Julieta Santamaria, argentina, 25 anos, em jornada pelo Caminho da Mata Atlântica

Mulher destemida, ela iniciou uma verdadeira façanha: percorrer, à pé, os 4.500km da trilha que vai do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul
sábado, 23 de março de 2024
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)
A argentina Julieta Santamaria, 25 anos, chegou ao Brasil há cerca de um ano, vinda de Buenos Aires, onde nasceu. Desde então, viajou por várias lugares, conheceu muita gente e se interessou pelo “mundo das trilhas”. 

A trilha cruza mais de 130 áreas protegidas, diversas comunidades tradicionais, terras indígenas e históricas
Passou pela Reserva da Joatinga, em Paraty, pelo Parque Nacional da Tijuca, pelas praias da Barra da Guaratiba, Grumari, Ilhabela, entre outras paragens. Até que um día soube, por um amigo, do CMA [Caminho da Mata Atlântica]. Julieta se informou, se animou e sentiu que podia encarar a empreitada.

O Caminho da Mata Atlântica é uma trilha de mais de 4 mil km que percorre toda a Serra do Mar e um trecho da Serra Geral, entre os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A trilha tem seu limite norte no Parque Estadual do Desengano (RJ) e se estende até os cânions do Parque Nacional dos Aparados da Serra (RS).

Inspirada na  Appalachian Trail  norte americana, a trilha cruza mais de 130 áreas protegidas, diversas comunidades tradicionais e terras indígenas e une trilhas históricas, como o Caminho do Itupava (PR), os Caminhos do Mar (SP), o Caminho de Mambucaba (SP/RJ) e as travessias Petrópolis-Teresópolis e Lumiar-Sana (RJ). Serpenteando por montanhas e praias, a trilha passa também pelas paisagens da Ilha de Santa Catarina (SC), Ilha do Mel (PR), Ilhabela (SP) e Ilha Grande (RJ).

Tudo isso é muito mais do que uma trilha, é uma iniciativa que integra o montanhismo e o ecoturismo para promover desenvolvimento local e conservação da biodiversidade em um dos biomas mais ameaçados do mundo. Concebido em 2012, o caminho é uma iniciativa que tem como missão engajar a sociedade na conservação e recuperação da Mata Atlântica por meio de atividades ao ar livre e da conexão de áreas naturais ao longo de uma trilha de longo curso (TLC), promovendo o desenvolvimento socioeconômico inclusivo, a conservação da sociobiodiversidade e a valorização do patrimônio natural e cultural. 

Julieta conta. Me informei ao máximo e resolvi fazer por várias razões: desafio pessoal, principalmente, pois tem muitas coisas que gostaria de aprender. Nesse mundo é difícil ver uma mulher viajando sozinha, pelas coisas que acontecem, mas hoje, com as redes sociais, acho maneiro que outras mulheres possam perceber que também podem viajar, seguir seus sonhos independentemente de quais sejam. E também porque é uma forma de gerar um interesse nas pessoas sobre o fato de preservar o meio em que se vive, que sem ele não poderíamos ter a vida que temos. Gosto muito de viajar, conhecer pessoas, trocar ideias, ouvir as histórias. E fazer essa caminhada me permite tudo isso e seguir acreditando na bondade das pessoas”.

Uma longa e enriquecedora jornada

O Caminho da Mata Atlântica é a maior trilha contínua em implementação no Brasil, passando por 132 municípios, cinco estados e duas macrorregiões. Tendo seu extremo norte no Parque Estadual do Desengano, na cachoeira do Mocotó (Campos dos Goitacazes/RJ) e seu extremo sul no Parque Nacional de Aparados da Serra, no Canyon do Itaimbezinho (Cambará do Sul/RS). J

Já tem mais de 900km sinalizados e visa ser um grande corredor florestal por toda serra do mar e parte da Serra Geral, sendo assim, um corredor climático oferecendo resiliência a espécies deste bioma. O fortalecimento da cadeia produtiva do turismo é a peça-chave para termos um impacto positivo no local e assim mostrar que é possível regenerar a Mata Atlântica enquanto se gera riqueza para comunidade local.

Esta iniciativa, além de ser um potencial de geração de renda e fomento ao turismo regional, nacional e internacional, também abrange ao longo da mesma a restauração de ecossistemas, o fortalecimento de unidades de conservação e de comunidades tradicionais e base para pesquisas sobre a resiliência da Mata Atlântica frente às mudanças climáticas. 

O segmento de trilhas de longo curso atrai milhares de turistas por ano nos Estados Unidos e na Europa, já tendo rotas consolidadas no Chile e na Argentina. No Brasil, diversas iniciativas vêm sendo geridas nos últimos anos. O Caminho da Mata Atlântica é uma das iniciativas mais antigas em implementação no Brasil e talvez a que abarque mais elementos socioambientais nos seus objetivos. 

A trilha em Nova Friburgo

Em nosso município, a trilha percorre aproximadamente 80 quilômetros, atravessando áreas rurais, áreas florestais e áreas urbanas, contando já com 16 parceiros cadastrados oficialmente para apoiar os turistas que percorrerem o caminho, entre produtores de mudas, coletores de sementes, guias, pousadas, transfer e produtores agroecológicos da região. 

Atualmente a iniciativa já vem fortalecendo dois roteiros de turismo rural com produtores agroecológicos no município. A partir do fortalecimento desses roteiros, o caminho pretende diversificar a oferta de experiências ao turista que visita o local, e também diversificar as possibilidades de geração de renda aos proprietários rurais.

Até o momento, os resultados da iniciativa já alcançados são: trecho já sinalizado: + de 900 Km; 108 parceiros cadastrados no site do Caminho da Mata Atlântica (guias, pousadas, campings, transfer, etc); 4.393 voluntários cadastrados no site; três roteiros de agroecoturismo fortalecidos; três roteiros de TBC fortalecidos; área de restauração: 500 ha.; monitoramento da biodiversidade (flora e fauna), com 99 câmeras instaladas. 

Uma rede de pesquisadores que atuam em diversas áreas vem se formando para monitorar as condições ambientais e sociais e a biodiversidade ao longo do Caminho. 

“Nós enxergamos a iniciativa como uma estratégia para fortalecer a pesquisa e o conhecimento sobre a Mata Atlântica e apontar caminhos para a conservação e restauração do bioma e adaptação às mudanças climáticas. A mobilização de pesquisadores em torno desse projeto está em andamento e diversas publicações discutem o Caminho da Mata Atlântica e as trilhas de longo curso e suas contribuições para a conservação e sociedade.”

Mais informações em: https://caminhodamataatlantica.org.br/o-que-e-o-caminho/. Instagram da Julieta Santamaria: @Julisantta.

 

  • (Foto: Henrique Pinheiro)

    (Foto: Henrique Pinheiro)

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