Blog de jornalismodiocesenf_28755

"Não tenham medo!"

segunda-feira, 07 de agosto de 2023

Na manhã deste último domingo, 06 de agosto, o Papa Francisco presidiu a celebração da Santa Missa para a Jornada Mundial da Juventude, no Parque Tejo, em Lisboa. Eis sua homilia:

“Senhor, é bom estarmos aqui!” (Mt 17, 4). Estas palavras, que o Apóstolo Pedro disse a Jesus no Monte da Transfiguração, nós também queremos fazê-las nossas depois destes dias intensos. É lindo o que vivemos com Jesus, o que vivemos juntos e é lindo como rezamos, e com tanta alegria no coração. E então podemos nos perguntar: Que levamos conosco quando regressarmos ao vale da vida quotidiana?

Na manhã deste último domingo, 06 de agosto, o Papa Francisco presidiu a celebração da Santa Missa para a Jornada Mundial da Juventude, no Parque Tejo, em Lisboa. Eis sua homilia:

“Senhor, é bom estarmos aqui!” (Mt 17, 4). Estas palavras, que o Apóstolo Pedro disse a Jesus no Monte da Transfiguração, nós também queremos fazê-las nossas depois destes dias intensos. É lindo o que vivemos com Jesus, o que vivemos juntos e é lindo como rezamos, e com tanta alegria no coração. E então podemos nos perguntar: Que levamos conosco quando regressarmos ao vale da vida quotidiana?

Gostaria de responder a esta pergunta com três verbos, seguindo o Evangelho que ouvimos: O que levamos conosco? Resplandecer, ouvir e não ter medo. Eu respondo com estas três palavras: Resplandecer, escutar e não ter medo. Primeiro resplandecer. “Jesus transfigura-se, o Evangelho que o seu rosto resplandecia como o sol” (Mt 17,2). Ele havia anunciado há pouco sua paixão e morte na cruz, e com isso quebrou a imagem de um Messias poderoso e mundano, e frustra as expectativas dos discípulos. Agora, para ajudá-los a aceitar o desígnio de amor de Deus para cada um de nós, Jesus toma três deles —Pedro, Tiago e João —, os conduz ao alto de uma montanha e se transfigura. E este "banho de luz" os prepara para a noite da paixão.

Amigos, queridos jovens, também hoje nós precisamos de alguma luz, um raio de luz que seja esperança para enfrentar tantas trevas que nos assaltam na vida, tantas derrotas cotidianas para enfrentá-las com a luz da ressurreição de Jesus, porque Ele é a luz que não se apaga, é a luz que brilha também à noite.

“O nosso Deus iluminou os nossos olhos”, diz o sacerdote Esdras (Ed 9,8). Nosso Deus ilumina. Ilumina nossos olhos, ilumina nosso coração, ilumine nossa mente, ilumine nosso desejo de fazer algo na vida, sempre com a luz do Senhor.

Mas gostaria de lhes dizer que não ficamos luminosos quando nos colocamos sob os refletores, isso não nos deslumbra. Não ficamos luminosos quando mostramos uma imagem perfeita, bem cuidada, bem acabada, não, não, mesmo que nos sintamos fortes e bem-sucedidos, mas não luminosos. Tornamo-nos luminosos, brilhamos, quando, acolhendo Jesus, aprendemos a amar como Ele. Amar como Jesus, isso nos torna luminosos. Isso nos leva a fazer obras de amor. Não te engane amiga, amigo, serás luz no dia em que fizer obras de amor. Porém, quando em vez de fazer obras de amor para fora, olhas para ti mesmo, como um egoísta, ali a luz se apaga.

O segundo verbo é escutar. No monte, uma nuvem luminosa cobriu os discípulos e o que, desta nuvem fala o Pai, o que ele diz? Escutai-o (Mt 17,5). Este é o meu Filho amado, escute-o. Está tudo aqui, e tudo o que há para fazer na vida está nesta palavra: escute-o.

Escutar Jesus, todo segredo está aí. Escute o que Jesus te diz. "Eu não sei o que ele me diz." Pegue o Evangelho e leia o que Jesus diz e o que diz em teu coração. Porque Ele tem palavras de vida eterna para nós; Ele revela que Deus é Pai, é amor. Ele nos ensina o caminho do amor, escutar Jesus. Porque lá fora nós, de boa vontade trilhamos caminhos que parecem ser de amor, mas no fundo são egoísmos disfarçados de amor. Ter cuidado com os egoísmos disfarçados de amor. Escutá-lo, porque Ele vai te dizer qual é o caminho do amor. Escutá-lo!

Resplandecer é a primeira palavra, sejam luminosos, ouvir, para não errar no caminho, e, no final, a terceira palavra, não ter medo. Não tenhais medo. Uma palavra que tanto se repete na Bíblia. Nos Evangelhos, "não tenhais medo". Estas foram as últimas palavras que neste momento da transfiguração Jesus disse aos discípulos. Não tenhais medo.

A vós, jovens, que vivestes esta alegria, estava para dizer "esta glória" - bem, algo de glória é este encontro convosco. Vós que cultivais sonhos grandes, mas às vezes ofuscados pelo medo de não os ver realizados; a vós, que às vezes pensais que não ides conseguir, um pouco de pessimismo nos invade às vezes; a vós, jovens, tentados neste tempo a desanimar, a julgar-vos quem sabe inadequados ou a esconder a vossa dor disfarçando-a com um sorriso; a vós, jovens, que queiras mudar o mundo, e está bem que queirais mudar o mundo e que queirais lutar pela justiça e a paz; a vós, jovens, que investis o melhor da vosso esforço e imaginação ficando porém com a sensação de que não basta; a vós, jovens, de quem a Igreja e o mundo têm necessidade como a terra da chuva; a vós, jovens, que sois o presente e o futuro… precisamente a vós, jovens, hoje é que Jesus diz: “Não tenhais medo”.

Em um pequeno silêncio, cada um repita para si mesmo, em seu coração, estas palavras: "Não tenhais medo".

Queridos jovens, gostaria de olhar cada um nos olhos e dizer: não tenhais medo. Não tenhais medo. E mais, digo-lhes uma coisa muito bonita, já não sou eu, é o próprio Jesus que vos olha, neste momento. Ele está nos observando. Ele vos conhece, conhece o coração de cada um de vos, conhece a vida de cada um de vos, conhece as alegrias, conhece as tristezas, os sucessos e os fracassos, conhece o vosso coração. Ele lê os vossos corações, e hoje diz aqui em Lisboa, nesta Jornada Mundial da Juventude: "Não tenhais medo." "Não tenhais medo". “Coragem, não tenhais medo."

Fonte: Vatican News

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A vocação e a missão sacerdotal

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Na celebração do Ano Vocacional e iniciando agosto, o mês que também a Igreja dedica sempre às vocações, queremos começar a refletir sobre a vocação sacerdotal. E  já homenagear todos os sacerdotes pelo dia do Padre que iremos comemorar no próximo dia 4, dia de São João Maria Vianney, padroeiro de todos os padres.

Na celebração do Ano Vocacional e iniciando agosto, o mês que também a Igreja dedica sempre às vocações, queremos começar a refletir sobre a vocação sacerdotal. E  já homenagear todos os sacerdotes pelo dia do Padre que iremos comemorar no próximo dia 4, dia de São João Maria Vianney, padroeiro de todos os padres.

Deus nos chama em Cristo, por iniciativa gratuita do Seu amor, para continuar a obra da salvação dos homens no mundo. Ele nos vocaciona como outrora chamou Abrão, Moisés, os profetas, os apóstolos. E, como eles, devemos dar o nosso "sim" à vontade do Pai, deixando agir em nós o Espírito do Senhor.

Cristo nos escolhe entre muitos para uma vocação específica, já tendo por base a vocação à vida, à santidade e ao batismo, na iniciação à missão cristã, distinta da vocação matrimonial ou religiosa: perpetuar o seu múnus de Sacerdote, Profeta e Pastor, como Cabeça da Igreja, dando a vida pelo rebanho, recebendo o Sacramento da Ordem, exercendo o Sacerdócio ministerial, essencialmente distinto do Sacerdócio comum ou régio, presente em todos os fiéis cristãos.

O Magistério Conciliar da Igreja nos fala dos padres( presbíteros): "O mesmo Senhor... constituiu, dentre os fiéis, alguns como ministros que, na sociedade dos crentes, possuíssem o poder sagrado da Ordem, para oferecer o sacrifício e perdoar os pecados, exercendo ainda publicamente o ofício sacerdotal em favor dos homens e em nome de Cristo.(...) O ministério dos sacerdotes, enquanto unido à Ordem episcopal, participa da autoridade com que o próprio Cristo edifica, santifica e governa o seu corpo" ( Decreto Presbyterorum Ordinis, n° 02). O Sacerdote é assim aquele que perpetua a presença de Cristo no meio do mundo, como alimento eucarístico, transubstanciando o pão no Corpo e o vinho no Sangue do Senhor, como o próprio Jesus fizera na última ceia e ordenara aos apóstolos: "Fazei isto em minha memória" (Lc 22,19). É Cristo que vive a sua Páscoa em cada missa e se entrega a nós para a nossa salvação, pelo poder sacerdotal transmitido por Ele às mãos do padre que repercute as suas palavras: "Tomai e comei. Isto é o meu corpo. Tomai e bebei. Isto é o meu sangue"

O Sacerdote é ainda aquele que estende o perdão dos pecados aos homens, a graça da redenção do Senhor, como dispensador da misericórdia do Pai, a orientar os irmãos na vida de correspondência ao amor de Deus. É Cristo que exerce ao longo do tempo e da história, através do padre, o mistério do perdão: "Aqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados..." (Jo 20,23).

O Presbítero, na sua dimensão profética, está também a serviço da Palavra, o anúncio do Reino de Deus no seio da comunidade, para a vivência cristã pela união na caridade e para a libertação integral das pessoas, desenvolvendo a evangelização e a promoção humana, para a salvação de todos os irmãos. É ele um servo iluminado pelo Senhor que num ministério generoso, sacrificado, mas feliz, vai abrindo as portas da caminhada humana para o equilíbrio, a justiça, a realização, a felicidade e paz espiritual, a partir da comunhão mística com o próprio Jesus. É aquele que com o brilho silencioso e eficaz da simplicidade de Jesus, edifica toda uma comunidade de filhos de Deus, prestando o serviço de amor como um homem de paz, missionário dedicado e fortalecido pela graça do Mestre e Senhor.

Como Bom Pastor, a exemplo de Cristo, guia e orienta o seu rebanho, o povo eleito, para a meta do Plano de Deus, reconduzindo as ovelhas perdidas, resgatando-as e curando-as, para o fim último que é a união com o Pastor Eterno. Concede a Unção dos Enfermos, sacramento da cura espiritual e também corporal. É ele, o sacerdote, o sorriso de Deus nos lábios da fé, o verbo humanizador nas mãos que ungem, consagram, abençoam e perdoam, que repartem o Sagrado. É ele a ponte firme e simples que por seus ombros, muitas vezes chagados pela cruz, como os de Cristo, faz passar o povo seguro às alegrias das bodas do Cordeiro. É aquele que renuncia a tudo, por causa do Reino dos céus, para dar a vida pelos irmãos, como Cristo, indo ao encontro dos mais pecadores, perdidos, marginalizados, dos mais doentes, no corpo e na alma, dos mais pobres, material e espiritualmente, para manifestar a Luz e a graça do Ressuscitado, a alegria da renovação, da libertação total, da construção de uma nova civilização do amor, da fraternidade, da solidariedade, da justiça e da paz.

É preciso, então, que nos conscientizemos da importância desta vocação na Igreja, rezando, nos organizando, trabalhando pelas vocações sacerdotais nas várias atividades das comunidades, incentivando os jovens que já fizeram sua opção, os seminaristas, apoiando os nossos seminários, respeitando e valorizando os nossos sacerdotes, na cooperação do Reino de Deus, para que, num mundo cada vez mais conturbado, injusto e vazio espiritualmente, não haja carência da presença destes apóstolos da Eucaristia e do perdão, da Palavra e do pastoreio sacerdotal de Cristo.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo 

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Mensagem do Papa para o III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Queridos irmãos e irmãs!

Queridos irmãos e irmãs!

“De geração em geração, a sua misericórdia» (cf. Lc 1, 50): assim reza o tema do III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. O tema leva-nos a um encontro abençoado: o encontro entre Maria, jovem, e sua parente Isabel, idosa (cf. Lc 1, 39-56). Esta, cheia de Espírito Santo, dirige à Mãe de Deus palavras que, dois milénios depois, cadenciam a nossa oração diária: «Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre» (1, 42). E o Espírito Santo, que já tinha descido sobre Maria, sugere-Lhe como resposta o Magnificat, onde proclama que a misericórdia do Senhor se estende de geração em geração. O Espírito Santo abençoa e acompanha todo o encontro fecundo entre gerações diversas, entre avós e netos, entre jovens e idosos. De facto, Deus quer que os jovens, como fez Maria com Isabel, alegrem os corações dos anciãos e extraiam sabedoria das suas experiências. Mas o primeiro desejo do Senhor é que não deixemos sozinhos os idosos, que não os abandonemos à margem da vida, como hoje, infelizmente, acontece com demasiada frequência.

Neste ano, registra-se uma proximidade estupenda entre a celebração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos e a Jornada Mundial da Juventude; no tema de ambas, sobressai a «pressa» de Maria (cf. 1, 39) quando visita Isabel, levando-nos assim a refletir sobre a ligação entre jovens e idosos. O Senhor espera que os jovens, ao encontrar os idosos, acolham o apelo a guardar as memórias e reconheçam, graças a eles, o dom de pertencerem a uma história maior. A amizade de uma pessoa idosa ajuda o jovem a não cingir a vida ao presente e a lembrar-se que nem tudo depende das suas capacidades. Por sua vez, aos mais velhos, a presença de um jovem abre à esperança de que não se perderá tudo aquilo que viveram e se vão realizar os seus sonhos. Em resumo, a visita de Maria a Isabel e a consciência de que a misericórdia do Senhor se transmite de uma geração à outra mostram que não podemos avançar – nem salvar-nos – sozinhos, e que a intervenção de Deus se manifesta sempre no conjunto, na história de um povo. É precisamente Maria quem no-lo diz no Magnificat, alegrando-Se em Deus, que, fiel à promessa feita a Abraão (cf. 1, 51-55), realizou maravilhas novas e surpreendentes.

Para melhor captar o estilo do agir de Deus, recordemos que o tempo deve ser vivido em plenitude, porque as realidades maiores e os sonhos mais belos não acontecem num instante, mas através de um crescimento e de uma maturação: em caminho, em diálogo, no relacionamento. Ora, quem se concentra apenas no imediato, nas próprias vantagens que se hão de conseguir rápida e sofregamente, no «tudo e já», perde de vista o agir de Deus. Diversamente, o seu projeto de amor atravessa o passado, o presente e o futuro, abraça e põe em ligação as gerações. É um projeto que nos ultrapassa a nós mesmos, mas no qual cada um de nós é importante e, sobretudo, é chamado a ir mais além. Para os mais jovens, trata-se de ir mais além do imediato em que nos confina a realidade virtual, que muitas vezes nos desvia da atividade concreta; para os mais velhos, trata-se de não se deterem no debilitar-se das forças nem no lamento pelas ocasiões perdidas. Olhemos para a frente! Deixemo-nos plasmar pela graça de Deus, que, de geração em geração, nos liberta do imobilismo no agir e das lamúrias voltadas para o passado!

No encontro entre Maria e Isabel, entre jovens e idosos, Deus dá-nos o seu futuro. Na realidade, o caminho de Maria e o acolhimento de Isabel abrem as portas à manifestação da salvação: através do seu abraço, a misericórdia irrompe, com alegre mansidão, na história humana. Por isso, quero convidar cada um a pensar naquele encontro; mais ainda, a fechar os olhos e imaginar, como numa foto instantânea, aquele abraço entre a jovem Mãe de Deus e a mãe idosa de São João Batista; representá-lo na mente e visualizá-lo no coração, para o fixar na alma como um luminoso ícone interior.

E convido depois a passar da imaginação à vida concreta, fazendo algo para abraçar os avós e os idosos. Não os deixemos sozinhos; é preciosa a sua presença nas famílias e nas comunidades: dá-nos a noção de partilhar a mesma herança e de fazer parte de um povo em que se preservam as raízes. Sim! São os idosos que nos transmitem a pertença ao santo Povo de Deus. A Igreja e de igual modo a sociedade precisam deles. É que os idosos entregam ao presente um passado necessário para construir o futuro. Honremo-los, não nos privemos da sua companhia nem os privemos da nossa. Não permitamos que sejam descartados.

O Dia Mundial dos Avós e dos Idosos pretende ser um pequeno e delicado sinal de esperança para eles e para a Igreja inteira. Por isso renovo o meu convite a todos – dioceses, paróquias, associações, comunidades – para o celebrarem, colocando no centro a alegria transbordante de um renovado encontro entre jovens e idosos. A vós, jovens, que estais a preparar-vos para partir para Lisboa ou que vivereis a Jornada Mundial da Juventude na própria localidade, quero dizer: antes de sair para a viagem, ide visitar os vossos avós, fazei uma visita a um idoso sozinho. A sua oração proteger-vos-á e levareis no coração a bênção daquele encontro. A vós, idosos, peço para acompanhardes com a oração os jovens que estão prestes a celebrar a JMJ. Aqueles jovens são a resposta de Deus aos vossos pedidos, o fruto daquilo que semeastes, o sinal de que Deus não abandona o seu povo, mas sempre o rejuvenesce com a criatividade do Espírito Santo.

Queridos avós, queridos irmãos e irmãs idosos, chegue até vós a bênção do abraço entre Maria e Isabel, e encha de paz os vossos corações. Com afeto, vos abençoo. E vós, por favor, rezai por mim.

Papa Francisco

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O Papa Francisco e a sinodalidade

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Um extraordinário e inédito processo de escuta de todo o povo de Deus, por dois anos, lançado nos últimos dias 9 e 10 de outubro de 2021, em Roma, pelo profético Papa Francisco, nos projeta num caminho já proposto e resgatado pelo Concílio Vaticano II e impulsionado pelo iluminado Papa São Paulo VI - a sinodalidade.

Um extraordinário e inédito processo de escuta de todo o povo de Deus, por dois anos, lançado nos últimos dias 9 e 10 de outubro de 2021, em Roma, pelo profético Papa Francisco, nos projeta num caminho já proposto e resgatado pelo Concílio Vaticano II e impulsionado pelo iluminado Papa São Paulo VI - a sinodalidade. Isto foi expresso nas últimas décadas, pela implementação do Sínodo dos Bispos, como um forte e rico momento de escuta do Sucessor de Pedro dos seus irmãos sucessores dos apóstolos, espalhados no mundo inteiro, representando e ecoando as realidades e anseios de seus milhares de rebanhos. Estes processos enriqueceram muito a reflexão de toda a Igreja sobre diversos temas, com a contribuição das mais variadas culturas e especificidades dos países representados por seus pastores, com a contribuição de vários peritos, clérigos, religiosos e leigos. Estas proposições dos padres sinodais serviram de base para importantes e renovadoras Exortações Apostólicas pós-sinodais, assinadas pelos pontífices desde São Paulo VI.

Mas, com certeza, faltava um aprofundamento sobre a própria sinodalidade, exercitando não só a colegialidade episcopal, alcançando de forma indireta as comunidades. Já há tempos, era sugerido, inclusive pelo próprio Papa Francisco, um processo de "caminhar juntos", escutando diretamente todas as expressões do povo de Deus, colhendo das bases das comunidades e dos cristãos, dos não cristãos e da sociedade em geral, as impressões, testemunhos e dados referentes à essencialidade da Igreja, em sua "comunhão, participação e missão", ouvindo, deixando que todos tomem a palavra, falando com coragem, integrando liberdade, verdade e caridade; celebrando a Palavra e a Eucaristia, na corresponsabilidade missionária, participando da comunidade eclesial e no serviço à sociedade, com responsabilidade social e política, no diálogo e na busca da justiça e do bem comum, salvaguardando os direitos humanos, no cuidado com a casa comum; fomentando a união e diálogo ecumênico, a partir de um único Batismo.

A dimensão da sinodalidade como um princípio educativo para a formação da pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades, numa decisão por discernimento com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito, tornando as lideranças e membros da Igreja mais capazes de caminhar juntos, de se ouvir mutuamente e de dialogar, num crescimento em comunhão, aumentando a participação ministerial e o comprometimento missionário. 

O Papa Francisco recupera a centralidade da perspectiva sinodal que remonta à fundação e constituição da própria Igreja, inserindo-a no contexto de toda a comunhão humana: com a casa comum, na plena integração do homem com a natureza, numa sinodalidade ecológica. Para o processo de escuta, neste sentido é preciso rever os ensinamentos da sua encíclica Laudato Si, com a reflexão de que tudo está interligado na corresponsabilidade do cuidado e da preservação, rumo a uma consciente Ecologia Integral, na defesa de toda vida, especialmente a vida e a dignidade humana, numa verdadeira conversão ecológica.

Na mesma linha, numa atitude dialógica, o profético sucessor de Pedro, situa a sinodalidade social, apresentando o caminho e partilha comum da solidariedade, da amizade de todos os homens, construindo uma sociedade de justiça, igualdade, fraternidade e paz. É necessário aprofundarmos a temática da sua outra encíclica Fratelli Tutti, acompanhados das propostas da Economia de Francisco e de Clara e do Pacto Educativo Global, que recolocam o horizonte da partilha solidária e do crescimento comum fraterno, com equidade e desenvolvimento sustentável, partindo da educação dos valores e princípios de um humanismo cristão, na concepção universal de que todos somos irmãos, filhos de Deus

Para a missão evangelizadora da Igreja permanentemente em saída, Francisco insiste numa comunhão dinâmica, superando uma igreja autorreferencial, que pelo impulso do Espírito refaça a unidade humana e cristã, numa reconstrução comum, pelo testemunho do Amor, expressão da Misericórdia de Deus e da Verdade, anunciando a alegria do Evangelho, restauradora e libertadora da pessoa humana integral, para a transformação da sociedade em Reino de Deus. Neste âmbito, é riquíssima a contribuição da sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, propondo uma forte sinodalidade eclesial missionária, na esteira da conversão pastoral da Igreja do Documento de Aparecida, grandemente talhado por sua redação.

Numa decisão inédita e histórica, o Papa Francisco inseriu a participação, com direito a voto, de leigos, homens e mulheres, jovens, sacerdotes, religiosos e religiosas, representantes dos diversos trabalhos eclesiais, de vários países, na própria Assembleia Sinodal dos Bispos, em outubro deste ano, estendendo o processo de escuta e discernimento até outubro de 2024, quando haverá a segunda sessão da Assembleia Sínodo, direcionando, então para toda a Igreja, iluminações, frutos de toda a comunhão-participação do povo de Deus para a melhor realização de sua missão. Em comunhão com este processo e tema, realizamos nossa Assembleia Diocesana, nos últimos dias 7 e 8 deste mês, com maduras reflexões e eleição das prioridades pastorais, com ótimos encaminhamentos.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Maria na Encíclica “A Mãe do Redentor”, de São João Paulo II

terça-feira, 11 de julho de 2023

Comemoraremos, no próximo domingo, 16, Nossa Senhora do Carmo, título de devoção atribuído à Maria, a Mãe de Jesus, agradecendo filialmente à sua intercessão amorosa e misericordiosa, acompanhamo-nos de uma bela reflexão de um grande Santo apóstolo, Papa dos nossos tempos, São João Paulo II, que entregou o seu próprio pontificado aos cuidados da Mãe da Graça, na missão centrada em Cristo, como a da primeira discípula do Filho amado. Segue uma síntese destas iluminadas linhas.

Comemoraremos, no próximo domingo, 16, Nossa Senhora do Carmo, título de devoção atribuído à Maria, a Mãe de Jesus, agradecendo filialmente à sua intercessão amorosa e misericordiosa, acompanhamo-nos de uma bela reflexão de um grande Santo apóstolo, Papa dos nossos tempos, São João Paulo II, que entregou o seu próprio pontificado aos cuidados da Mãe da Graça, na missão centrada em Cristo, como a da primeira discípula do Filho amado. Segue uma síntese destas iluminadas linhas.

O Santo Papa João Paulo II, para o Ano Mariano de 1987-1988, publicou a rica encíclica Redemptoris Mater (RM) - "A Mãe do Redentor" sobre a missão confiada por Deus a Maria na história da Salvação. A Mãe de Deus no centro da Igreja que está a caminho é o tema basilar que sintetiza este belo texto. 

A relação entre Maria e a Igreja, presente em todos os povos e nações, nas diversas culturas, é essencial. Maria é modelo e figura desta Igreja que, como a Mãe do Redentor, deve se tornar discípula d'Ele, fazendo a mesma peregrinação da fé, na obediência e no serviço aos desígnios da salvação.

"Por isso, no povo de Deus, Maria tem posição especial e única, como exemplo e auxílio, por tudo aquilo que ela foi e é, que realizou e realiza. Exatamente nesta caminhada-peregrinação eclesial, através do espaço e do tempo e, mais ainda, através da história das almas, Maria está presente como aquela que é 'bendita' porque acreditou, como aquela que avançava na peregrinação da fé, participando como nenhuma outra criatura no mistério de Cristo" (RM 25). A sua história de peregrinação de fé é mais longa que a dos outros discípulos e apóstolos e começa já na Anunciação, na benção da "cheia de Graça", em sua resposta de total adesão e entrega: "Eu sou a Serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38).

Assim a Anunciação, com toda a unção e sombra do Espírito Santo que veio sobre ela, já preparava Pentecostes, onde a Mãe de Jesus estava firme na fé, "assídua na oração", entre os apóstolos (At 1, 13-14; cf RM 26). Neste momento, já acolhe o Verbo de Deus que se encarna em seu ventre virginal, aderindo à maternidade de uma nova humanidade na ordem da graça, como Nova Eva, dizendo o sim pleno, aderindo ao plano do Criador, gerando o Salvador, concretizando o proto-evangelho - Gn 3,15 - a descendência da mulher que esmagaria a cabeça da serpente ( cf Gl 4,4).

Como Virgem e Mãe é presente no mistério de Cristo e da Igreja. Como figura apresenta o seguinte paralelo: como Virgem acreditou; como Serva do Senhor, permaneceu perfeitamente fiel; como Mãe, gerou o próprio Filho de Deus. A Igreja-Mãe aprende de Maria a própria maternidade. A Igreja-Virgem permanece fiel ao único Esposo. A Igreja guarda a fé recebida de Cristo, a exemplo de Maria que guardava e meditava toda a profundidade do mistério em seu coração (Lc 2, 29-51).

Ao tratar da relação Maria-Igreja, S. João Paulo II restaura mais uma vez as bases da Lumen Gentium, no seu capítulo VIII: "Este culto (à Mãe de Deus) é absolutamente singular, contém em si e exprime aquele vínculo profundo que existe entre a Mãe de Cristo e a Igreja. A Igreja se torna mãe pela fiel recepção da Palavra de Deus" (RM 42; LG 63).

Maria é cooperadora da obra da Redenção, tornou-se Mãe de uma nova humanidade na ordem da Graça, Mãe da Igreja e intercessora, na mediação materna subordinada à única mediação redentora de seu Filho. Assim, continua gerando e formando Cristo em nós, como também é a missão da Igreja. É medianeira e continua solidária aos filhos e filhas, membros da Igreja, como em Caná e muito mais na comunhão eterna de amor com Jesus, fonte da Graça. É Mãe do Cristo total, Cabeça e membros, como afirma Santo Agostinho.

Esta maternidade espiritual de Maria que nasce do mais íntimo do mistério pascal do Redentor e amadurece definitivamente aos pés da cruz no sacrifício e na doação de Amor de seu Filho, "é profundamente recordada e vivida no Banquete Sagrado, no qual se torna presente Cristo, no seu verdadeiro corpo nascido da Virgem Maria" (RM 44). (Fonte: Revista de Aparecida)

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo. Especialista em Mariologia, autor de "A Maternidade Eclesial de Maria", Ed. Santuário,2020.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Papa: inspirar-se em Pedro e Paulo para uma Igreja humilde e aberta

segunda-feira, 03 de julho de 2023

Na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, Francisco exortou os fiéis a se inspirarem nos Apóstolos para crescer como Igreja do seguimento, como Igreja humilde que nunca dá por terminada a busca do Senhor, tornando-se simultaneamente uma Igreja aberta, que encontra a sua alegria não nas coisas do mundo, mas no anúncio do Evangelho ao mundo.

Na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, Francisco exortou os fiéis a se inspirarem nos Apóstolos para crescer como Igreja do seguimento, como Igreja humilde que nunca dá por terminada a busca do Senhor, tornando-se simultaneamente uma Igreja aberta, que encontra a sua alegria não nas coisas do mundo, mas no anúncio do Evangelho ao mundo.

Seguimento e anúncio: estas foram as duas palavras ressaltadas pelo Papa na homilia da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, festejada No último dia 29 de junho. No Brasil, a solenidade é transferida para o domingo seguinte, e foi celebrada no último dia 2.

Na Basílica de São Pedro, concelebraram com o Pontífice os 32 arcebispos nomeados. Entre eles, há quatro lusófonos: três brasileiros e um moçambicano: Dom José Carlos Souza Campos, de Montes Claros (MG); Dom Juarez Sousa da Silva, de Teresina (PI); Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa, de Olinda e Recife (PE); e Dom João Carlos Hatoa Nunes, de Maputo. Na celebração, o Papa abençoou os pálios, que depois serão impostos pelo Núncio na arquidiocese, junto à comunidade local.

Na sua homilia, Francisco se inspirou na pergunta que Jesus dirige aos discípulos, contida no Evangelho de Mateus: “Vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16, 15). Para o Pontífice, esta é a pergunta fundamental, a mais importante: Quem é Jesus para mim?

Seguimento

Os dois apóstolos responderam a esta pergunta de modo diferente. A resposta de Pedro poderia se resumir em uma palavra: seguimento. Pedro largou tudo para ir atrás do Senhor. E o Evangelho sublinha que foi “imediatamente”, não disse a Jesus que iria pensar, fazer cálculos para ver se lhe convinha, não apresentou desculpas para adiar a decisão, mas deixou as redes e O seguiu. Haveria de descobrir tudo dia após dia, no seguimento de Jesus.

Aquela anotação “imediatamente”, acrescentou o Papa, vale também para nós: se há tantas coisas na vida que podemos adiar, o seguimento de Jesus não pode ser uma delas. E atenção! Pois algumas desculpas aparecem disfarçadas de espiritualidade, como “não sou digno”, “não sou capaz”. Para Francisco, são artimanhas do diabo, que nos rouba a confiança na graça de Deus. A lição de Pedro, portanto, é: devemos nos desprender de nossas seguranças terrenas, imediatamente, e seguir Jesus todos os dias. 

Anúncio

Já a resposta de Paulo se resume na palavra anúncio. No caminho de Damasco, Jesus foi ao seu encontro e cegou-o com a sua luz, ou melhor, graças àquela luz, Saulo deu-se conta de quanto era cego. Assim, consagra a sua vida a percorrer terra e mar, cidades e aldeias, para anunciar Jesus Cristo.

Portanto, à pergunta “quem é Jesus para mim”, Paulo não responde com uma religiosidade intimista, mas com a inquietação de levar o Evangelho aos outros. Também hoje, observou o Papa, a Igreja tem necessidade de colocar o anúncio no centro, que não se cansa de repetir: “Ai de mim se eu não evangelizar”. Uma Igreja que precisa anunciar como necessita de oxigênio para respirar. (Fonte: Vatican News)

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A Comunicação no decreto Inter Mirifica do Concílio Vaticano II

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Um importante e valioso decreto sobre os Meios de Comunicação Social, o Inter Mirifica (Entre as coisas Maravilhosas), foi promulgado em 4 de dezembro de 1963, como documento integrante do renovador Concílio Vaticano II.

Um importante e valioso decreto sobre os Meios de Comunicação Social, o Inter Mirifica (Entre as coisas Maravilhosas), foi promulgado em 4 de dezembro de 1963, como documento integrante do renovador Concílio Vaticano II.

A introdução usa os termos “instrumento de comunicação social”, preferindo-os a “meios audiovisuais”, “meios de informação”, “mass media”, técnicas de difusão ou “mass communications”, pois queria referir-se a todas as tecnologias de comunicação, utilizando um conceito de tecnologia que não se reduzia à parte técnica da difusão, mas incluía todos os atos humanos decorrentes e sua dimensão relacional, que são a principal preocupação da igreja. Quis excluir qualquer ideia ambígua de massificação como fosse uma consequência inevitável da utilização dos instrumentos. Assume uma visão mais positiva da comunicação frente às questões sociais,

Assegura o decreto, pela primeira vez num documento universal da Igreja, a obrigação, no dever de pregar a Boa Nova e o direito inato de a Igreja usar os instrumentos de comunicação social, “necessários e úteis para a formação cristã e para qualquer atividade empreendida em favor da salvação do homem” (IM 3).

A Igreja é uma sociedade missionária e deve empregar os meios de comunicação social, principalmente através de seus leigos. O uso correto destes meios deve levar em consideração a matéria (notícia), as circunstâncias e o modo como será feita a comunicação.

A maior contribuição do Inter Mirifica foi sua afirmação sobre o direto de informação, visto não relacionado a interesses comerciais, mas como um bem social.

“É intrínseco à sociedade humana o direito à informação sobre aqueles assuntos que interessam aos homens e às mulheres, quer tomados individualmente, quer reunidos em sociedade, conforme as condições de cada um” (IM 5)

E ressalta a escolha livre e pessoal, em vez da censura e da proibição (IM 9), incentivando a formação da consciência moral objetiva nos valores e princípios cristãos.

No segundo capitulo, de nível pastoral, o Inter Mirifica estabelece que pastores e leigos promovam a boa imprensa a as boas transmissões e também a imprensa e as transmissões católicas. Contribuam para a formação dos agentes da opinião pública. São enúmeras diretrizes gerais referentes à educação católica, à criação de secretariados diocesanos, nacionais e internacionais de comunicação social ligados à Igreja (IM 19-21).

O decreto conciliar Inter Mirifica foi um divisor de águas na consideração da Igreja sobre a mídia, pela primeira vez tratando do tema como independente e interligados a toda a dimensão humana e suas implicações éticas, dando orientações pastorais e concretas para uma ampliação do campo e missão comunicacional da Igreja.  

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Comunicar a identidade e a missão do cristão fiel leigo II

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Na mesma linha do ensinamento do Concílio Vaticano II e dos papas, colaboram para um aprofundamento da visão da missão inculturada e transformadora dos cristãos fieis leigos, os documentos do Conselho Episcopal Latino-americano e do Caribe (Celam), especialmente os textos das Conferências de Medellin, Puebla, Santo Domingo e Aparecida.

Na mesma linha do ensinamento do Concílio Vaticano II e dos papas, colaboram para um aprofundamento da visão da missão inculturada e transformadora dos cristãos fieis leigos, os documentos do Conselho Episcopal Latino-americano e do Caribe (Celam), especialmente os textos das Conferências de Medellin, Puebla, Santo Domingo e Aparecida. Também muito rica e iluminadora a série de documentos da CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nas várias décadas após o Concílio Vaticano II, para a compreensão da conjuntura brasileira, o chão concreto, com todos os seus problemas e qualidades, onde o cristão leigo e leiga deve evangelizar para a libertação integral, a salvação, o resgate da dignidade "do homem todo e de todos os homens " como dizia São Paulo VI, afirmando que não há verdadeira evangelização que não seja promoção humana. E, neste sentido, enfatiza S. João Paulo II, na sua primeira encíclica, Redemptor Hominis : "O Homem é a via da Igreja".

Assim, para que possam responder à sua vocação, os fiéis leigos devem olhar para as atividades da vida cotidiana como uma ocasião de união com Deus e de cumprimento de sua vontade, e também como serviço aos demais homens, levando-os à comunhão com Deus em Cristo ( cf Apostolicam Actuositatem, 4).  São eles "verdadeiros sujeitos eclesiais" (Documento de Aparecida, 497a / Documento 105 da CNBB). Unidos e em comunhão com os ministros ordenados (bispos, presbíteros e diáconos), anunciam e testemunham Jesus, sendo homens e mulheres da Igreja no coração do mundo e mulheres e homens do mundo no coração da Igreja (cf Celam, Documento de Puebla, 786; Documento de Aparecida, 209). "Como consequência do batismo, os fiéis estão inseridos em Cristo e são chamados a viver o tríplice ministério sacerdotal, profético e real" (Celam, Documento de Santo Domingo, 94; cf Lumen Gentium 33.) "Em virtude do Batismo e da Confirmação, somos chamados a ser discípulos missionários de Jesus Cristo e entramos na comunhão trinitária da Igreja" (Celam, Documento de Aparecida, 153).

Concluindo, com a riqueza conciliar e do ensinamento dos pontífices e da comunhão dos Bispos, o cristão fiel leigo tem enfim uma definição positiva, advinda de sua incorporação a Cristo pelo batismo e identificação testemunhal pela Crisma, pela igualdade fundamental de sua dignidade de membro eclesial, no exercício do tríplice múnus de santificar, ensinar e pastorear, decorrente da participação a seu modo, do único Sacerdócio de Cristo, no Sacerdócio comum, distinto essencialmente do Sacerdócio ministerial ou hierárquico dos Ministros Ordenados, mas em plena comunhão e cooperação com ele na edificação do Corpo de Cristo, exercendo sua missão específica de salgar e iluminar as realidades do mundo, na vocação universal à santidade, no mandato universal de evangelizar, na espiritualidade da Palavra de Deus e da Eucaristia, "fonte e cume de toda a vida cristã" ( Lumen Gentium 11; Sacrosanctum Concilium 10).

"Vivem no mundo, isto é, no meio de todas e cada uma das atividades e profissões e nas circunstâncias da vida familiar e social, as quais como que tecem a sua existência. Aí os chama Deus a contribuírem, do interior, à maneira de fermento, para a santificação do mundo, através de sua própria função e guiados pelo espírito evangélico, e desta forma, manifestarem Cristo aos outros, principalmente com o testemunho da vida e o fulgor da sua fé, esperança e caridade" (Lumen Gentium 31).

"Modelo perfeito desta vida espiritual e apostólica é a bem-aventurada Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos. Enquanto levou na terra vida igual à de todos, cheia de cuidados familiares e de trabalhos, estava sempre intimamente associada ao Filho, cooperando de modo absolutamente singular na obra do Salvador." (Apostolicam Actuositatem 4). "Esta Virgem deu em sua vida o exemplo daquele maternal afeto do qual devem estar animados todos os que cooperam na missão apostólica da Igreja para a regeneração dos homens" (Lumen Gentium 65).

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Reflexão sobre o 10º Domingo do Tempo Comum

segunda-feira, 12 de junho de 2023

O Evangelho do último domingo, 11, apresentou-nos uma catequese sobre a resposta que devemos dar ao Deus que chama todos os homens, sem exceção. A Palavra de Deus deste 10º Domingo do Tempo Comum repete, com alguma insistência, que Deus prefere a misericórdia ao sacrifício. A expressão deve ser entendida no sentido de que, para Deus, o essencial não são os atos externos de culto ou as declarações de boas intenções, mas sim uma atitude de adesão verdadeira e coerente ao seu chamamento, à sua proposta de salvação. É esse o tema da liturgia deste dia.

O Evangelho do último domingo, 11, apresentou-nos uma catequese sobre a resposta que devemos dar ao Deus que chama todos os homens, sem exceção. A Palavra de Deus deste 10º Domingo do Tempo Comum repete, com alguma insistência, que Deus prefere a misericórdia ao sacrifício. A expressão deve ser entendida no sentido de que, para Deus, o essencial não são os atos externos de culto ou as declarações de boas intenções, mas sim uma atitude de adesão verdadeira e coerente ao seu chamamento, à sua proposta de salvação. É esse o tema da liturgia deste dia.

Na primeira leitura, o profeta Oseias põe em causa a sinceridade de uma comunidade que procura controlar e manipular Deus, mas não está verdadeiramente interessada em aderir, com um coração sincero e verdadeiro, à aliança. Os atos externos de culto – ainda que faustosos e magnificentes – não significam nada, se não houver amor (quer o amor a Deus, quer o amor ao próximo – que é a outra face do amor a Deus).

Na segunda leitura, Paulo apresenta aos cristãos (quer aos que vêm do judaísmo e estão preocupados com o estrito cumprimento da Lei de Moisés, quer aos que vêm do paganismo) a única coisa essencial: a fé. A figura de Abraão é exemplar: aquilo que o tornou um modelo para todos não foram as obras que fez, mas a sua adesão total, incondicional e plena a Deus e aos seus projetos.
O Evangelho apresenta-nos uma catequese sobre a resposta que devemos dar ao Deus que chama todos os homens, sem exceção. O exemplo de Mateus sugere que o decisivo, do ponto de vista de Deus, é a resposta pronta ao seu convite para integrar a comunidade do “Reino”.

O relato da vocação de Mateus (vers. 9) não é substancialmente distinto do relato do chamamento de outros discípulos (cf. Mt 4,18-22): em qualquer dos casos fala-se de homens que estão a trabalhar, a quem Jesus chama e que, deixando tudo, seguem Jesus. Os “chamados” não são “super-homens”, seres perfeitos e santos, estranhos ao mundo, pairando acima das nuvens, sem contato com a vida e com os problemas e dramas dos outros homens e mulheres; mas são pessoas normais, que vivem uma vida normal, que trabalham, lutam, riem e choram… No entanto, todos são chamados ao seguimento de Jesus.

O verbo “akolouthéô”, aqui utilizado na forma imperativa, traduz a ação de “ir atrás” e define a atitude de um discípulo que aceita ligar-se a um “mestre”, escutar as suas lições e imitar os seus exemplos de vida… É, portanto, isso que Jesus pede a Mateus. Mateus, sem objeções nem pedidos de esclarecimento, deixa tudo e aceita ser discípulo. A esta adesão ao chamamento de Deus chama-se “fé”.

Deus chama todos os homens sem exceção. Os que se consideram bons e justos, frequentemente acham que não precisam do dom de Deus, pois eles merecem, pelos seus atos, a salvação; mas a verdade é que a salvação é sempre um dom gratuito de Deus, não merecido pelo homem… O que Deus pede ao homem (seja ele bom ou mau, pecador ou santo, justo ou injusto) é que aceite o dom de Deus, escute o chamamento de Jesus e, sem objeções, com total confiança e disponibilidade, aceite o convite para seguir Jesus, para ser seu discípulo e para integrar a comunidade do “Reino”.

Fonte: Vatican News

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Comunicar a identidade e a missão do cristão fiel leigo

segunda-feira, 05 de junho de 2023

Celebramos no último domingo, 4, a solenidade da Santíssima Trindade, a verdade da fé num Deus único em três pessoas distintas, Deus que é comunhão, onde a diferença não significa divisão, o maior exemplo para a união da Igreja em missão, que deve ser um corpo bem integrado, apesar de sua diversidade de ministérios, dons e vocações.

Celebramos no último domingo, 4, a solenidade da Santíssima Trindade, a verdade da fé num Deus único em três pessoas distintas, Deus que é comunhão, onde a diferença não significa divisão, o maior exemplo para a união da Igreja em missão, que deve ser um corpo bem integrado, apesar de sua diversidade de ministérios, dons e vocações. Neste sentido também celebraremos na próxima quinta-feira, 8, outra especial solenidade litúrgica, a de Corpus Christi,  o corpo de Cristo, nosso alimento espiritual, dado a nós na quinta-feira santa, pelo próprio Senhor que transubstanciou o pão no seu corpo e o vinho no seu sangue, para nos fortalecer como Igreja apostólica, como também o seu corpo de comunhão, participação e missão no meio do mundo. 

    Vivemos na nossa Igreja ainda o Ano Vocacional, ressaltando as diversas vocações dentro da comunidade eclesial. E iniciaremos uma reflexão vocacional sobre a vocação dos cristãos fiéis leigos. Recordamos com alegria e gratidão o Ano Nacional do Laicato, organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 2017-2018, com o tema "Cristãos leigos e leigas, sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino" e o lema "Sal da Terra e Luz do Mundo" ( Mt 5,13-14). Tinha como objetivo geral:  "Como Igreja, Povo de Deus, celebrar a presença e a organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil, aprofundar a sua identidade, vocação, espiritualidade e missão e testemunhar Jesus Cristo e seu Reino na sociedade". 

Propôe-se, hoje, como na época, o estudo e a prática do Documento 105 da CNBB "Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade", acompanhado dos demais documentos do Magistério Eclesiástico como podemos citar, dentre outros os do Concílio Vaticano II, especialmente a Constituição Dogmática Lumen Gentium (sobre a Igreja) Decreto Apostolicam Actuositatem (sobre o apostolado dos leigos ), a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (sobre a missão da Igreja no mundo) e o Decreto Ad Gentes (sobre a missão), a Evangelii Nuntiandi (sobre a evangelização) de São Paulo VI, a  Christifideles Laici (sobre os cristãos fiéis leigos) de São João Paulo II, além dos ricos ensinamentos de Bento XVI e do Papa Francisco, em particular, a Evangelii Gaudium (sobre a alegria do Evangelho).

Refaz-se, neste contexto, a importância do conhecimento e da revisitação da Doutrina Social da Igreja, desde a Rerum Novarum sobre as coisas novas) de Leão XIII, em 1891, até a Fratelli Tutti (Todos Irmãos) do Papa Francisco. Uma vez que a missão do leigo é salgar e iluminar as realidades terrestres, as culturas, a política, a educação, a comunicação, a economia, dentre outras, para transformar a sociedade em Reino de Deus, pelo anúncio e testemunho do Cristo e de sua ação redentora, é necessário conhecê-las bem, inculturar-se e  discernir, a partir do Evangelho, quais as atitudes e posturas decorrentes da fé, com os princípios e critérios do Magistério Social da Igreja.

   Mas, para que o cristão leigo e leiga exerça esta desafiadora tarefa, deve estar mergulhado na espiritualidade da identificação batismal e crismal com Cristo, numa vida de santidade, de comunhão eucarística, na escuta e serviço da Palavra, de contínua conversão pelo sacramento da penitência e na vivência fiel e missionária de sua vocação familiar e profissional. "A vocação à santidade anda intimamente ligada à missão e a responsabilidade confiada aos fiéis leigos na Igreja e no mundo" (...) "comporta que a vida segundo o Espírito se exprima de forma peculiar na sua inserção nas realidades temporais" (São João Paulo II, Christifideles Laici ,17.

"Aos leigos compete por vocação própria, buscar o Reino de Deus, ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus" (Lumen Gentium, 31). São eles "verdadeiros sujeitos eclesiais" (Documento de Aparecida, 497a / Documento 105 da CNBB). São homens e mulheres batizados e crismados, chamados e enviados pelo próprio Jesus, por meio da Igreja, para serem discípulos missionários na comunidade e na sociedade.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.