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Carta ao Povo de Deus do Sínodo

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Queridas irmãs e irmãos, ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em comunhão com todos. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, questionamentos, e também os vossos receios.

Queridas irmãs e irmãos, ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em comunhão com todos. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, questionamentos, e também os vossos receios. Já passaram dois anos desde que, a pedido do Papa Francisco, iniciámos um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para "caminhar juntos", sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo. A sessão que nos reuniu em Roma desde 30 de setembro foi um passo importante neste processo. Em muitos aspectos, foi uma experiência sem precedentes. Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutámos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhámos as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentámos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates. A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que alguns de nós provinham de países onde a guerra deflagra. Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz. A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecumênica de abertura, experimentámos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. "A cruz é, de fato, a única cátedra d'Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que 'todos sejam um' (Jo 17,21)". Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiámos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: "Laudate Deum! ", recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos. Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-abrigo que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: "Amor! ". Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus a 15 de outubro, a meio da nossa assembleia. É a "confiança" que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentámos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente. E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra "sínodo". Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, "Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstratos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (...), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um" (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos. Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, em algumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória. A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje. Precisa de acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões. Para progredir no discernimento sinodal, a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis. Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade e nos quais o Espírito, que "a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido" (Gaudium et spes 22), também está presente e atua. "O mundo em que vivemos, e que somos chamados a amar e a servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todos os âmbitos da sua missão. É precisamente o caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milénio" (Papa Francisco, 17 de outubro de 2015). Não tenhamos medo de responder a este apelo. A Virgem Maria, a primeira no caminho, nos acompanha em nossa peregrinação. Nas alegrias e nas fadigas, ela mostra-nos o seu Filho que nos convida à confiança. É Ele, Jesus, a nossa única esperança! Cidade do Vaticano, 25 de outubro de 2023

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Papa aos missionários: anúncio deve ser dado sem exclusões e com alegria

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A mensagem do Papa Francisco para o 97° Dia Mundial das Missões, celebrado em 22 de outubro, se inspira na história dos discípulos de Emaús, narrada por São Lucas no seu Evangelho (cf. 24, 13-35): “Corações ardentes, pés ao caminho”. Francisco observa que “os dois discípulos estavam confusos e desiludidos, mas o encontro com Cristo na Palavra e no Pão partido acendeu neles o entusiasmo para pôr os pés ao caminho rumo a Jerusalém e anunciar que o Senhor tinha verdadeiramente ressuscitado”.

A mensagem do Papa Francisco para o 97° Dia Mundial das Missões, celebrado em 22 de outubro, se inspira na história dos discípulos de Emaús, narrada por São Lucas no seu Evangelho (cf. 24, 13-35): “Corações ardentes, pés ao caminho”. Francisco observa que “os dois discípulos estavam confusos e desiludidos, mas o encontro com Cristo na Palavra e no Pão partido acendeu neles o entusiasmo para pôr os pés ao caminho rumo a Jerusalém e anunciar que o Senhor tinha verdadeiramente ressuscitado”. Em seguida fala sobre a transformação dos discípulos narrada pelo Evangelho, a partir de algumas imagens sugestivas: “corações ardentes pelas Escrituras explicadas por Jesus, olhos abertos para O reconhecer e, como ponto culminante, pés ao caminho. Afirmando em seguida que meditando sobre estes três aspectos, que traçam o itinerário dos discípulos missionários, “podemos renovar o nosso zelo pela evangelização no mundo de hoje”.

O primeiro aspecto: Corações ardentes, “quando nos explicava as Escrituras”. A Palavra de Deus ilumina e transforma o coração na missão, recorda que assim "como no início da vocação dos discípulos, também agora, no momento da frustração, o Senhor toma a iniciativa de Se aproximar dos seus discípulos e caminhar ao lado deles. Na sua grande misericórdia, Ele nunca Se cansa de estar conosco, apesar dos nossos defeitos, dúvidas, fraquezas e não obstante a tristeza e o pessimismo nos reduzam a “homens sem inteligência e lentos de espírito” pessoas de pouca fé. Hoje como então, o Senhor ressuscitado está próximo dos seus discípulos missionários e caminha ao lado deles, sobretudo quando se sentem frustrados, desanimados".

Dirigindo-se aos missionários afirma: “Em Cristo, expresso a minha proximidade a todos os missionários e missionárias do mundo, especialmente àqueles que atravessam um momento difícil: caríssimos, o Senhor ressuscitado está sempre convosco e vê a vossa generosidade e os vossos sacrifícios em prol da missão evangelizadora em lugares distantes. Nem todos os dias da vida são cheios de sol, mas lembremo-nos sempre das palavras do Senhor Jesus aos seus amigos, antes da Paixão: “No mundo, tereis tribulações; mas tende confiança: Eu já venci o mundo!” “Portanto” acrescenta, “deixemo-nos sempre acompanhar pelo Senhor ressuscitado que nos explica o sentido das Escrituras. Deixemos que Ele faça arder o nosso coração, nos ilumine e transforme, para podermos anunciar ao mundo o seu mistério de salvação com a força e a sabedoria que vêm do seu Espírito.

O segundo aspecto: Olhos que "se abriram e O reconheceram" ao partir o pão. Jesus na Eucaristia é ápice e fonte da missão, é “o elemento decisivo que abre os olhos dos discípulos”, continua Francisco, “é a sequência de ações efetuadas por Jesus: tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e deu-lho. São gestos comuns de qualquer chefe de família judia, mas, realizados por Jesus Cristo com a graça do Espírito Santo, renovam para os dois comensais o sinal da multiplicação dos pães e sobretudo da Eucaristia, o sacramento do Sacrifício da cruz”. Porém continua, precisamente no momento em que reconhecem Jesus n’Aquele-que-parte-o-pão, “Ele desapareceu da sua presença”. 

“Este fato”, explica, “faz compreender uma realidade essencial da nossa fé: Cristo que parte o pão, torna-Se agora o Pão partido, partilhado com os discípulos e depois consumido por eles. Tornou-Se invisível, porque agora entrou dentro do coração dos discípulos para fazê-los arder ainda mais, impelindo-os a retomar sem demora o seu caminho para comunicar a todos a experiência única do encontro com o Ressuscitado!

Assim, Cristo ressuscitado é Aquele-que-parte-o-pão e, simultaneamente, o Pão-partido-para-nós. E, por conseguinte, cada discípulo missionário é chamado a tornar-se, como Jesus e n’Ele, graças à ação do Espírito Santo, aquele-que-parte-o-pão e aquele-que-é-pão-partido para o mundo”. Concluindo este aspecto recorda aos missionários: “A propósito, é preciso ter presente que, se o simples repartir o pão material com os famintos em nome de Cristo já é um ato cristão missionário, quanto mais o será o repartir o Pão eucarístico, que é o próprio Cristo? Trata-se da ação missionária por excelência, porque a Eucaristia é fonte e ápice da vida e missão da Igreja".

Quanto ao terceiro aspecto destacado na Mensagem aos Missionários: Pés ao caminho, com a alegria de proclamar Cristo Ressuscitado. A eterna juventude de uma Igreja sempre em saída, Francisco recorda: “Depois de abrir os olhos ao reconhecerem Jesus na fração do pão, os discípulos partiram sem demora e voltaram para Jerusalém. Este sair apressado para partilhar com os outros a alegria do encontro com o Senhor, mostra que ‘a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria’”. “Não se pode encontrar verdadeiramente Jesus ressuscitado”, observa, “sem se inflamar no desejo de o contar a todos. Por isso, o primeiro e principal recurso da missão são aqueles que reconheceram Cristo ressuscitado, nas Escrituras e na Eucaristia, e que trazem o seu fogo no coração e a sua luz no olhar. Eles podem testemunhar a vida que não morre jamais, mesmo nas situações mais difíceis e nos momentos mais escuros.

Depois de refletir sobre a imagem de por “os pés ao caminho”, o Papa sugere: “aproveito esta ocasião para reiterar que ‘todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de o anunciar sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigaç-ão, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um banquete apetecível’. A conversão missionária permanece o principal objetivo que nós devemos propor como indivíduos e como comunidade, porque ‘a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja”.

Francisco conclui recordando os aspectos destacados em sua mensagem: “Saiamos também nós, iluminados pelo encontro com o Ressuscitado e animados pelo seu Espírito. Saiamos com corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho, para fazer arder outros corações com a Palavra de Deus, abrir outros olhos para Jesus Eucaristia, e convidar todos a caminharem juntos pelo caminho da paz e da salvação que Deus, em Cristo, deu à humanidade”.

Fonte: Vatican News

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Igreja Sinodal: missão de todos

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

“Uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, consciente de que 'escutar é mais do que ouvir" (Evangelii Gaudium, 171)

“Uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta, consciente de que 'escutar é mais do que ouvir" (Evangelii Gaudium, 171)

O Concílio Vaticano II já apresenta de forma inovadora a Igreja, resgatando, na verdade a sua sinodalidade original, partindo não de sua hierarquia, mas de sua base, o conjunto do povo de Deus, em que todos gozam de igual dignidade e fundamental igualdade e vocação (Lumen Gentium, 30), estão capacitados a participar ativamente da missão evangelizadora da própria Igreja LG 9 e 10. Recebem um decreto próprio sobre o apostolado dos leigos (Apostolicam Actuositatem) que afirma existir a diversidade de ministérios na Igreja, mas unidade na missão (AA, 2), podendo os leigos e leigas por direito e por dever exercer seus carismas próprios (AA , 3). Essa eclesiologia conciliar é decisiva para a realização de uma Igreja sinodal.

A importância das Igrejas locais pelo significado pastoral da cultura local para a expressão e práticas da fé (Ad Gentes, 22) seja pelas formas e métodos adequados ao apostolado (Christus Dominus, 38), seja pela sua utilização na liturgia, de tal modo que a Igreja local seja realmente sujeito teológico e cultural da evangelização. Daí a necessidade de se aprofundarem as relações de colegialidade episcopal com o papa, a cabeça do colégio com sua autoridade petrina, conforme a revalorização feita pelo próprio Concílio (LG, 21-23). Enquanto membro do colégio episcopal, o bispo deve ter "solicitude pela Igreja universal", em comunhão com o Papa, exercendo de várias formas a corresponsabilidade no pastoreio da Igreja, na missão de ensinar, santificar e reger.

O Papa também retoma a metodologia da Gaudium et Spes, Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II, partindo da vida real, no diálogo com a cultura, a ciência, a experiência histórica: "É salutar prestar atenção à realidade concreta, porque os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história" (Amoris Laetitia,31). Igualmente insiste que se deve considerar a situação real de cada ser humano antes de proferir um juízo moral (EG, 44). Manifesta um profundo respeito à trajetória pessoal de cada fiel, sem lançar sobre ele as normas gerais, sem analisar a capacidade individual de cada pessoa em seu processo de vida, num acompanhamento caso a caso. A vida cristã é vista como um processo (EG, 166), " Um caminho de crescimento no amor" (EG, 161) que deve ser acompanhado e ajudado (EG, 169) dando tempo ao tempo (EG, 171) uma vez que Deus "não exige uma resposta completa, se ainda não percorremos o caminho que a torna possível" ( EG, 153)."É preciso evitar juízos que não levam em consideração a complexidade das diversas situações e é necessário prestar atenção ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa de sua condição" (AL, 296).

Dentro da perspectiva da eclesiologia do povo de Deus, com forte base bíblica enfatizada no Concílio Vaticano II, o Papa ressalta: Por se tratar de um povo incumbido de uma tarefa (EG, 114), "a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja" (EG,15). É uma Igreja "em saída" (EG, 20), sendo que todos os seus membros devem assumi-la pelo fato que todo "batizado, independentemente da própria função da Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização" (EG, 120). A missão pertence sem mais à identidade do cristão (EG, 273). Portanto, sujeito da evangelização é todo o "povo que peregrina para Deus" (EG, 111), sujeito coletivo ativo (EG, 122). Insiste na participação ativa de todos os fiéis em razão do Batismo (EG, 102), sobretudo a contribuição importante das mulheres para a comunidade eclesial (EG, 103).

No processo sinodal, o Papa Francisco valoriza as expressões populares de fé das comunidades: "Na piedade popular o protagonista é o próprio Espírito Santo" ( EG, 122); Há uma "manifestação teologal animada pela ação do Espírito Santo" abordado "com o olhar do Bom Pastor" (EG, 125); "Na piedade popular, por ser fruto do Evangelho inculturado, subjaz uma força ativamente evangelizadora que não podemos subestimar: seria ignorar a obra do Espírito Santo"( EG, 126). Constitui um verdadeiro lugar teológico (EG, 126), no protagonismo dos pobres e simples na sinodalidade da Igreja.

O Papa valoriza sobremaneira a ação do Espírito no povo simples, nos pobres: "têm muito a nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que nos deixemos evangelizar por eles" (EG,198). Apresenta o discernimento comum do caminhar juntos no Espírito: "Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede" (EG, 20). E alerta para o verdadeiro sentido da autoridade - servir a todos na comunidade eclesial missionária: "Não esqueçamos isto jamais! Para os discípulos de Jesus, hoje e sempre, a única autoridade é a autoridade do serviço; o único poder é o poder da cruz".

Repetindo as palavras de Jesus sobre a busca do poder e a opressão dos líderes do mundo, expressa: "Entre vós não deverá ser assim. À luz dessas palavras compreendemos o que significa o serviço hierárquico".  Portanto, "na Igreja, as funções não justificam a superioridade de uns sobre os outros" (EG, 104).

E fala sobre as mentalidades de muitos agentes pastorais que podem se apresentar mais administradores que pastores (EG, 63) satisfeitos "com o pragmatismo cinzento da vida cotidiana da Igreja" (EG, 83), sujeitos a um "mundanismo espiritual" (EG, 93), numa "suposta segurança doutrinal ou disciplinar que dá lugar a um elitismo narcisista e autoritário" (EG, 94), que "se desdobra num funcionalismo empresarial" (EG, 95). Neste contexto, o clericalismo se torna um sério obstáculo para uma Igreja realmente sinodal. Mesmo aquele mais distorcido que tende a contaminar os próprios leigos.

Leiam, para um aprofundamento, o livro de base deste artigo: "Igreja Sinodal". Teologia do Papa Francisco, de Mário França Miranda, Paulinas.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo

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"Adoção: amor com os laços do coração"

segunda-feira, 09 de outubro de 2023

No último domingo, 8, a Igreja em todo o país encerrou a Semana Nacional da Vida e celebrou o Dia do Nascituro. A iniciativa é da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF). Neste dia, o subsídio Hora da Vida propôs uma reflexão sobre o direito de as crianças nascerem e serem acolhidas em uma família.

No último domingo, 8, a Igreja em todo o país encerrou a Semana Nacional da Vida e celebrou o Dia do Nascituro. A iniciativa é da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF). Neste dia, o subsídio Hora da Vida propôs uma reflexão sobre o direito de as crianças nascerem e serem acolhidas em uma família. Tema relevante na luta contra o aborto, que pode ser descriminalizado com o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442 no Supremo Tribunal Federal (STF).

“É um tema que nos faz defender, ainda mais, a vida desde a concepção até o seu fim natural. A adoção, diante da recusa em ter o filho, pode ser uma verdadeira resposta a esta discussão sobre o aborto. Por isso, a Igreja incentiva e propõe a reflexão como forma de proteger essas crianças, que poderão encontrar um lar para ser acolhidos e amados”, comentou padre Rodolfo Pinho, assessor da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Durante os dias da Semana Nacional da Vida, os encontros abordaram a questão de casais que não puderam conceber seus filhos, mas que se abriram à vida ao acolher as crianças que não puderam viver com seus pais. Por outro lado, foi discutida a questão de mulheres que, por vários motivos, são tentadas a abortar ou a abandonar seus filhos e o papel dos fiéis e da Igreja para encontrar soluções para este problema. O texto proposto no livreto recorda o que o Papa Francisco falou sobre o assunto:

“A adoção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa e desejo encorajar aqueles que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado de um ambiente familiar adequado. Nunca se arrependerão de ter sido generosos. Adotar é o ato de amor que oferece uma família a quem não a tem” (Amoris Laetitia, 179).

 

Entrega Legal

A entrega voluntária de bebês recém-nascidos para adoção é garantida legalmente e regulamentada pela Lei da Adoção (13.509/2017). A medida possibilita que uma gestante ou mãe entregue seu filho para adoção, em um procedimento assistido pela Justiça da Infância e Juventude. No Brasil, em 2021 foram registradas 1.312 entregas voluntárias no país, número que subiu para 1.667 em 2022.

Dom Reginei José Modolo, bispo auxiliar de Curitiba-PR e membro da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, conta que na entrada da Casa Pró-Vida Imaculada Conceição, na capital paranaense, há uma árvore com mais de 200 crianças e mães que já passaram pela entidade – que deixaram de ser abortadas ou que encontraram um novo lar para serem amadas e cuidadas.

“Aproveitamos este momento para anunciar a beleza do que é possível ajudar aquelas mulheres que receberam o anúncio do Evangelho da Vida. Tem gente que tem esse amor para oferecer e que ela pode ficar muito tranquila, seja em relação às questões legais ou humanas, para doar essa criança”, comentou.

Outra experiência é a da Associação Civil Quintal de Ana (www.quintaldeana.org.br), conduzida pelo casal coordenador nacional de Casos Especiais, Sávio e Bárbara Bittencourt. Eles têm cinco filhos e dão suporte a famílias que querem adotar. Há 20 anos o casal trabalha com a preparação de pretendentes à adoção, o apoio e orientação de famílias adotivas, apadrinhamento afetivo e a busca ativa para crianças e adolescentes sem família.

“É importante se posicionar contra o aborto, mas há diversas ações que podemos fazer em nosso cotidiano, como visitar aquela criança que está institucionalizada, ela também merece uma família. Ir lá, dar um abraço, é uma experiência muito bonita e que abre os nossos horizontes”, reforçou o bispo.

 

Gestos concretos

Como de costume, neste dia, a Pastoral Familiar convidou os fiéis a realizar um gesto público de propagação da ‘Luz de Cristo’ para que possa iluminar e proteger as vidas vulneráveis e indefesas, além de promover o tema da adoção. Nesta data foi realizada em Nova Friburgo a Caminhada em Defesa da Vida, com a participação das paróquias, agentes pastorais, instituições católicas e outras instituições cristãs da sociedade friburguense.

Além disso, durante os encontros, os participantes foram chamados à realização de gestos concretos em favor da vida como: a prática da adoção; conhecer o Programa Família Acolhedora e, sendo possível, colocar-se a serviço capacitando, acolhendo ou divulgando; contribuir com os centros de acolhida da mãe gestante; ser membro de Comissões Diocesanas de Bioética; entre outros.

Fonte: CNBB

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Uma igreja sinodal: comunhão, participação e missão

segunda-feira, 02 de outubro de 2023

O extraordinário e inédito processo de escuta de todo o povo de Deus, por dois anos, depois estendido para três, lançado nos dias 9-10 de outubro de 2021, em Roma, pelo profético Papa Francisco, nos projeta neste mês de outubro, mês das missões, numa primeira Assembleia do Sínodo dos Bispos, em nível mundial, sobre o tema da sinodalidade da Igreja, no seu agir em comunhão, participação e missão.

O extraordinário e inédito processo de escuta de todo o povo de Deus, por dois anos, depois estendido para três, lançado nos dias 9-10 de outubro de 2021, em Roma, pelo profético Papa Francisco, nos projeta neste mês de outubro, mês das missões, numa primeira Assembleia do Sínodo dos Bispos, em nível mundial, sobre o tema da sinodalidade da Igreja, no seu agir em comunhão, participação e missão.

Este caminho já proposto pelo Concílio Vaticano II e impulsionado pelo iluminado Papa São Paulo VI - a sinodalidade - foi expresso nas últimas décadas, pela implementação do Sínodo dos Bispos, como um forte e rico momento de escuta do Sucessor de Pedro dos seus irmãos, sucessores dos apóstolos, espalhados no mundo inteiro, representando e ecoando as realidades e anseios de seus milhares de rebanhos. Estes processos enriqueceram muito a reflexão de toda a Igreja sobre diversos temas, com a contribuição das mais variadas culturas e especificidades dos países representados por seus pastores, com a assessoria de vários peritos, clérigos, religiosos e leigos. Estas proposições dos padres sinodais serviram de base para importantes e renovadoras Exortações Apostólicas pós-sinodais, assinadas pelos pontífices desde São Paulo VI.

Mas, com certeza, faltava um aprofundamento sobre a própria sinodalidade, exercitando não só a colegialidade episcopal, alcançando de forma representativa as comunidades. Já há tempos, era sugerido, inclusive pelo próprio Papa Francisco, um processo de "caminhar juntos", escutando diretamente todas as expressões do povo de Deus, colhendo das bases das comunidades e dos cristãos, dos não cristãos e da sociedade em geral, as impressões, testemunhos e dados referentes à essencialidade da Igreja, em sua "comunhão, participação e missão", ouvindo, deixando que todos tomem a palavra, falando com coragem, integrando liberdade, verdade e caridade; celebrando a Palavra e a Eucaristia, na corresponsabilidade missionária, participando da comunidade eclesial e no serviço à sociedade, com responsabilidade social e política, no diálogo e na busca da justiça e do bem comum, salvaguardando os direitos humanos, no cuidado com a casa comum; fomentando a união e diálogo ecumênico, a partir de um único Batismo, investindo na sinodalidade como um princípio educativo para a formação da pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades, numa decisão por discernimento com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito; tornando as lideranças e membros da Igreja mais capazes de caminhar juntos, de se ouvir mutuamente e de dialogar, num crescimento em comunhão, aumentando a participação ministerial e o comprometimento missionário.

O que este processo lançado pelo Papa quis e quer saber, após longa e larga escuta do povo de Deus nas diversas paróquias, dioceses, regiões, países, continentes, ouvindo também as mais variadas instituições da sociedade, foi e é exatamente o que se refere a estas iluminações de como a Igreja pode e deve realizar a sua missão de modo sinodal, ao mesmo tempo consignando a sinodalidade como forma, estilo e estrutura da mesma Igreja, na atualização de sua corresponsabilidade e participação na missão da nova evangelização essencialmente unida à promoção humana. Por isto, foi aberta em todas as dioceses do mundo, no dia 17 de outubro de 2021, a fase de escuta de todos os representantes deste múnus conjunto e de seu contexto social de desenvolvimento.

Na nossa Diocese de Nova Friburgo, houve uma missa de abertura nesta data, na querida Paróquia Nossa Senhora das Graças, em Olaria, às 16h, presidida pelo nosso bispo diocesano, D. Luiz Antonio Lopes Ricci, que ressaltou a importância de auscultar, termo do vocabulário médico que nos remete a um exame mais sensível e aprofundado da nossa realidade para um diagnóstico que nos direciona para a superação dos desafios, para a saúde da Igreja, em sua vida e missão. Com uma comissão diocesana e um material distribuído a todas as paróquias, comunidades e demais representações, foram feitos um levantamento e uma síntese diocesana enviada para a fase regional e nacional, depois unida à síntese da fase continental.

Agora, nesta semana, a partir do dia 4 até o próximo dia 29, acontecerá a XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos com o Papa Francisco, refletindo o Instrumento de trabalho, texto elaborado com as contribuições do mundo inteiro coletadas no amplo processo de escuta. São 464 participantes, com 365 membros, incluindo o Papa, cardeais, bispos, com a novidade implementada pelo Papa de religiosos e leigos com direito a voto, dentre eles, 54 mulheres eleitoras, participando também na sinodalidade decisória e dois bispos chineses aprovados pela autoridade do Papa. É um forte momento da nossa Igreja de oração, unidade e partilha de corresponsabilidade sinodal, construindo novos e necessários caminhos de missão, sob o sopro e impulso do Espírito Santo.

Foi feita uma Vigília Ecumênica de oração, neste último dia 30 de setembro, presidida pelo nosso Bispo Diocesano, na Paróquia Santo Antônio e São Francisco de Assis, em Nova Friburgo, com os fiéis das paróquias, na intenção deste Sínodo, conforme o pedido do Papa Francisco, em união com o Sucessor de Pedro também foram realizadas outras vigílias nos outros vicariatos da diocese. Depois deste evento, haverá ainda uma segunda Assembleia Sinodal em 2024, estendendo o processo, para o amadurecimento do caminho. Por fim, todo este trabalho de escuta e enriquecimento mútuo, fruto de toda uma comunhão e cooperação, continuará o processo sinodal na fase de execução, com a mesma participação e entusiasmo das dioceses, comunidades e expressões eclesiais missionárias.

Rezemos e participemos deste belo e histórico caminho junto, como irmãos, numa igreja constitutivamente sinodal, aplicando cada vez mais estes princípios e ensinamentos do Concílio Vaticano II. Boa missão para todos!

 

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da Comunicação Institucional da Diocese de Nova Friburgo 

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Em defesa da Vida

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Desde que a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, que propõe a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, foi protocolada, em 2017, no Supremo Tribunal Federal (STF), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se manifestado por meio de notas, participação em audiências públicas e no diálogo aberto com as autoridades.

Desde que a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, que propõe a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, foi protocolada, em 2017, no Supremo Tribunal Federal (STF), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se manifestado por meio de notas, participação em audiências públicas e no diálogo aberto com as autoridades.

O atual secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, quando ainda era bispo de Rio Grande-RS, representou a conferência na audiência pública sobre descriminalização do aborto convocada pela ministra do STF, Rosa Weber, em agosto de 2018.

Na ocasião, dom Ricardo falou que a ADPF 442 é um tema jurídico delicado, sensível, altamente polêmico e envolve razões de ordem ética, moral e religiosa para manter a legislação como está e destacou a importância de considerar os reais sujeitos a serem tutelados e citou propostas alternativas à prática, como o apoio da Igreja.

“O direito à vida é o mais fundamental dos direitos e, por isso, mais do que qualquer outro, deve ser protegido. Ele é um direito intrínseco à condição humana e não uma concessão do Estado. Os Poderes da República têm obrigação de garanti-lo e defendê-lo”, disse durante audiência pública.

Direito à vida

O bispo lembrou ainda em seu discurso um trecho da nota de 2017 da CNBB. “Não compete a nenhuma autoridade pública reconhecer seletivamente o direito à vida, assegurando-o a alguns e negando-o a outros. Essa discriminação é iníqua e excludente”. (Nota CNBB, 11/04/2017).

Em um outro trecho de sua participação, dom Ricardo fez sua fala direcionada à ministra Rosa Weber, que votou na madrugada da ÚLTIMA sexta-feira, 22, pela descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação. O julgamento teve início no Plenário Virtual, mas foi suspenso por pedido de destaque do ministro Luís Roberto Barroso.

“Eu quero iniciar com um ato de agradecimento à Sra. Exma. Ministra Rosa Weber, que no primeiro dia dessa Audiência a Sra. reconheceu que: “trata-se de um tema jurídico delicado, sensível, altamente polêmico enquanto envolvem razões de ordem ética, moral e religiosa”. Diante disso é estranho, mas querem nos desqualificar como fanáticos e fundamentalistas religiosos impondo sobre o Estado Laico uma visão religiosa”, disse.

E continuou citando, com base na nota da CNBB de 11/04/2017: “Onde está o fundamentalismo religioso em aderir aos dados da ciência que comprovam o início da vida desde a concepção? Onde está o fanatismo religioso, em acreditar que todo atentado contra a vida humana é crime? Onde está o fundamentalismo religioso em dizer que queremos políticas públicas que atendam a saúde das mães e dos filhos? Por isso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, reitera sua posição em defesa da vida humana com toda a sua Integralidade (dado científico), Dignidade (Art. 1º da Constituição) e Inviolabilidade (Art. 5º da Constituição), desde a sua concepção até a morte natural”.

Fonte: CNBB

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Vida: direito inviolável

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

“Propus a vida e a morte; escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua Presidência, reafirma sua posição em favor da vida desde a concepção.

“Propus a vida e a morte; escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua Presidência, reafirma sua posição em favor da vida desde a concepção.

Diante do pedido de inclusão em pauta da ADPF 442 (2017), no Supremo Tribunal Federal (STF), que pleiteia a possibilidade de aborto legal até a 12ª semana de gestação, reafirmamos que “o aborto constitui a eliminação de uma vida humana, trata-se, pois, de uma ação intrinsecamente má e, portanto, não pode ser legitimada como um bem ou um direito” (Vida: Dom e Compromisso II: fé cristã e aborto, Edições CNBB, 2021, n.96).

Jamais um direito pode ser exigido às custas de outro ser humano, mesmo estando apenas em formação. O fundamento dos direitos humanos é que o ser humano nunca seja tomado como meio, mas sempre como fim. “Ninguém nunca poderá reivindicar o direito de escolher o que mais convém por meio de uma ação direta que elimine uma vida humana, pois nenhuma pessoa tem o direito de escolha sobre a vida dos outros” (Vida: Dom e Compromisso II, n. 97).

“A decisão deliberada de privar um ser humano inocente da sua vida é sempre má, do ponto de vista moral, e nunca pode ser lícita nem como fim, nem como meio para um fim bom” (Evangelium Vitae, n. 57).

Como já nos manifestamos em 2017, por meio da nota “Pela vida, contra o aborto”, reiteramos nossa posição em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural. Entendemos que os pedidos da ADPF 442 foram conduzidos como pauta antidemocrática pois, atropelando o Congresso Nacional, exigem do Supremo Tribunal Federal (STF) uma função que não lhe cabe, que é legislar diante de uma suposta e inexistente omissão do Congresso Nacional, pois se até hoje o aborto não foi aprovado como querem os autores da ADPF não é por omissão do Parlamento, senão por absoluta ausência de interesse do Povo Brasileiro, de quem todo poder emana, conforme parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal.

De qualquer forma, jamais aceitaremos quaisquer iniciativas que pretendam apoiar e promover o aborto.

Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, ajude-nos na missão de escolher a vida, como dom de Deus e compromisso de toda humanidade.

Brasília- DF, 13 de setembro de 2023

Dom Jaime Spengler

Arcebispo de Porto Alegre–RS e presidente da CNBB

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O Espírito Santo, intérprete da Escritura

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Para bem interpretar a  Escritura é preciso, portanto, estar atento àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles.

Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Para bem interpretar a  Escritura é preciso, portanto, estar atento àquilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e àquilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles.

Para descobrir a intenção dos autores sagrados, há que levar em conta as condições de sua época e de sua cultura, os gêneros literários em uso naquele tempo, os modos, então correntes, de sentir, falar e narrar. "Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras diferentes nos textos que são, de vários modos, históricos ou proféticos ou poéticos, ou nos demais, de outros gêneros de expressão "(Dei Verbum 12)

Por ser a Sagrada Escritura inspirada, há outro princípio da interpretação correta, não menos importante que a anterior, e sem o qual a Escritura permaneceria "letra morta". A Sagrada Escritura deve também ser lida e interpretada com a ajuda daquele mesmo Espírito em que foi escrita. O Concílio Vaticano II indica três critérios para a interpretação da Escritura conforme o Espírito que a inspirou.

1 - Prestar muita atenção “ao conteúdo e à unidade da Escritura inteira ", pois por mais diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una em razão da unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus é o centro e o coração, aberto depois da sua Páscoa.

2 - Ler a Escritura dentro “da Tradição viva da Igreja inteira ". Consoante um adágio dos Padres – “A Sagrada Escritura está escrita mais no coração da Igreja do que nos instrumentos materiais"(S. Hilário de Piiteira, S. Jerônimo, Origines). Com efeito, a Igreja leva, em sua Tradição, a memória viva da Palavra de Deus e é o Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da Escritura.

3 - Estar atento à “anagogia da fé " (cf. Em 12,6). Por "anagogia da fé” entende-se a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação.

Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e sentido espiritual, sendo este último subdividido em sentido alegórico, moral e anagógico. A concordância profunda entre os quatro sentidos garante toda sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja.

O sentido literal, significado pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese que segue as regras da correta interpretação. Todos os sentidos devem estar fundados no sentido literal.

O sentido espiritual. Graças à unidade do projeto de Deus, não somente o texto da Escritura, mas também os acontecimentos de que ele fala podem ser sinais.

O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos, reconhecendo a significação deles em Cristo. Assim, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo e também do Batismo (cf 1 Cor 10,2—11,3).

O sentido moral. Os acontecimentos relatados devem nos conduzir a um justo agora. Eles foram escritos "como advertência para nós," (1 Cor 10,11).

O sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos em sua significação eterna nos conduzindo (em grego "anagoge') à nossa Pátria. Assim, a Igreja na terra é sinal da Jerusalém celeste.

É dever dos exegetas esforçarem-se dentro destas diretrizes, por entender e expor com maior aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho de certo modo preparatório, amadureça o julgamento da Igreja, pois todas estas coisas que concernem à maneira de interpretar a Escritura , estão sujeitas, em última instância ao juízo da Igreja que exerce o divino ministério e mandato do guardar e interpretar a Palavra de Deus (Dei Verbum 12).

(Fonte: Catecismo da Igreja Católica 109-119)

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A Bíblia, a Palavra de Deus

terça-feira, 05 de setembro de 2023

Iniciamos o mês de setembro que a nossa Igreja dedica ao estudo e maior reflexão sobre a Bíblia, a Palavra de Deus que nos foi revelada pelo próprio Senhor, no decorrer da história, para a nossa salvação. Neste ano é proposta a leitura da Carta de São Paulo aos Efésios, com o lema "Vestir-se da nova humanidade" (Ef 4,24), para o aprofundamento e vivência da vontade de Deus em nossas comunidades eclesiais missionárias.

Iniciamos o mês de setembro que a nossa Igreja dedica ao estudo e maior reflexão sobre a Bíblia, a Palavra de Deus que nos foi revelada pelo próprio Senhor, no decorrer da história, para a nossa salvação. Neste ano é proposta a leitura da Carta de São Paulo aos Efésios, com o lema "Vestir-se da nova humanidade" (Ef 4,24), para o aprofundamento e vivência da vontade de Deus em nossas comunidades eclesiais missionárias.

Para uma maior compreensão da Revelação divina, devemos ler e estudar também a Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II que afirma: "Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e tornar conhecido o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9), pelo qual os homens, por intermédio do Cristo, Verbo feito carne, e no Espírito Santo, têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2,18; 2 Pd 1,4).

Mediante esta revelação, portanto, o Deus invisível (Col. 1,15; 1 Tim 1,17), levado por Seu grande amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15) e com eles se entretém (Bar 3,38) para os convidar à comunhão consigo e nela os receber. Este plano de revelação se concretiza através de acontecimentos e palavras intimamente conexos entre si, de forma que as obras realizadas por Deus na História da Salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras. Estas, por sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido.

No entanto, o conteúdo profundo da verdade seja a respeito de Deus, seja da salvação do homem de nós manifesta por meio dessa revelação em Cristo que é só mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação" (Dei Verbum 2).

Por acontecimentos no Antigo Testamento, como exemplo a libertação do Seu povo da escravidão do Egito, abrindo o Mar Vermelho e no deserto, mandando o maná, o pão do céu, como alimento, as codornizes e a água saída da rocha. Tudo isso narrado no livro do Êxodo. E a cura do povo ao olhar para a serpente de bronze (Números 21). Associados às palavras da Lei e dos Profetas, revelavam a vontade salvífica do Senhor.

No Novo Testamento, é a própria Palavra (Verbo) que se faz acontecimento (carne) e habita entre nós (Jo 1,14), entrando em nossa história para nós salvar, dizendo em primeira pessoa, como Deus feito homem, a vontade do Pai, na comunhão com o Espírito Santo. É a Boa Nova, o Evangelho, plenitude e culminância de tudo o que foi preparado no Antigo Testamento, da Lei e dos Profetas.

Os canais desta Revelação são a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição, o ensinamento oral, não escrito, mas que foi guardado pelo povo de Deus e que serve de base para a Sagrada Escritura, feita séculos ou décadas depois pelos hagiógrafos (autores humanos), inspirados por Deus. Assim, a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição são guardadas pela nossa Igreja desde os apóstolos que receberam de Cristo o ensinamento oral e depois escreveram.

E desta forma, os apóstolos se tornam o Magistério da Igreja, em comunhão com Pedro, sobre o qual Cristo fundou a sua Igreja; 'Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja... O que ligares na terra, será ligado nos céus. O que desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16,18).

Hoje o Papa, sucessor de Pedro na comunhão com os bispos, sucessores dos apóstolos, é o Magistério da Igreja, o autêntico intérprete da Sagrada Escritura e da Sagrada Tradição.

 

Padre Luiz Claudio Azevedo de Mendonça é assessor eclesiástico da comunicação institucional da Diocese de Nova Friburgo

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Papa: Jesus está ao nosso lado

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Jesus está vivo e nos acompanha, está ao nosso lado, oferece-nos a sua Palavra e a sua graça, que nos iluminam e restauram no caminho: Ele, guia experiente e sábio, tem a satisfação em nos acompanhar nos caminhos mais difíceis e nas subidas mais inacessíveis: disse o Papa Francisco neste  dia 27 de agosto, no Angelus do 21º Domingo do Tempo Comum

 

Quem sou eu para vós agora?

Jesus está vivo e nos acompanha, está ao nosso lado, oferece-nos a sua Palavra e a sua graça, que nos iluminam e restauram no caminho: Ele, guia experiente e sábio, tem a satisfação em nos acompanhar nos caminhos mais difíceis e nas subidas mais inacessíveis: disse o Papa Francisco neste  dia 27 de agosto, no Angelus do 21º Domingo do Tempo Comum

 

Quem sou eu para vós agora?

Na alocução que precedeu a oração mariana rezada com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Papa Francisco apresentou a pergunta que Jesus faz a seus discípulos: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?"

Essa é uma pergunta que também podemos nos fazer: o que as pessoas dizem sobre Jesus? Em geral, coisas boas - ressaltou Papa Francisco: muitos o veem como um grande mestre, como uma pessoa especial: boa, justa, coerente, corajosa... Mas isso é suficiente para entender quem é e, sobretudo, é suficiente para Jesus? Não.

De fato, prosseguiu o Pontífice, se Ele fosse apenas um personagem do passado - como as figuras mencionadas no Evangelho, João Batista, Moisés, Elias e os grandes profetas eram para as pessoas da época -, seria apenas uma bela lembrança de um tempo que se foi. E isso não agrada a Jesus. Por isso, logo em seguida, o Senhor faz aos discípulos a pergunta decisiva: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?" Quem sou eu para vós agora?

 

Jesus está vivo e nos acompanha

Cristo não é uma lembrança do passado, mas o Deus do presente. Se fosse apenas um personagem histórico, imitá-lo hoje seria impossível: nós nos encontraríamos diante da grande vala do tempo e, sobretudo, diante de seu modelo, que é como uma montanha altíssima e inalcançável, querendo escalá-la, mas sem a capacidade e os meios necessários.

Em vez disso, ressaltou o Santo Padre, Jesus está vivo e nos acompanha, está ao nosso lado, oferece-nos a sua Palavra e a sua graça, que nos iluminam e restauram no caminho: Ele, guia experiente e sábio, tem a satisfação em nos acompanhar nos caminhos mais difíceis e nas subidas mais inacessíveis.

Queridos irmãos e irmãs, na estrada da vida não estamos sozinhos, porque Cristo está conosco e nos ajuda em nosso caminho, como fez com Pedro e os outros discípulos. É justamente Pedro, no Evangelho de hoje, que entende isso e, pela graça, reconhece em Jesus "o Cristo, o Filho do Deus vivo": não um personagem do passado, mas o Cristo, ou seja, o Messias, aquele que é esperado no presente; não um herói morto, mas o Filho do Deus vivo, feito homem e que veio compartilhar as alegrias e as fadigas do nosso caminho.

 

Estendamos a mão uns aos outros

Não desanimemos, portanto, se às vezes o cume da vida cristã parecer muito alto e o caminho muito íngreme. Olhemos para Jesus, que caminha ao nosso lado, que acolhe nossas fragilidades, compartilha nossos esforços e apoia seu braço firme e gentil em nossos ombros fracos. Com Ele por perto, também nós estendamos a mão uns aos outros e renovemos nossa confiança: com Jesus, o que sozinhos parece impossível não o é mais!

Hoje nos fará bem repetir a pergunta decisiva que sai de sua boca: "Vós quem dizeis que eu sou?". Em outras palavras: quem é Jesus para mim? Um grande personagem, um ponto de referência, um modelo inatingível? Ou o Filho Deus, que caminha ao meu lado, que pode me levar ao topo da santidade, onde não posso chegar sozinho? Jesus está realmente vivo em minha vida, Ele é meu Senhor? Eu me confio a Ele em momentos de dificuldade? Cultivo sua presença por meio da Palavra e dos Sacramentos? Deixo-me guiar por Ele, junto com meus irmãos e irmãs, na comunidade?

Maria, Mãe do caminho, ajude-nos a sentir seu Filho vivo e presente ao nosso lado, concluiu o Papa.

 

Fonte: Vatican News

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