A história do cacau e o trabalho escravo nos mercados de chocolate

Pouco mais de 70% da produção de cacau no mundo vem de 4 países africanos: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões
quinta-feira, 28 de março de 2024
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)
Afinal, como o cacau foi parar na África, se ele é um fruto nativo da América? E, além disso, porque a região que abastece quase todo o mundo com chocolate continua sendo uma das mais pobres do mundo? 

No Brasil, a Bahia é o maior estado produtor do fruto
A exploração colonial feita pelos europeus tem tudo a ver com a resposta para essas perguntas. O cacau já era usado pelos astecas para fazer uma bebida considerada sagrada há mais de dois mil anos. Junto com a semente, era acrescentado mel e baunilha. A mistura recebeu o nome de tchocoatl e deixou o comandante espanhol Hernán Cortez, recém-chegado ao México, muito interessado na receita. E não era para menos. 

O gosto peculiar da bebida não se parecia com nada antes provado pelo europeu. O cacau era tão importante para o Império Azteca, que era usado como moeda e valia mais do que prata e ouro. Era considerado uma fruta enviada pelos deuses. No Brasil, a Bahia é o maior estado produtor do fruto.

Na viagem de volta à Espanha, o colonizador Cortez levou consigo algumas mudas de cacaueiro, que resolveu plantar pelo caminho. Primeiro no Caribe — no Haiti e em Trinidad — e, por último, na África. 

Mas o chocolate como doce só se popularizou no século 19, quando o suíço Henri Nestlé (1814-1890) descobriu um método para condensar o leite e deixar as barras de chocolate menos amargas e mais parecidas com o que temos hoje. Por isso, as plantações de cacau na África só começaram a se expandir nesse período e se intensificaram com o advento do neocolonialismo e da dominação dos territórios do continente pelos europeus. 

Mesmo depois da independência de grande parte das colônias a partir de 1960,  multinacionais do ramo dos chocolates continuaram a financiar as fazendas de cacau, que usavam (e continuam usando) trabalho escravo em suas plantações, incluindo a exploração de crianças.

Além das denúncias de trabalho escravo feitas nos últimos anos, uma reportagem publicada pela Aventuras na História mostrou que parte dos lucros pela venda do cacau poderia estar financiando o conflito interno entre o governo da Costa do Marfim, que tem controle sobre o sul, e os rebeldes, que comandam a guerrilha no norte, segundo um relatório feito pela ONG Global Witness. 

Em 2010, um jornalista dinamarquês investigou o trabalho escravo e produziu o documentário “O Lado Negro do Chocolate”. Ele foi até a a África com ajuda de lideranças locais e filmou com câmeras escondidas o tráfico de crianças para as plantações de cacau da Costa do Marfim. 

Em 2014, foi a vez de uma TV holandesa produzir uma reportagem na Costa do Marfim sobre trabalhadores rurais que, apesar de produzirem diariamente toneladas de grãos de cacau, não conheciam o gosto do chocolate. O vídeo mostra as desigualdades sociais e a exploração da mão-de-obra africana para abastecer os mercados mundiais com esse doce. 

Quem estiver interessado em saber mais sobre o assunto e assistir ao vídeo, acessar: guiadoestudante.abril.com.br

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