Riograndina: 99 anos

Símbolo que dá nome ao distrito corre ao risco de não chegar aos 100 anos
sexta-feira, 27 de janeiro de 2023
por Christiane Coelho (Especial para A VOZ DA SERRA)
Riograndina: 99 anos

Neste sábado, 28, tem festa, promovida pela Prefeitura de Nova Friburgo no segundo distrito de Nova Friburgo, com várias atividades e atrações. Tudo em comemoração aos 99 anos de Riograndina completados na última quarta-feira, 25. A festividade é bem vinda na comunidade, mas alguns fatos geram tristeza e preocupação nos moradores, entre eles o abandono dos prédios históricos do distrito, que correm o risco de desabar antes do distrito completar 100 anos, caso as reformas necessárias não sejam feitas.

O conjunto da antiga estação ferroviária de Riograndina, que inclui ponte de ferro, a residência do administrador da Rede Ferroviária, a estação do trem e o depósito ferroviário, foi tombado provisoriamente em 1988, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) por sua importância cultural para o município. O complexo, no entanto, está com a estação, a casa e o galpão condenados pela Defesa Civil e com risco iminente de desabar, conforme relatou o presidente da Fundação D. João VI, Luiz Fernando Folly, em audiência pública, na Câmara Municipal, sobre o abandono dos equipamentos. “Os prédios de Riograndina são os que têm maior urgência de reforma”, relatou ele na ocasião.

Cultura comprometida

Morador de Riograndina, o artista e professor Jeferson Cunha, lamenta o fim do Ponto de Cultura que funcionava Casarão de Riograndina, que abrigou diversos cursos, como teatro, panificação, aula de percussão, artesanato, desenho, teatro, violão e cavaquinho. Hoje, o Casarão de Riograndina está de portas fechadas. “Já fizemos vários ofícios pedindo revitalização do espaço. Foram trocadas algumas telhas para que não pesasse mais sobre a estrutura. Se o problema é o Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural), que está emperrando a reforma do Casarão, vamos, então, pressioná-lo. O Ponto de Cultura do distrito de Riograndina tem que voltar a funcionar”, pediu ele.

Na ocasião, a prefeitura informou que a Fundação D. João VI fez, de forma paliativa, o escoramento do imóvel e a substituição de parte do telhado por uma telha mais leve, que eliminou os maiores vazamentos e infiltrações. Paralelo a isso, fez uma lista com uma série de itens indicados pelo Inepac após vistoria feita junto à Fundação. O processo foi protocolado no Inepac e, saindo a aprovação, será iniciado o processo de licitação para reforma do imóvel.

A prefeitura destacou ainda que desde os primeiros meses da atual gestão buscou as ações necessárias para recuperar todos esses imóveis que abrigam importantes equipamentos culturais na cidade, desenvolvendo projetos e buscando recursos ou parcerias.

No caso do casarão de Riograndina, existe um projeto de recuperação estrutural e reestruturação que foi apresentado ao Inepac para autorização, seguindo os trâmites para intervenções em bens tombados. Há alguns meses, o município aguarda a conclusão da análise técnica deste projeto.

Em nota, a prefeitura informou que “busca convênio com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Empresa de Obras Públicas (Emop), que tem um programa específico para manutenção de prédios. A obra no Teatro Municipal Laercio Ventura e no prédio do antigo fórum foram iniciadas antes das intervenções no casarão de Riograndina em função das burocracias que envolvem as liberações em bens tombados, que geralmente levam mais tempo para tramitar, em função das análises técnicas pertinentes ao tombamento, como é o caso do imóvel no segundo distrito”, diz a nota.

A prefeitura acrescenta que “outra questão que acelerou as ações de reforma no Teatro Municipal e no antigo fórum foi o fato de que os problemas estruturais nestes dois prédios poderiam se agravar e provocar danos maiores, aumentando o escopo das intervenções necessárias, enquanto no casarão de Riograndina, embora as obras sejam igualmente necessárias, existe uma contenção de segurança para evitar agravamento da situação.” Sobre o galpão, a prefeitura informou que ele não pertence e nem é utilizado pelo município.

Ponte sem restauração

Além do casarão, da estação do trem e do galpão, um dos pontos mais conhecidos do distrito é a ponte de ferro, onde o trem da linha de Cantagalo, da Estrada de Ferro Leopoldina, passava. “Há muitos anos, a ponte não é pintada nem restaurada, deixando o local com aspecto de abandono”, relatou Jeferson.

Em nota, a Prefeitura de Nova Friburgo informou que “o pontilhão de Riograndina também está na linha de frente dos projetos para recuperação e já existe um estudo para a sua recuperação aguardando a autorização do Inepac.”

Idosa comemora 99 anos junto com o distrito

A história de Hilda Storck Monteiro começou junto com a de Riograndina. Na ultima terça-feira, 24, ela completou 99 anos, um dia antes do distrito chegar à mesma idade. Lúcida e vaidosa, vovó Hilda não parece ter a idade que tem, contou para A VOZ DA SERRA que chegou ao distrito com dois meses de idade. “Eu nasci em Bom Jardim e minha família se mudou para cá quando eu tinha dois meses. Inclusive fui registrada aqui”, disse a moradora mais antiga de Riograndina.

O distrito cresceu junto com ela. “Quando eu era criança só havia duas casas aqui. Não tinha escola, posto de saúde, comércio, nada”, relata Hilda, que viu a chegada de mais moradores e toda a evolução do local. Ela e sua família trabalhavam na lavoura. 

Hilda casou-se aos 16 anos com o vizinho, Eduardo Monteiro. A união, gerou duas filhas, 12 netos, 14 bisnetos e quatro tataranetos. Saudosa, ela lembra com emoção quando o trem passava pelo distrito. A idosa morou muito tempo no centro de Riograndina, perto da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário. Viúva desde 1985, hoje reside no Loteamento Maringá, com o neto Paulo Sérgio e sua família. 

Sempre solícita com a vizinhança, vovó Hilda é conhecida no distrito por fazer um xarope de romã, que ajuda as pessoas com problemas de garganta. Questionada sobre o segredo de chegar aos 99 anos tão bem, lúcida, com saúde, a resposta está na ponta da língua: “É Deus!”. Nosso próximo encontro já está marcado para 24 de janeiro de 2024, quando Hilda completará 100 anos, junto com Riograndina.

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