo. Coisas que vêm do universo, do além, não sei de onde, que me fazem ter a impressão de que não estou só. São, ao mesmo tempo, acolhedoras e assustadoras.

Volta e meia, quando coloco o ponto final, me pergunto se sou um canal através do qual entidades se comunicam com meus leitores, posto que a escrita tem o poder de fazer com que cada texto seja uma fonte de ideias. É uma força que me faz deslizar sobre a tela do computador, já que nunca escrevo usando lápis e papel. É algo que me faz ir além da inércia que vem no ar que respiro e entra no sangue que corre nas minhas veias. É como uma vontade de fazer parte. Ao escrever percebo novos sentidos que oferecem um tom suave à minha vida e não me deixam desafinar.

Quando a literatura me enlaçou, eu me descobri aprendendo a fazer arte com palavras. Ufa, que delicado, longo e complexo caminho! Mas, aí, talvez para superar a preguiça essencial, provavelmente uma força maior e desconhecida venha me sustentar. Amparar para melhor dizer. Escrevendo, deixo de ser etérea.

Mas também é uma alegria dar um ponto final pela sensação de que meus propósitos foram cumpridos. Além do quê, fico feliz em saber que meu texto foi lido.

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A poesia salva!

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O nome de Nova Friburgo significa cidade livre, e o poeta precisa de liberdade para observar a vida e inspirar-se. Aqui, a poesia paira sobre a cidade; sempre e em algum lugar há alguém reverenciando poesia, a relíquia que retira a venda dos olhos através de palavras cuidadas.

O nome de Nova Friburgo significa cidade livre, e o poeta precisa de liberdade para observar a vida e inspirar-se. Aqui, a poesia paira sobre a cidade; sempre e em algum lugar há alguém reverenciando poesia, a relíquia que retira a venda dos olhos através de palavras cuidadas.

Ferreira Goulart, certa vez, disse que a poesia nasce do espanto. Da realidade, que se desnuda repentinamente, causando no poeta um sentimento que o toca no mais profundo de si, fazendo com que as palavras, não mais do que pedaços de emoções, cheguem tortas ao seu imaginário. Porém, tornam-se perfeitas quando as coloca num poema.

Quem, em algum momento da vida, já não tentou fazer um poema?

Quem tem a vida pela frente, que seja um dia apenas, não se espanta? 

Ah, o vivente precisa de poesia!

Então, pus-me a buscá-las.

 

Segue o teu destino...

Rega as tuas plantas;

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.

                  Fernando Pessoa

 

Ah, o destino, será que somos nós quem o construímos ou são as Moiras que tecem o fio da vida? Acredito que somos nós. Dia a dia, cultivamos nossos canteiros.

Por sermos humanos e sobreviventes, precisamos esticar um pouco o olhar para reconhecê-los e encompridar os braços para fertilizá-los, num longo e sofrido aprendizado. Talvez esse seja o aprendizado mais importante que precisamos ter, que não está nos bancos escolares e universitários. Que precisa começar cedo para que se entranhe em nossas vísceras, a ponto de se tornar parte de nós, como um coração pulsante. 

Certamente, um aprendiz atrasado terá menos agilidade para identificar os canteiros alheios.

É preciso descobrir o que nos pertence e o que não faz parte de nós. Certamente é uma difícil descoberta, até porque as solicitações e influências externas são muitas. Extremas. É celular, é internet, são os apelos da moda, os mitos irresistíveis, confundindo os valores com os desvalores. Misturando o meu eu com o do outro. Com o mundo. Enfim, os versos de Fernando Pessoa chamam a atenção para isso.

Prosseguindo a pesquisa de poesias, me deparei com outra pérola. Camões.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soia.

 

Se, no século XVI, a mudança fazia parte da vida, que versos Camões escreveria se estivesse aqui e agora, entre nós? Estamos no centro das mudanças, o que é hoje, já não é amanhã. E as nossas plantas e rosas?! O quão difícil é para nós, e, principalmente para o jovem, proteger nossos canteiros do vendaval de transformações. Todos os dias surgem novidades. Vivemos no jardim das surpresas. Que nos torna repartidos. Bífidos

Ah, Camões e Pessoa são jovens. Não envelheceram. A poesia os salvou, não os deixou perdidos no tempo. No anonimato. Seus canteiros ainda são fertilizantes para os nossos. Fizeram rosas e plantas com raízes fortes. Tenho certeza de que existe uma infinidade de Camões e Pessoas neste mundo.

Estamos todos em processo de evolução; saber quem somos é uma etapa importante deste ir a diante.  Ser livre para sentir o perfume dos nossos alecrins.

Ah, a poesia pode nos acordar de um longo sono letárgico.

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Os tesouros que existem nas histórias

terça-feira, 05 de setembro de 2023

Encontramos preciosidades quando abrimos um livro de literatura, seja em prosa ou poesia, e mergulhamos em suas páginas. Aliás, toda história nos ensina algo porque o autor e o leitor são aprendizes por essência. Vou falar de uma autora brasileira que admiro, Lygia Bojunga, e da sua obra “Paisagem”, publicada em 2006, pela Casa Lygia Bojunga.

Encontramos preciosidades quando abrimos um livro de literatura, seja em prosa ou poesia, e mergulhamos em suas páginas. Aliás, toda história nos ensina algo porque o autor e o leitor são aprendizes por essência. Vou falar de uma autora brasileira que admiro, Lygia Bojunga, e da sua obra “Paisagem”, publicada em 2006, pela Casa Lygia Bojunga.

Além de uma escrita leve, nós, os leitores, vamos interpretando a história, captando suas ideias e intenções que pretendem abordar a relação entre o autor com seu leitor. O livro conta a história da autora com Lourenço, seu Leitor. Fantástico, não?

O tesouro dessa obra é a conversa entre a autora com alguém que a lê.  Por certo, o leitor conhece o autor de sua preferência e estabelece com ele um contato afetivo e, por vezes, profundo. Já o escritor repousa sua alma na história de tal forma que toca a alma do leitor. Contudo é uma interação de pessoas que se conhecem apenas através da literatura, estabelecem uma relação intensa a ponto do leitor e o autor interagirem ao longo do tempo. Inclusive, depois que o autor morre, ele continua vivo para seus leitores, fazendo-se emergir das páginas dos seus livros. Em cada história que cria, o autor coloca sua essência na escolha das palavras, na idealização dos personagens, na construção do texto, seja em que estilo literário for.

Em “Paisagem”, Lygia, inicialmente, imagina como seu Leitor poderia ser e decide conhecê-lo. Viaja, o procura e o encontra. Ao ler o livro, me lembrei da relação com meus leitores ao visitar as escolas que adotaram meus livros. Os leitores gostam de sentir a presença do autor do livro que leram para perceberem que eles existem, que são pessoas como eles: de carne e osso. Gostam de escutar a voz e conhecer a sua história de vida e, principalmente, de saber da construção do enredo e dos personagens com os quais se identificaram.

É um relacionamento mágico de modo que o autor passa a existir em função das suas histórias e, consequentemente, dos seus leitores. E o leitor recebe influências significativas na construção do seu destino.

Assim sou com relação a Saint-Exupéry. O “O Pequeno Príncipe” mora dentro de mim e influencia meu modo de ver as coisas da vida e de escrever.  

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Hoje as crianças vivem a infância com plenitude?

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

A Academia Friburguense de Letras está realizando um Ciclo de Palestras on-line, via Zoom, “Os desafios da Literatura Infantojuvenil” e temas diversos estão sendo apresentados durante as palestras. Ontem, Anna Cláudia Ramos, escritora e Mestre em Literatura, abordou a importância do brincar e do ler durante a infância. Brincar. Sim, brincar. Passear pelo universo do “Faz de Conta” com passos criativos, em que a criança recria suas fantasias e os personagens das histórias que conhece. 

A Academia Friburguense de Letras está realizando um Ciclo de Palestras on-line, via Zoom, “Os desafios da Literatura Infantojuvenil” e temas diversos estão sendo apresentados durante as palestras. Ontem, Anna Cláudia Ramos, escritora e Mestre em Literatura, abordou a importância do brincar e do ler durante a infância. Brincar. Sim, brincar. Passear pelo universo do “Faz de Conta” com passos criativos, em que a criança recria suas fantasias e os personagens das histórias que conhece. 

Através do brincar, a criança revive sua realidade, externa seus sentimentos e escuta sua voz. Conhece-se. Sente-se. Apreende melhor o ambiente em que vive, reexperimenta a cultura familiar, comunitária e social à sua maneira. Percebe-se, de modo lúdico, como sujeito, sujeitado, como pessoa afetiva e como indivíduo com características próprias. A cada brincadeira, vai amadurecendo a percepção de si, do outro e do mundo. Quando brinca, a criança se transforma em um animal, que seja gato, papagaio, peixe ou leão. Que seja idoso, adulto e, até mesmo em outra criança. De qualquer forma é a pessoa dela inteira que está ali, construindo sua personalidade, experimentando modos de ser e de fazer diferentes, sendo ela mesma ou não.  

E, diante das telas dos tablets e celulares, que oportunidades a criança tem para se construir? Com um objeto frio nas mãos, que pode ser ligado e desligado a qualquer momento, deixa de experimentar a concretude dos fatos ao interagir com outra criança, vivenciar divergências, competir, estabelecer relações de amizade. Como fazê-lo se não tem o outro, criança como tal, para dialogar, discordar, cantar, gritar?  Gostar e desgostar?

A literatura infantil, ao fazer parte do universo infantil, enriquece a experiência lúdica. A história de Pinóquio mostra que a criança pode construir seus próprios brinquedos e a estimula para entrar no mundo fantástico do “Faz de Conta”, quando Gepeto dá vida a um boneco feito de madeira para ser usada como lenha. Outro fato que posso apontar é que a história aborda a relação afetiva entre gerações, na medida em que Gepeto, já velho, cria um boneco que o trata como um filho e preenche seus vazios. Além de tudo, a história conta as travessuras de um boneco de madeira, exaltando-o como um aprendiz da vida. Outro personagem interessante é o Grilo Falante que representa a consciência do boneco do menino, o superego, a instância responsável entre o eu e o ambiente circundante.

Além do mais, os personagens são fontes de inspiração para a criança encená-los nas brincadeiras e nos teatros que produzem. E, cá para nós, é gostoso imitar personagens e reproduzir suas falas!

A leitura de histórias possibilita o contato do leitor infantojuvenil com sua língua, amplia seu vocabulário e mostra o emprego dos fatos gramaticais, sintáticos e ortográficos. 

Para finalizar, quero fazer uma referência à Convenção dos Direitos da Criança, elaborada pela Assembleia Geral da ONU, em 1989, que promove, protege, e assegura o exercício pleno de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais para todo o indivíduo com menos de 18 anos de idade. Indiferente à raça, cor, sexo, origem, religião, classe econômica ou deficiência física.

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As histórias nos ajudam a lidar com a morte e a segurar a vida pelo rabo

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

“Quando olhares para o céu de noite, eu estarei habitante numa delas e estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por teres me conhecido”

Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe

 

“Quando olhares para o céu de noite, eu estarei habitante numa delas e estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por teres me conhecido”

Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe

 

As pessoas têm restrições para falar da morte e dificuldades para lidar com os momentos finais daquelas com quem convivemos. Certa vez, fui visitar o pai de uma amiga que estava internado em um asilo e, tão logo cheguei, no saguão de entrada, vi fotos de internos, já bem velhos, acamados e impossibilitados de se locomoverem de modo independente. Alguns visitantes, como eu, demonstravam um triste espanto. Repentinamente passou uma enfermeira e chamou a atenção de todos para o fato de que eles tinham passado pela vida e, naquele momento em que a fotografia fora tirada, estavam findando. Cumpriram o ciclo da existência. As palavras contundentes daquela mulher me foram educativas e reforçaram o que sempre soube e neguei: a morte fará parte da minha vida.

Nascimento e morte são os exatos momentos em que sofremos as maiores transmutações. Na natureza, a cada dia, vivenciamos o amanhecer e o anoitecer. Como é belo ir ao Arpoador, no Rio de janeiro, para assistir ao pôr do sol, principalmente no verão quando as pessoas chegam a bater palmas quando o sol desaparece atrás da Pedra da Gávea. Diferentemente na vida individual, o findar é doloroso, mesmo para os familiares e amigos daqueles que viveram com plenitude.

A questão da morte vai além do fato biológico e descortina a amplitude dos sentimentos inerentes à ausência, ao desaparecer de alguém com quem temos relações de afeto. O lidar com sentimentos que cercam o quarto que fica vazio, o animal que perde o dono, a mãe que nunca mais verá o filho são desoladores. Um abraço, um consolo, um olhar que acalente é sempre sustentador. Um livro também o é.

Está em minhas mãos o livro de contos da Flávia Savary, “É de morte!” Segundo a autora, “é um livro sobre a vida” em que o leitor se depara com os “desdobramentos e ecos que a morte produz nas personagens”. Os contos narram situações em que a morte é o tema central e podem ser lidos por jovens e adultos.

Uma questão me inquieta. Ao escrever este texto uma inquietante dúvida me invade: estou diante da vida ou da morte? Questão nunca resolvida e que me é desafiadora.

Eis a questão apresentada por Shakespeare: o eterno dilema do ser ou não ser ou não ser. E, aqui, ao escrever a coluna me parece a metáfora da interminável dúvida: viver ou morrer?

Pois bem, parei de escrever e fui fritar uma omelete para o jantar. Fui à cozinha tentando decidir se pararia de ser escritora e me tornaria cozinheira. Se gostaria de continuar a viver ou morrer. Com a cabeça enrolada e a vontade de comer a omelete crescendo, acho que naturalmente me transmutei de escritora a cozinheira e decidi viver. Não matei a escritora, se bem que na cabeça estivessem fumegando grandes dúvidas existenciais. A escritora mereceria descansar. E aí surgiu a cozinheira, mestre em quebrar ovos e fazer omeletes de todos as maneiras.  Renasceu a cozinheira pela decisão de jantar e saborear uma omelete recheada com frango, acompanhada de salada e suco de laranja com limão. Se a cozinheira quisesse morrer, certamente iria fazer uma fritada de ovos mexidos, mas não uma omelete gorda, bonita de se ver e comer. Como a escritora está adormecida, a palavra omelete danou a ser repetida. Ich!

Flávia Savary tem razão. Pensar na morte é tomar a consciência de que a vida é para ser vivida.

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