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Um encontro com Cristo no deserto para reconstruir o homem e o mundo

segunda-feira, 13 de março de 2023

Vivemos num mundo agitado, com muita pressa, desgaste das pessoas, barulho e movimentos de interesse e produção para ganhar dinheiro, poder e prazer. Somos atacados por todos os lados por propagandas, marketing, poluições visuais e sonoras, notícias sobre violência, injustiças, mortes e maldades. A era da informação vai mergulhando os seres humanos num jogo quase inconsciente de conexões, compartilhamentos, aprisionamentos tecnológicos que isolam a pessoa, afastando-a de um verdadeiro "encontro" com o outro.

Vivemos num mundo agitado, com muita pressa, desgaste das pessoas, barulho e movimentos de interesse e produção para ganhar dinheiro, poder e prazer. Somos atacados por todos os lados por propagandas, marketing, poluições visuais e sonoras, notícias sobre violência, injustiças, mortes e maldades. A era da informação vai mergulhando os seres humanos num jogo quase inconsciente de conexões, compartilhamentos, aprisionamentos tecnológicos que isolam a pessoa, afastando-a de um verdadeiro "encontro" com o outro. O próprio pastoreio e a espiritualidade podem ficar perdidos e abandonados em meio a tanto sufocamento de atividades, planejamentos e saturação de material midiático.

É necessário romper este ritmo frenético e inquieto, ansioso e angustiado, que no fundo reflete um vazio na alma. É preciso silenciar dentro do coração o sentido mais profundo de ser e de viver nesta missão terrestre. Fazer uma importante quaresma existencial, numa atitude prolongada de reflexão, oração, contemplação e gratuidade. Rezar... há quanto tempo não paro para, calmamente, sem olhar para o relógio, ficar em oração? Meditar a Palavra de Deus, saboreando sua força e sua sabedoria, alimentando o espírito com a confirmação da graça do Senhor, fortalecendo-me para dizer não ao mal e praticar sempre as boas obras do Reino?

Este é um bom tempo - a Quaresma -, uma ótima oportunidade para pararmos e olharmos para dentro de nós mesmos e percebermos o que deve mudar para sermos mais felizes, nos conformando com a "imagem e semelhança" divina que está gravada em nós, desde a criação e com a dignidade de filhos de Deus que nos foi transmitida pelo sacrifício redentor de Jesus Cristo, lavando-nos de todo pecado e nos abrindo as portas da salvação eterna.

Somente no encontro com o nosso eu, dentro de nós, no diálogo com o rosto amigo do Senhor, é que conseguiremos descobrir a nossa identidade mais pura e verdadeira, sem maquiagens, sem protocolos, sem máscaras. A nossa pessoa autêntica, amada infinitamente por Deus e pronta, segura também para amar o próximo com este amor gratuito. Um retiro. Isto mesmo. Precisamos de uma pausa de quando em quando na caminhada e na luta da vida para nos recompormos espiritualmente, recarregar a bateria do ideal, da missão impulsionada por Cristo, preparando a grande Páscoa do Redentor na nossa história.

Então, estaremos mais aptos para servir como Jesus serviu. Com total entrega e profunda caridade. Tomando a dianteira nos gestos e atos de misericórdia e doação pelos irmãos, especialmente os mais marginalizados e feridos, os mais frágeis e excluídos, os que passam fome, como nos propõe a Campanha da Fraternidade deste ano, na missão conjunta pelo bem comum.

A  partir do exemplo amoroso e libertador de Jesus Cristo, devemos assumir a nossa participação na construção de uma família social mais justa e solidária, onde a cidadania não esteja separada da santidade, mas ao contrário seja a sua consequência e sinal, prefigurando a cidadania do céu, onde, definitivamente, não haverá desigualdades, nem exploração do homem pelo homem, nem violações de direitos, nem discriminações, nem qualquer outro tipo de pecado pessoal nem corporativo ou social. A paz, a verdade e a justiça do Reino de Deus se abraçarão, plantadas já aqui, muitas vezes no deserto das máquinas ou numa selva de manequins. Mas nunca devemos abandonar o cajado e nem perder a alegria do anúncio do Evangelho revitalizador, com a graça do Senhor.  

Esforcemo-nos cada vez mais, nesta conversão pessoal, comunitária, pastoral e "ecológica" para servir mais e melhor à comunicação transformadora do Coração Misericordioso de Cristo.

 Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Quaresma: Tempo também para a conversão ecológica

segunda-feira, 06 de março de 2023

O pecado do homem de virar as costas para Deus, criou desordem não só na consciência, na integridade pessoal, não só na convivência social e relacionamento com o próximo, gerando desigualdades e injustiças, mas também causou um desequilíbrio na sua própria relação com a natureza.

A volta à unidade com a natureza, a casa comum

O pecado do homem de virar as costas para Deus, criou desordem não só na consciência, na integridade pessoal, não só na convivência social e relacionamento com o próximo, gerando desigualdades e injustiças, mas também causou um desequilíbrio na sua própria relação com a natureza.

A volta à unidade com a natureza, a casa comum

O ser humano, saindo da harmonia do Criador, perdeu também o senso de respeito e integração com a casa natural. As agressões cresceram à vegetação, às águas, aos animais, ao ar, à camada de ozônio, aos ecossistemas. Do egoísmo cego surge um galopante desmatamento, uma inconsciente degradação do solo, queimadas, poluição volumosa, contaminando e comprometendo os recursos hídricos, envenenando o ar, causando a maior incidência de raios solares e o aquecimento global. Avança a caça irracional, a pesca predatória, levando a extinção das espécies e a desorganização, o desequilíbrio ecológico. É o pecado de quem olha só para o seu interesse e para o seu imediato lucro ou vantagem, não se importando com os danos ao meio ambiente e consequentemente aos seres humanos.

Todos estes vários cenários estão indicados com profundidade e riqueza na Encíclica Social do Papa Francisco, a Laudato si, como em diversas campanhas da fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), recordando e conscientizando de que é preciso preservar o que é de todos, a casa comum, a água, a terra, os biomas, especialmente a Amazônia... e no centro da Ecologia, o ser humano, totalmente integrado à ela, os indígenas, as populações ribeirinhas, os quilombolas, os pobres e miseráveis, os privados dos bens naturais, sedentos e famintos, os excluídos do sistema capitalista materialista, que devem ser resgatados e promovidos em sua dignidade de imagem e semelhança de Deus, filhos do Criador, irmãos do Redentor, templos do Espírito Santo.

É necessário criar uma generalizada consciência de responsabilidade ecológica, como um ato de conversão, de volta à sintonia com o plano da criação no respeito à ordem natural. Preservar a imensa riqueza da biodiversidade. Combater as agressões diversas. Promover a educação ambiental, como valorização e defesa da vida e da saúde de toda a comunidade social. Saber cuidar como o nosso irmão São Francisco da irmã natureza, como sagrado sinal da bondade e graça do Deus-Amor.

É importante protegermos a Amazônia grande reserva de vida da humanidade. Mas, também, devemos identificar as "nossas amazônias" bem perto de nós, na nossa cidade e região, os rios, as bacias, as matas, os impactos ambientais de empreendimentos industriais, comerciais, habitacionais, muitas vezes desastrosos, as campanhas que devemos fazer para manter a casa comum com todo equilíbrio para a vida e saúde de todos. Peçamos perdão ao Senhor pelas vezes em que nos omitimos na defesa da vida e da ordem natural, causando assim um grande mal a tantos irmãos, permitindo que a morte prevalecesse. Pelas vezes em que mesmo praticamos destruição ao meio ambiente, colaborando com projetos irresponsáveis no sentido ecológico. Pelas vezes em que nos esquecemos do ser humano não valorizando e protegendo a sua dignidade e vida desde a concepção até a morte natural, não lutando por seus direitos e integridade.

Queiramos a conversão total, não só um ponto ou outro. Busquemos a libertação integral, até porque não se pode separar uma postura da outra. São uma trindade. É na mudança da mentalidade e atitude fundante da estrutura pessoal que iremos reformar e transformar o social num espírito de comunhão e integração com toda a natureza criada. No respeito ao plano do Criador e seguindo o modelo do Salvador, no sopro do Espírito.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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Quaresma: Tempo de conversão pessoal, comunitária, pastoral

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

A quaresma é um tempo litúrgico da Igreja de 40 dias de preparação para a Páscoa, que se torna propício para uma reflexão mais aprofundada sobre a nossa vida espiritual, para nos arrependermos de nossos pecados e nos reaproximarmos da graça de Deus, numa conversão pessoal, social e pastoral.

A volta à unidade com Deus e com a própria consciência

A quaresma é um tempo litúrgico da Igreja de 40 dias de preparação para a Páscoa, que se torna propício para uma reflexão mais aprofundada sobre a nossa vida espiritual, para nos arrependermos de nossos pecados e nos reaproximarmos da graça de Deus, numa conversão pessoal, social e pastoral.

A volta à unidade com Deus e com a própria consciência

O afastamento de Deus, a falta de oração, a vaidade, a confiança demasiada nas próprias forças e capacidades, a frieza e indiferença ao projeto de Deus. Tudo isso faz com que nos percamos em nossos próprios planos e interesses e coloquemos pouco a pouco a Palavra de Deus em segundo lugar. Aí servimos não mais ao Senhor, mas a nós mesmos. Sem a referência da verdade de Deus, nos desfiguramos, desintegramos nossa personalidade, quebramos a nossa integridade, desrespeitamos a nossa dignidade, violamos a nossa própria consciência.

É preciso voltar à comunhão com Deus, com humildade, pela entrega na oração, agradecendo pelos dons e capacidades, bebendo da misericórdia divina, harmonizando o coração, reequilibrando a razão interior para ser verdadeiro discípulo e missionário, com a dignidade de filhos de Deus, reluzente, com uma só face, na paz de quem segue o Mestre que é o Caminho, Verdade e Vida. Peçamos perdão ao Senhor por nos afastarmos da Sua Luz e nos enfraquecermos. Por nos distanciarmos da Sua Força e nos enchermos de trevas e confusão. Por nos desintegrarmos, sem a Sua verdade, enchendo-nos de mentiras e justificativas para nossas vaidades.

 A volta à unidade com os irmãos

Quando nos fechamos a Deus, perdemos a nossa referência ética, nos escravizamos ao nosso próprio egoísmo e queremos virar o centro de tudo, relativizando os princípios morais, conforme a nossa conveniência. Isto, é claro, nos afasta também dos outros. Pois, sem vermos Deus como Pai, já não os vemos como irmãos, mas simplesmente como "concorrentes" que devem ser derrotados. Ou por nos sentirmos maiores ou melhores, os vemos apenas como peças manipuladas para o aumento do nosso poder, do nosso prazer ou nosso dinheiro.

Esta tríplice idolatria já fora acusada na III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Celam) em Puebla, em 1979. E a realidade de uma multidão de excluídos e da indignidade da miséria de muitos lázaros no continente latino-americano, com enormes desigualdades sociais, já havia sido apontada na II Conferência em Medellín, em 1968. Tudo fruto da ambição, da soberba, da falta de amor ao próximo, pela falta de amor a Deus e de reconhecimento de sua vontade como verdade da ética pessoal e social.

Também o fechamento em si mesmo, nos torna insensíveis à cultura dos outros, nos achando "superiores", na autoidolatria de nossa linguagem, nossas expressões e valores, querendo impô-los aos irmãos. É o caso das discriminações culturais, étnicas, por motivos físicos, sociais, entre outros. Menospreza-se o negro, o indígena, o pobre, a pessoa com deficiência... E estamos, muitas vezes, bloqueados no coração e na razão para a inculturação do Evangelho, ou seja, a evangelização a partir das "sementes do Verbo", das riquezas e valores próprios do Bem de cada cultura, na autêntica promoção humana.

Sobre isto nos falou a IV Conferência de Santo Domingo, em 1992. Na linha do discipulado missionário, a partir de Cristo, modelo perfeito de amor e doação ao próximo, o qual deve provocar em nossas comunidades uma verdadeira conversão pastoral, como apresentou a V Conferência de Aparecida, em 2007. 

Peçamos perdão ao Senhor e mostremos a Ele que queremos voltar à unidade com os nossos irmãos, na solidariedade, no amor fraterno que nos leva a uma autêntica opção preferencial pelos mais pobres e o abandono de todas as vaidades e ambições. Queremos ser discípulos missionários, despojados de toda ilusão de poder, de toda embriaguez dos prazeres e de todo apego ao dinheiro.

Queremos compreender os valores de cada cultura, de cada irmão, com a humildade e a compaixão de Cristo, aproveitando de cada realidade as sementes divinas espalhadas na sabedoria da criação, livres de toda soberba, preconceito ou sentimento de superioridade em relação aos outros.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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Apresentação da Campanha da Fraternidade 2023: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Caros irmãos, aproxima-se a Campanha da Fraternidade 2023 (CF). Por este motivo, trazemos para a reflexão desta semana a apresentação do Texto Base da CF-2023, de autoria da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Caros irmãos, aproxima-se a Campanha da Fraternidade 2023 (CF). Por este motivo, trazemos para a reflexão desta semana a apresentação do Texto Base da CF-2023, de autoria da Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A Campanha da Fraternidade é o modo brasileiro de celebrar a Quaresma. Ela não esgota a Quaresma. Dá-lhe, porém, o tom, mostrando, a partir de uma situação bem específica, o que o pecado pode fazer quando não o enfrentamos. Por isso, a cada ano, recebemos um convite para viver a Quaresma à luz da Campanha da Fraternidade e viver a Campanha da Fraternidade em espírito de conversão pessoal, comunitária e social.

Este ano, com o tema “Fraternidade e Fome”, somos convocados a considerar a fome como referência para nossa reflexão e nosso propósito de conversão. Temos, sem dúvida, fome de Deus. Desejamos estar com Ele e poder participar de seu amor e de sua misericórdia. Temos fome de paz, fraternidade, verdade, concórdia e tudo mais que efetivamente nos humaniza. Durante o tempo da pandemia, no qual, por medidas sanitárias que buscavam nos preservar, não pudemos ir às igrejas para comungar, sentimos fome do Pão do Céu.

A fome, bem sabemos, é um ato de preservação. É um sinal para que não nos distraiamos quando nosso organismo sente falta do necessário para viver. O que ocorre, porém, quando o alimento não chega a todo ser humano? O que faz uma sociedade ter filhos e filhas a quem, embora busquem, clamem, gritem e chorem, não chega o alimento? Por isso, a fome é também um desafio social, humanitário, uma situação que não se pode deixar de enfrentar, pois a fome de uns – a fome de uma só pessoa! – onera a todos nós, onera a sociedade inteira. Cada ser humano que não encontra o necessário para se alimentar é, em si, um questionamento a respeito dos rumos que estamos dando a nós mesmos e à nossa sociedade. A fome é um dos resultados mais cruéis da desigualdade. Afeta inicialmente os mais necessitados. Atende, contudo, a todos, diz respeito à sociedade inteira. Esta é a razão pela qual o Papa Francisco, sem rodeiros, afirma que “não há democracia se existe fome".

E o Brasil sente fome. Milhões de brasileiros e brasileiras experimentam a triste e humilhante situação de não poder se alimentar nem dar aos seus filhos e filhas o alimento indispensável a cada dia. Por isso, a CNBB apresenta, pela terceira vez, o tema da fome para a Campanha da Fraternidade (1975, 1985 e 2023).

Que, portanto, esta Quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Que nosso jejum abra nosso coração aos irmãos e irmãs que sofrem com a fome. Que nossa solidariedade seja intensificada. Que saibamos encontrar soluções criativas para a superação da fome, seja no nível mais imediato, assistencial, seja no nível de toda a sociedade. Que efetivamente se cumpra a responsabilidade dos governantes, em seus diversos níveis, concretizado políticas públicas, principalmente as de estado, que atinjam a raiz deste vergonhoso flagelo, garantindo não apenas a produção de alimentos, mas também que eles cheguem a cada pessoa, em especial as mais fragilizadas. Que o Senhor Jesus nos possa um dia dizer: “Vinde (...) eu estava com fome, e me destes de comer; todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 34.40).

Abençoada Quaresma! Intensa Campanha da Fraternidade! Santo caminho até a Páscoa do Senhor, na oração, no jejum e na misericórdia.

Presidência da CNBB

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“Trata bem dele”

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Caros irmãos, nesta semana, trazemos como reflexão uma síntese da Mensagem do Papa Francisco para o XXXI Dia Mundial do Doente, celebrado neste sábado, 11, cujo tema é: “Trata bem dele”! A compaixão como exercício sinodal de cura.

Caros irmãos, nesta semana, trazemos como reflexão uma síntese da Mensagem do Papa Francisco para o XXXI Dia Mundial do Doente, celebrado neste sábado, 11, cujo tema é: “Trata bem dele”! A compaixão como exercício sinodal de cura.

A doença faz parte da nossa experiência humana. Mas pode tornar-se desumana, se for vivida no isolamento e no abandono, se não for acompanhada pelo desvelo e a compaixão. Ao caminhar juntos, é normal que alguém se sinta mal, tenha de parar pelo cansaço ou por qualquer percalço no percurso. É em tais momentos que se vê como estamos a caminhar: se é verdadeiramente um caminhar juntos, ou se se vai na mesma estrada, mas cada um por conta própria, cuidando dos próprios interesses e deixando que os outros «se arranjem». Por isso, neste XXXI Dia Mundial do Doente e em pleno percurso sinodal, convido-vos a refletir sobre o fato de podermos aprender, precisamente através da experiência da fragilidade e da doença, a caminhar juntos segundo o estilo de Deus, que é proximidade, compaixão e ternura.

O livro do profeta Ezequiel oferece-nos um grande oráculo, que constitui um dos pontos culminantes de toda a Revelação, e lá o Senhor fala assim: «Sou Eu que apascentarei as minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar – oráculo do Senhor Deus. Procurarei aquela que se tinha perdido, reconduzirei a que se tinha tresmalhado; cuidarei a que está ferida e tratarei da que está doente (...). A todas apascentarei com justiça» (34, 15-16). Naturalmente as experiências do extravio, da doença e da fragilidade fazem parte do nosso caminho: não nos excluem do povo de Deus; pelo contrário, colocam-nos no centro da solicitude do Senhor. Trata-se, pois, de aprender com Ele a ser verdadeiramente uma comunidade que caminha em conjunto, capaz de não se deixar contagiar pela cultura do descarte.

Como sabeis, a encíclica Fratelli tutti propõe uma leitura atualizada da parábola do Bom Samaritano (cf. nº 56). Escolhi-a como ponto de viragem para se poder sair das «sombras dum mundo fechado» (cap. I) e «pensar e gerar um mundo aberto» (cap. III). Com efeito, há uma profunda conexão entre esta parábola de Jesus e as múltiplas formas em que é negada hoje a fraternidade. Não é fácil distinguir os atentados à vida e à sua dignidade que provêm de causas naturais e, ao invés, aqueles que são provocados por injustiças e violências. Cada doença realiza-se numa «cultura» por entre as suas contradições.

Entretanto, o que importa aqui é reconhecer a condição de solidão, de abandono. Trata-se duma atrocidade que pode ser superada antes de qualquer outra injustiça, porque, para eliminá-la - como conta a parábola - basta um momento de atenção, o movimento interior da compaixão. Dois transeuntes, considerados religiosos, vêem o ferido e não param. Mas o terceiro, um samaritano, alguém que é objeto de desprezo, deixa-se mover pela compaixão e cuida daquele estranho na estrada, tratando-o como irmão. Procedendo assim, sem pensar sequer, muda as coisas, gera um mundo mais fraterno.

Nunca estamos preparados para a doença. Tememos a vulnerabilidade e a invasiva cultura do mercado impele-nos a negá-la. Não há espaço para a fragilidade. Então pode acontecer que os outros nos abandonem, ou nos pareça que devemos abandoná-los a fim de não nos sentirem um peso para eles. Começa assim a solidão. Na realidade, sentimos dificuldade de permanecer em paz com Deus, quando se arruína a relação com os outros e com nós próprios. Por isso é tão importante, relativamente também à doença, que toda a Igreja se confronte com o exemplo evangélico do bom samaritano, para se tornar um válido «hospital de campanha»: com efeito a sua missão, especialmente nas circunstâncias históricas que atravessamos, exprime-se na prestação de cuidados.

De fato, o Dia Mundial do Doente não convida apenas à oração e à proximidade com os que sofrem, mas visa ao mesmo tempo sensibilizar o povo de Deus, as instituições de saúde e a sociedade civil para uma nova forma de avançar juntos.

Os anos da pandemia aumentaram o nosso sentimento de gratidão por quem diariamente trabalha em prol da saúde e da investigação médica. Mas, ao sair de uma tragédia coletiva assim tão grande, não é suficiente prestar honras aos heróis. A covid-19 pôs à prova esta grande rede de competências e solidariedade e mostrou os limites estruturais dos sistemas de assistência social existentes. Por isso, é necessário que a gratidão seja acompanhada, em cada país, pela busca ativa de estratégias e recursos a fim de garantir a todo o ser humano o acesso aos cuidados médicos e o direito fundamental à saúde.

«Trata bem dele!» (Lc 10, 35): é a recomendação do samaritano ao estalajadeiro. Mas Jesus repete-a igualmente a cada um de nós na exortação conclusiva: «Vai e faz tu também o mesmo». Efetivamente «fomos criados para a plenitude que só se alcança no amor. Viver indiferente à dor não é uma opção possível» (Fratelli tutti nº 68). As pessoas doentes estão no âmago do povo de Deus, que avança juntamente com eles como profecia de uma humanidade onde cada qual é precioso e ninguém deve ser descartado.

Fonte: www.vatican.va

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A comunicação pastoral é uma pessoa!

segunda-feira, 06 de fevereiro de 2023

A comunicação pastoral não é apenas uma repercussão de ideias ou um conjunto de meios e técnicas. Ela é a própria pessoa de Jesus Cristo, o verbo comunicador do Pai que fala por sua Igreja missionária no testemunho do amor que é capaz de dar a vida pelo irmão, uma transpiração de sinais e gestos concretos nascidos do coração, não do estúdio de marketing.

A comunicação pastoral não é apenas uma repercussão de ideias ou um conjunto de meios e técnicas. Ela é a própria pessoa de Jesus Cristo, o verbo comunicador do Pai que fala por sua Igreja missionária no testemunho do amor que é capaz de dar a vida pelo irmão, uma transpiração de sinais e gestos concretos nascidos do coração, não do estúdio de marketing.

Por ser comunicação do verbo redentor é a própria verdade, o conteúdo e a expressão desta atividade de evangelização. "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!" (Jo 8,32). Não é meta da comunicação eclesial simplesmente a abrangência ou o aumento dos seguidores das suas mensagens, mas o anúncio, oportuna e inoportunamente, da verdade que liberta, dos valores do reino, da defesa da vida e da dignidade humana dos filhos de Deus, da justiça e da misericórdia de Cristo, geradoras da genuína paz.

Num mundo cada vez mais mergulhado em sofisticações tecnológicas para a rápida difusão e conexão das informações e notícias, podemos nos hipnotizar com os deslumbres das possiblidades de expansão das imagens e presencialização virtual, tanto impressionante quanto postiça, incapaz de substituir o encontro pessoal e a presença real, compromissada com a realidade. Como nos orienta o nosso profético Papa Francisco, devemos impulsionar uma cultura do encontro, pessoal, amorosa, do abraço, da acolhida, da escuta e diálogo fraterno, da partilha, da misericórdia e do serviço. Neste sentido, será sempre a comunhão direta e solidária o melhor sinal e ícone arrastador de multidões, caridade que se identifica com o próprio Senhor que as atraía com a luz do seu amor-doação: "Deus é Amor!"(1Jo 4,8).

O fundamento, então, de uma espiritualidade da comunicação deve ser, sobretudo, uma íntima comunhão pessoal com Jesus, escultora da sua face no rosto de cada comunicador discípulo missionário, tornando-o não só um "profissional da área" ou um expert do ciberespaço, mas antes de tudo a sua própria imagem de Cristo Pastor na vida dos irmãos, pessoas a serem salvas, muito mais do que receptores.

Nesta mística do amor que se faz próximo e se comunica, encarnando-se na natureza e na história das pessoas, como nos revela o próprio Deus criador e salvador, devemos ter uma comunicação próxima, inculturada, recriadora e restauradora da imagem e semelhança divina em todos, transformadora das estruturas históricas de escravidão, libertando as pessoas de todas as prisões, conduzindo-as à dignidade da vida plena. Seguindo o exemplo do Bom Pastor: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente" (Jo 10,10).

Haverá também momentos em que não será aceita e até ferozmente rejeitada a voz da Igreja, simplesmente por ser a mesma palavra do mestre. E isso não será símbolo de fracasso ou imperícia do comunicar, de falta de diplomacia ou de incapacidade de consenso, de fechamento à modernidade ou aos modelos e linguagens contemporâneos... Não. Ao contrário. Será a rejeição e até mesmo a perseguição, o mais autêntico sinal de que a nossa postura comunicadora é uma pessoa, que também não foi recebida em muitos testemunhos da verdade e da Justiça do Reino do Pai, foi rejeitada, caluniada, ridicularizada e, por fim, morta, por amor à salvação de todos: "Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós" (Mt 5,11).

Com esta espiritualidade de despojamento, amor à verdade, simplicidade e serviço de caridade, na comunhão e nos passos do Cristo comunicador, teremos sempre na nossa Igreja a comunicação de uma pessoa, o próprio Senhor como centro irradiador de esperança, de certeza, de ressurreição e vitória sobre toda forma de maldade, injustiça, pecado, destruição ou ruído de divisão.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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A comunicação social pastoral

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

O iluminado e sábio S. Paulo VI assinou, em 1971, a Instrução Pastoral Communio Et Progressio, concretizando um voto do Concílio Vaticano II, de um documento posterior que aprofundasse as diretrizes sobre a prática da comunicação social na Igreja.

O iluminado e sábio S. Paulo VI assinou, em 1971, a Instrução Pastoral Communio Et Progressio, concretizando um voto do Concílio Vaticano II, de um documento posterior que aprofundasse as diretrizes sobre a prática da comunicação social na Igreja. Esta instrução traz o conceito de comunicação dialógica inculturada eclesial (187) e desenvolve o tema do direito à informação e de informar (CP 32-47); insiste na educação e formação dos que recebem a comunicação, dos comunicadores, situando as oportunidades e obrigações de ambos; enfatiza o sentido da cooperação entre cidadãos e autoridades, entre as diversas nações, entre todos os cristãos, crentes e homens de boa vontade (CP 63-100) . 

Na sua abertura já há a exposição das finalidades sociais da comunicação eclesial: "... a comunhão e o progresso da convivência humana são os fins primordiais da comunicação social e dos meios que emprega, quais sejam - a imprensa, o cinema, o rádio e a televisão". "A Igreja encara os meios de comunicação social como 'dons de Deus', na medida em que ... criam laços de solidariedade entre os homens, pondo-se assim a serviço da sua vontade salvífica" (CP 2). Quase metade deste texto muito positivo trata, depois de uma breve apresentação teológica, de como os meios de comunicação contribuem e podem contribuir para o progresso da humanidade (CP 19-100).

 Ainda trabalhando o conceito de participação ativa e já antecipando o que atualmente se chama leitura crítica da comunicação, é destaque o que afirma a instrução: "O público assume um papel ativo no processo de comunicação social, sempre que criticamente julgar as notícias recebidas, tendo em conta a sua fonte e contexto sempre que não tiver medo de manifestar claramente as suas reservas, acordo ou completo desacordo com as comunicações recebidas" ( CP 82).

A partir do nº 101, frisa o empenho dos católicos no campo das comunicações sociais, com seus benefícios, acentuando a opinião pública e a mútua comunicação na vida da Igreja, no diálogo interno e com o mundo. No nº 106 trabalha a utilidade dos meios de comunicação para a propagação do Evangelho. E desenvolve no nº 162 e seguintes até a conclusão, os temas organizacionais, equipamento, pessoal, orientações e exigências pastorais, informação, planejamento e coordenação, com os instrumentos e organismos locais, diocesanos, regionais nacionais, estimulando e coordenando as atividades católicas neste campo. 

Sobre a linguagem e a qualidade dos programas sustenta que não podem ser decalque da linguagem dos púlpitos, desrespeitando a linguagem própria de cada meio. E que seria lamentável se a qualidade dos programas religiosos fosse inferior aos demais programas de uma emissora (cf n. 128).

Importante ressaltar o Dia Mundial das Comunicações Sociais (CP 167-168), instituído pelo decreto conciliar Inter Mirifica e que passou a ser celebrado anualmente, a partir de 1967, com uma mensagem pontifícia, marco referencial para comunicadores e todas as pessoas comprometidas com a transformação da sociedade, conforme os valores humanos e cristãos.

 Muito mais poderíamos falar sobre o tema nos documentos do Magistério da Igreja, sob o pontificado de S. Paulo VI e ainda sobre os dos papas posteriores, como o grande comunicador e missionário S. João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Mas abordaremos sobre isto nos próximos artigos.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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A comunicação na missão da Igreja em sua dimensão social

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Já afirmamos a importância do Decreto do Concílio Vaticano II sobre os Meios de Comunicação Social, o Inter Mirifica, e da mudança de sua perspectiva em relação à comunicação, vendo-a não como técnica de difusão apenas ou meio massivo de abrangência, mas como instrumento de interação social, considerando todos os atos humanos relacionais na sua dimensão social, preocupação primeira da Igreja na sua missão de evangelizar.

Já afirmamos a importância do Decreto do Concílio Vaticano II sobre os Meios de Comunicação Social, o Inter Mirifica, e da mudança de sua perspectiva em relação à comunicação, vendo-a não como técnica de difusão apenas ou meio massivo de abrangência, mas como instrumento de interação social, considerando todos os atos humanos relacionais na sua dimensão social, preocupação primeira da Igreja na sua missão de evangelizar. Esta atitude positiva da Igreja já se mostrava, na verdade, desde 1931, com a criação pela própria Igreja da Rádio Vaticano, confiada aos jesuítas, com programas em 45 idiomas, divulgando a mensagem cristã e informando sobre a vida da Igreja. Mas com o decreto conciliar se tornou um paradigma teórico magisterial num documento inédito dedicado integralmente à comunicação, num concílio ecumênico.

Esta dimensão social da comunicação missionária eclesial é apresentada já na encíclica de S. João XXIII, Mater et Magistra (Mãe e Mestra), reafirmada depois na Constituição conciliar Pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) sobre a missão da Igreja no mundo (1965): "Em nossa época, por várias causas, as relações mútuas e as interdependências se multiplicam incessantemente (...) Este fenômeno que recebe o nome de socialização, embora contenha muitos perigos, oferece, contudo, grandes vantagens para consolidar e desenvolver as qualidades da pessoa humana e garantir seus direitos (MM 59 e GS 25).

Também já frisamos como foi rica e revolucionária a contribuição do Inter Mirifica (4/12/1963) colocando como direito humano fundamental o direito de informação ou comunicação que faz eco à outra encíclica social de São João XXIII, a Pacem In Terris (11/04/1963) que o define como "o direito de todo ser humano a uma informação objetiva" (PT 12). São Paulo VI irá reforçá-lo num pronunciamento às Nações Unidas em 1964, afirmando que "o direito à informação é um direito universal, inviolável e inalterável do homem moderno, pois está fundado na própria natureza do homem".

A visão positiva e global da comunicação como espaço de diálogo e interação humana é a ponte para o conceito moderno de comunicação. Seguindo esta perspectiva inovadora que se opõe à concepção passiva e tradicional de emissor, canal, receptor, além do decreto conciliar, a Encíclica Ecclesiam Suam de S. Paulo VI (1964) se dirige para a comunicação circular, dialógica, em que todos são sujeitos, envolvidos no processo comunicacional. Neste contexto de missão evangelizadora, o diálogo se apresenta em quatro níveis na Encíclica - o diálogo dos católicos entre si, com os cristãos não católicos, com os fiéis de outras religiões e também com os não crentes.

A comunicação da Igreja assume no seu aspecto dialogal missionário o caráter de comunhão e busca da comunhão nos valores humanos e da fé religiosa e cristã, fundamentada nos princípios do evangélico ecumenismo e do diálogo inter-religioso, consignados no Concílio Vaticano II, especialmente no decreto Unitatis Redintegratio (sobre a reintegração da unidade - 1964) e a Declaração Nostrae Aetate (sobre a Igreja e as religiões não-cristãs - 1965), sempre no respeito à liberdade religiosa e à inviolabilidade da consciência humana, conforme o decreto conciliar Dignitatis Humanae (1965).

São textos que devem ser conhecidos por nós e aplicados em nossa vida eclesial, pastoral, na comunicação dos valores do Reino de Deus para a realização inculturada da nossa missão, transformando a sociedade com mais justiça, fraternidade e paz.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo 

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A comunicação da Igreja após o Concílio Vaticano II

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Logo após o Vaticano II, com o seu decreto Inter Mirifica sobre os meios de comunicação social, destaca-se  a encíclica Evangeli Nuntiandi (1975), de Paulo VI, sobre a evangelização e a comunicação da fé, por meios adaptados, no testemunho de total entrega a Deus, de solidariedade e amor ao próximo, "de pobreza, de desapego e liberdade ante aos poderes deste mundo, numa palavra, testemunho de santidade" (En 41).

Logo após o Vaticano II, com o seu decreto Inter Mirifica sobre os meios de comunicação social, destaca-se  a encíclica Evangeli Nuntiandi (1975), de Paulo VI, sobre a evangelização e a comunicação da fé, por meios adaptados, no testemunho de total entrega a Deus, de solidariedade e amor ao próximo, "de pobreza, de desapego e liberdade ante aos poderes deste mundo, numa palavra, testemunho de santidade" (En 41).

As conferências episcopais latinoamericanas (Celam) desde Medellin (1968) também impostaram este tema firmado na Gaudium Et Spes, constituição pastoral do Concílio Vaticano II, que apresenta a missão da Igreja no mundo, mergulhando nas culturas, salgando e iluminando as diversas esferas sociais, solidária às "alegrias e esperanças, tristezas e angústias do ser humano de cada tempo, notadamente dos que sofrem" (GS 1). Puebla, em 1979, reafirma esta opção preferencial de Jesus de libertar integralmente a pessoa humana, na sensibilidade aos mais pobres, superando os pecados pessoais e sociais, as estruturas injustas.

Evangelizar é comunicar a vida plena. Santo Domingo (em 1992) resgata o aspecto da cultura e a marca cristã, a religiosidade e a nova evangelização em comunhão com a promoção humana, colocando os meios de comunicação social como prioridade para a pastoral eclesial na América Latina e Caribe. O Departamento de Comunicação Social do Celam (Decos) vem repropondo esta posição em vários documentos, ressaltando as atitudes de escuta e diálogo em relação às culturas e a importância de um planejamento da Pastoral da Comunicação. O Documento de Aparecida (2007) declara que é preciso conhecer e valorizar a cultura da comunicação (DA 484 ss).

Para um aprofundamento do tema da comunicação na Igreja, é importante o estudo ainda de duas instruções  pastorais do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais: a Communio Et Progressio (1971), promulgada por determinação do Concílio Vaticano II , como um posterior esclarecimento,  sobre os detalhes e encaminhamentos, o qual se tornou um marco na orientação do processo comunicacional eclesial; e Aetatis Novae (1992), enfocando os meios de comunicação como um serviço à cultura e à evangelização, apresentando os desafios e propondo a elaboração dos planos de Pastoral da Comunicação. O Conselho Pontifício tem, ao longo dos anos, oferecido vários textos de orientação, dentre eles, Ética na Publicidade (1997), Ética nas Comunicações Sociais (2000), Igreja e Internet e Ética na Internet (2002), dentre outros.

No Brasil, a CNBB apresentou sua colaboração específica na Campanha da Fraternidade de 1989, com o texto Comunicação para a Verdade e a Paz; ainda com Comunicação e Igreja no Brasil (1994); Igreja e Comunicação – Rumo ao novo milênio (1997). E, ultimamente, com o valioso Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (2014) que deve ser estudado por todos para a implementação e o trabalho da Pastoral da Comunicação, propondo quatro eixos: formação, articulação, produção e espiritualidade. Também a Campanha da Fraternidade deste ano nos convoca a uma reflexão sobre a Igreja em sua relação de comunicação, diálogo com a sociedade, no testemunho da solidariedade e promoção humana, buscando a unidade e a paz. Gostaríamos de concluir esta contribuição, com dois textos, um do Papa S. João Paulo II e outro da Instrução Aetatis Novae:

"O primeiro areópago dos tempos modernos: o mundo das comunicações"

"Talvez se tenha descuidado um pouco deste areópago: deu-se preferência a outros instrumentos no anúncio evangélico e para a formação, enquanto os meios de comunicação foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entrando secundariamente na programação pastoral" (Redemptoris Missio, 37).

Sobre o planejamento pastoral

"Não é suficiente ter um Plano de Pastoral da Comunicação, mas é necessário que a comunicação faça parte integrante de todos os planos pastorais, visto que a comunicação tem, de fato, um contributo a dar a qualquer outro apostolado, ministério ou programa" (AN 17).

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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A comunicação na missão evangelizadora da Igreja

segunda-feira, 09 de janeiro de 2023

A comunicação está na base de toda a missão da Igreja de evangelizar, cumprindo o mandato de Cristo (cf Mt 28,19). Por isso, é prioridade que organizemos a nossa Pastoral da Comunicação, como nos impelem há mais de 50 anos os documentos do Magistério Eclesiástico.

A comunicação está na base de toda a missão da Igreja de evangelizar, cumprindo o mandato de Cristo (cf Mt 28,19). Por isso, é prioridade que organizemos a nossa Pastoral da Comunicação, como nos impelem há mais de 50 anos os documentos do Magistério Eclesiástico.

Já o Papa Pio XII, em 1957, em sua encíclica Miranda Prorsus, sobre os meios de comunicação social e os maravilhosos progressos técnicos, reforçava a preocupação do papa com o cinema e o seu acompanhamento moral cristão, expressa na primeira encíclica sobre meios eletrônicos: a Vigilant Cura. Mas avança um pouco mais, com a proposta de "educação das massas"(os receptores), com a necessidade de se criar "organismos nacionais", cuja missão "não será somente a de preservar e defender, mas também, e sobretudo, a de dirigir, coordenar e prestar assistência às numerosas obras educativas que têm surgido nos vários países para servir de fermento do espírito cristão, num setor complexo e vasto como o das técnicas difusoras."

Propunha um "espírito novo de apostolado em campo tão rico de promessas" (MP 160-161). Era o mundo do cinema, do desenvolvimento do rádio e surgimento da televisão. O próprio Pio XII se destacou com suas radiomensagens e um novo modo de relação do papa com os fiéis de todo o orbe.

O decreto Inter Mirifica, de 1963, um dos 16 documentos do Concílio Vaticano II, evento que renovou pastoralmente toda a nossa Igreja, apresenta a opção por uma comunicação aberta ao diálogo com o mundo, a sociedade e suas tecnologias, em todos os âmbitos da vida eclesial e nas suas relações com o quadro social moderno e seus desafios. Substituiu as expressões que acentuavam a tecnicidade da transmissão (mass media, comunicação de massa, técnicas de difusão...) por palavras que traduzissem a relação entre pessoas, no sentido mais ético e cultural. Por isso, frisou a "comunicação social", onde o ser humano é a meta, acima dos instrumentos, tema realçado pelo Papa Francisco, atualmente, em seu ensinamento, especialmente na Evangeli Gaudium, como relações humanas de uma "cultura do encontro".

O decreto conciliar frisa ainda a formação específica do pessoal eclesiástico, envolvendo os profissionais leigos, com uma cuidadosa educação (cf IM 15-16). Cria também o Dia Mundial das Comunicações, comemorado anualmente desde 1967, no domingo entre a Ascensão do Senhor e Pentecostes. A mensagem que norteia a celebração do Dia Mundial das Comunicações é sempre publicada em 24 de janeiro, Dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.

Em 2014, foi exatamente sobre a cultura do encontro. Em 2015, o Papa Francisco nos brindou com o tema: "Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor", em sintonia com o processo dos dois Sínodos sobre a família, um extraordinário e outro ordinário. Nos anos seguintes, sobre a Comunicação e misericórdia, fake news e o jornalismo de paz, dentre outros temas. Será muito proveitosa a leitura destas mensagens desde S. Paulo VI até hoje, compreendendo o caminho da Igreja na sua missão de comunicar.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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