Blog de paulafarsoun_25873

Projeto

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Para que a construção de uma obra nova dê certo, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Para que a construção de uma obra nova dê certo, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Seres humanos não são esse tipo de projeto que elaboramos com técnica. Somos, na verdade, uma obra sempre inacabada e complexa. Imperfeita por natureza. Em evolução (ou involução). O projeto é de vida e não há nada mais pessoal do que isso. O outro, por mais perito no assunto que seja, não pode precisar com exatidão o que acontece no interior da obra, nem apresentar soluções lapidares.

Esse terreno – que somos nós – não está descoberto a ponto de desvendarmos seus desníveis pelo olhar. Tem até areia movediça por baixo do mato verde. Tem de tudo, como se diz.

Investimos preciosos minutos de vida construindo uma imagem do outro. Supondo coisas. Julgando e prejulgando pelo pouco que conhecemos a seu respeito. Por isso o culto reverenciado pela imagem. Nem sempre a real. Quase sempre a projetada. A que pode ser vista. Isso é uma grande tolice, pois ao construirmos pessoas fictícias em nosso imaginário, empenharemos o dobro de energia para desconstrui-las, pois comumente erramos as análises. Os outros não são o que pensamos deles. Os outros são o que são.

Seria interessante se aceitássemos que o jogo começa com as peças do quebra-cabeças desmontadas, para então, com o tempo pudéssemos aprofundar e conhecer a imagem real que será formada. Daria menos trabalho e as surpresas talvez fossem mais prazerosas. Ou mais reais.

Mania estranha essa de querermos jogar um jogo ganho. Imagens preestabelecidas. Vencedores determinados. E no final das contas, a frustração da decepção. O girassol que eu estava montando no meu quebra-cabeças não passa de uma forma geométrica e sem sentido. Uma bola amarela. E vice e versa. Quantos girassóis deixamos de descobrir no meio do jogo justamente por superficialmente só enxergarmos a bola amarela. Sem essência. Forma e não flor.

Desconstruir é preciso. E se tivermos ânimo, reconstruir. Não sei se me fiz entender. Mas também não é preciso. Referenciando mais uma vez Clarice Lispector: “ não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Não me preocupo, pois.

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Gênio da lâmpada

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Quem não fantasiou, quando criança, com a possibilidade de encontrar o “gênio da lâmpada mágica” a quem seria possível fazer quaisquer pedidos do mundo? O que você, lá atrás pediria? Três pedidos. Perguntei a crianças próximas e as respostas foram essas: “todo chocolate do mundo”; “férias o ano inteiro”; “ não precisar tomar banho”; “ganhar um animal de estimação”, “morar perto dos meus amigos” e “que Papai Noel existisse de verdade”.

Quem não fantasiou, quando criança, com a possibilidade de encontrar o “gênio da lâmpada mágica” a quem seria possível fazer quaisquer pedidos do mundo? O que você, lá atrás pediria? Três pedidos. Perguntei a crianças próximas e as respostas foram essas: “todo chocolate do mundo”; “férias o ano inteiro”; “ não precisar tomar banho”; “ganhar um animal de estimação”, “morar perto dos meus amigos” e “que Papai Noel existisse de verdade”.

As crianças um dia crescem e os milagres pretendidos por nós, adultos, ganham outra dimensão. Aproveitei a deixa e fiz uma singela “pesquisa de campo” com alguns adultos também:  “ -quais seriam seus três pedidos?”. Agreguei uma dificuldade à pergunta: “ – responda sem pensar”. E ouvi, curiosa e atenta, as suas respostas. E foram justamente elas que me levaram à novas reflexões.

Percebi dentro daquele contexto em que estávamos, que ninguém demandaria do gênio a paz mundial, alimentos orgânicos para todos, fim da fome, da corrupção, da violência de gênero, do preconceito, a preservação do meio ambiente ou liberdade. Que desperdício. Alguém precisaria pugnar por esses milagres, não? Felizmente, o amor entrou no rol de pedidos. Ninguém falou sobre amor pela humanidade ou por amar a todos os seres. As respostas foram assim:  “ encontrar o amor esse ano”; “ ser feliz no amor”; “não sofrer por amor”; “ finalmente ter sorte no amor”. Percebi que relacionamento importa e muito, a ponto de valer pelo primeiro dos três quaisquer pedidos no mundo.

O que também não me surpreendeu foram os pedidos ligados à parte material e financeira; “ ganhar na mega sena”; “ quitar minhas dívidas”; “comprar meu apartamento”; “ficar rico sem trabalhar”. As respostas foram mais ou menos essas. De fato, é uma preocupação de muitas pessoas.

Diante da realização no amor e o dinheiro no bolso com as contas pagas, fiquei ansiosa pelos próximos últimos pedidos. Bem, devo dizer alguns deles optaram por viagens, uma delas desejou aumentar a família, um quis a tão sonhada felicidade e outros desejaram amenidades.

A brincadeira passou, mas a reflexão permaneceu, afinal de contas, quem não deseja que coisas boas possam lhes acontecer repentinamente? Considerando que o milagre dos três pedidos não passa de uma ficção e não acontecerá com ninguém, o que cada um deles está efetivamente fazendo para alcançar os objetivos não tão milagrosos assim? O que fazem e melhoram em si como pessoas para atraírem o amor verdadeiro? O quanto se esforçam e trabalham para realizarem conquistas financeiras? É bom pensarmos nisso e também sobre a razão de sermos egoístas a ponto de gastarmos nossos desejos emanados para o Universo com propósitos tão-somente individuais e não coletivos também.

E você, quais os três desejos que transformariam sua vida seriam feitos ao gênio da lâmpada mágica? Sejam vocês, ou melhor, sejamos nós os nossos próprios realizadores de sonhos.

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Animador ou desanimador?

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

"Quem foi rei nunca perde a majestade ", diz o provérbio. Pensemos, pois, na ideia que se extrai não da frase, mas do sentimento de pertencimento a essa posição superior versus o treinamento de humildade muitas vezes imposto pela vida o qual parece encomendado para aprimorar aqueles que detém dessa soberba ou vaidade.

"Quem foi rei nunca perde a majestade ", diz o provérbio. Pensemos, pois, na ideia que se extrai não da frase, mas do sentimento de pertencimento a essa posição superior versus o treinamento de humildade muitas vezes imposto pela vida o qual parece encomendado para aprimorar aqueles que detém dessa soberba ou vaidade.

Muitos dizem que quanto mais alto se voa, maior costuma ser o tombo. Animador ou desanimador ? Acho que depende do solo que se semeia enquanto a subida é preparada. Não temos que temer. Quem tem a terra protegida, pode ser que eventual queda nem machuque. Quem planeja um voo responsável minimiza a chance de queda. Quem encontra proteção Superior, provavelmente sequer vislumbrará o risco. Quem plantou gratidão das pessoas nessa caminhada, certamente encontrará cuidados e acolhimento. Ou seja, tem mais a ver com a maneira de voar do que com a altura atingida. 

É muito estranho imaginar uma existência sem prospecção de melhora em alguns aspectos da vida, sem sonhos que fomentem os movimentos, sem base para apoiar os pés para subir mais degraus da escada. É tão bonito observar o voo dos pássaros, tão bonito perceber o voo de gente. Ainda mais essa gente que aprendeu a voar, sem esquecer do quão firme e instável é o solo onde nasceu, sem esquecer do ninho de onde veio.

Tom Jobim propriamente disse que “o Brasil não é para principiantes”. O mundo todo talvez não seja. É preciso aprender, resistir, empregar esforço e sobreviver. Constantemente. Preferencialmente e prioritariamente, de forma digna. Quantos entre nós vive sentindo-se rei da vida do outro? Quantos entre nós esquecem diariamente de exercer a humildade?  E a humanidade ? Quantos tentam voar sem asas, com asas quebradas, com asas roubadas, com asas falsa? Que voam sem terem para onde irem ou para onde voltarem? Sem rumo na vida? Quantos sequer sabem que podem voar e não enxergam para além da folha seca do ninho? 

Somos toda essa gente múltipla, diversa, complexa por natureza. Seríamos melhores se nos apoiássemos a voar, se nos ensinássemos, nos apoiássemos, se subíssemos os degraus da escada e de cima, puxássemos os próximos para um patamar melhor, um nível mais alto da escala de valores. A desigualdade social é estrondosa. Há muitos que se pensam majestades e olham para os demais como súditos. E vice e versa. Gente que não voa e não deixa os demais voarem. Essa gente que não quero ser nem ter perto de mim.

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Novo Semestre

quinta-feira, 03 de agosto de 2023

Tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido, culminando com as festas de final de ano).

Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim?

Tudo novo. De novo. É chegado o momento do retorno, do semestre novo na faculdade, do fim das férias escolares, do início do ciclo do meio do ano (aquele que parece passar super rápido, culminando com as festas de final de ano).

Várias pessoas mudam os cortes de cabelos. Sorrisos revigorados. Encontros não programados. Alunos desfilam uma ou outra roupa nova. Cadernos recém-saídos das estantes das papelarias ganham espaço. Pastas organizadas nos computadores. Energia renovada. Não é assim?

Bom, para alguns, eu acho que sim. O retorno esconde certa magia e disposição, apesar do estoque de inegável cansaço, pois não necessariamente as férias de meio de ano significam tempo à disposição e descanso. Mas ainda assim é uma pausa e o reinício é um tanto interessante.

Quais são as novidades? Quem vamos conhecer? Quem vamos reencontrar? Quais as metas a perseguir, os desafios a percorrer? Dá até um frio na barriga. Recomeços são muito interessantes e podem ser presságios de ricas experiências. A vida é repleta de momentos como a volta às aulas. São sequências de ciclos a serem orquestradas muitas vezes com maestria, outras, nem tanto.

Esse grande barato dos reencontros com o ambiente que nos acolhe por longas jornadas e com as pessoas que dão vida a ele não pode ser ofuscado pela correria incessante que os tempos de hoje não raras vezes nos impõem. Tenho a sensação de que a vibração com que começamos etapas novas ditam o ritmo e a cadência do período vindouro. O que esperar das misteriosas semanas que estão por vir? Não podemos prever as adversidades, nem as mudanças, muito menos as próximas surpresas. Mas, uma coisa não podemos negar: querendo ou não todas elas acontecem. Invariavelmente. De uma maneira ou de outra. Como tiverem de ser.

Então, que estejamos prontos para acolher o que está por vir começando pelo dia de hoje repleto das sementes que pretendemos colher. É leveza que eu quero? Então que eu seja leve. É emoção que espero? Então deixo o sentimento fluir. São sorrisos sinceros? Então que eu sorria - com a alma! 

Se a “volta às aulas” da vida contar com nossa parcela de contribuição positiva para equilibrar esse “velho mundo” com o “tudo novo”, estou certa de que essa longa jornada contará com um sabor especial. E por que não com gostinho de felicidade?

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Sem comparações

quinta-feira, 27 de julho de 2023

A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que enquanto todos viajam para lugares paradisíacos, enquanto trabalhamos? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? De onde tiramos a ideia de que o melhor está lá e não aqui?

A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que enquanto todos viajam para lugares paradisíacos, enquanto trabalhamos? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? De onde tiramos a ideia de que o melhor está lá e não aqui?

Percebo uma zona cinzenta em que um contingente incontável de seres habitam. O dia de hoje está aquém do que deveria estar, e ao mesmo tempo, quando a coisa piora, se percebe que aquele dia estava na verdade muito bom. Uma comparação constante e massiva com o colega do lado. Uma observação para o que acontece do lado de fora que cega as pessoas para o lado de dentro de seus lares e seus corações. Dá medo. Eu não quero sentir isso e desejo fortemente que não sintam isso em relação a mim.

Muita gente já não se contenta mais em ter saúde e paz. Faltam as fotos maravilhosas de viagens, o príncipe encantado, o melhor emprego, a casa mais frondosa. A vitrine das redes sociais, a meu ver, tem sido um portal para essa ilusão de que a vida do outro é mais feliz que a nossa. Prosperar é lindo. Amar e ser amado é uma dádiva. A realização profissional é uma alegria. Viajar é uma maravilha. O esquisito é o grau de comparação muitas vezes doentio que mingua algumas pessoas. 

A partir do momento em que uma pessoa agradece por tudo o que é, pelo que faz e pelo que possui, a coisa muda de figura. Na verdade, a grama do outro passa a não ter tanta importância. Quando somos gratos pelas oportunidades que temos, pela vida que nos é dada, pela proteção diária, pelas pessoas que nos cercam, conseguimos olhar para o outro com admiração e alegria por suas conquistas. Não com inveja. Não com cobiça.

Se é para olharmos para o outro lado do muro, que seja então para observarmos o tanto de esforço aquele "vizinho" emprega em prol de suas conquistas. E então, nos esforçarmos também. Empenho precede o resultado. Grandes conquistas decorrem de emprego de energia, preparação, renúncias, investimento de tempo etc etc etc. Salvo se a grama do vizinho for sintética, ela requer plantio e cuidados. E ainda que seja sintética, requer possibilidade de compra, que demanda trabalho, dinheiro, prioridade e por aí vai. Não é de graça. Não é à toa. Não somos um amontoado de seres aleatórios em que coisas boas acontecem arbitrariamente para os outros e as ruins, para mim.   

Somos resultado do que fazemos para mudar, para melhorar, para aprimorar. São mesmo dias de luta e dias de glórias. É a vida. Se o vizinho tem um relacionamento saudável e feliz, o que ele fez por merecer? Felicidade no amor não é para qualquer um. Tem que merecer, deve se dedicar, jogar energia boa para o universo, respeitar as pessoas, ser sincero, acolher o lado bom das pessoas. Não dá para ser um caçador de defeitos, andar com uma lupa para o negativo e encontrar pessoas maravilhosas com quem conviver. Somos todos imperfeitos. Todos. A grama alheia também pode ser. Não se pode julgar pela aparência.

Em tempos de terreno ermo, barreado, cheio de lama, a gente desanima. Mas aí é que temos que buscar aquela força que todos temos e poucos sabemos. A força de dentro. A mola da possibilidade de superação e realização. Falar é fácil, exercer essa ideia é mais difícil. Eu sei. Mas não subestimo nossa capacidade de decidir e perseguir o objetivo. O que eu quero? Ser grata em qualquer circunstância. Amar meu próprio jardim, mesmo quando as ervas daninhas insistirem em castigá-lo. E desejar que o jardim do outro tão garboso quanto eu quero que seja o meu.

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Projeto Sorria

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Rir. Sorrir. Gargalhar. Eis práticas deliciosas de viver. Rir é bom demais. Esboça alegria, faz bem para alma, libera o diafragma, alivia tensões. Sorrir, faz muito bem. A expressão da felicidade, simpatia, bem-estar, muitas vezes transborda o sorriso, vai além do que se pode supor. Gargalhar passa por aquele riso extravasado, que transborda, contagia. 

Rir. Sorrir. Gargalhar. Eis práticas deliciosas de viver. Rir é bom demais. Esboça alegria, faz bem para alma, libera o diafragma, alivia tensões. Sorrir, faz muito bem. A expressão da felicidade, simpatia, bem-estar, muitas vezes transborda o sorriso, vai além do que se pode supor. Gargalhar passa por aquele riso extravasado, que transborda, contagia. 

A verdade é que tudo isso faz muito bem, tanto para quem sorri, ri, gargalha, quanto para o eventual interlocutor dessas mensagens corporais que transcendem os movimentos do rosto. Até isso é uma escolha. Sorrir ou não sorrir para a vida. Acolher ou não o outro com uma mensagem de boas-vindas. Tem a ver com simpatia, empatia, otimismo, alegria.

Andando por aí, vou observando os semblantes que por mim passam. A maioria das pessoas carrega olhares sofridos, expressões carregadas. Sobrecarregadas. Vivemos tempos difíceis sob muitos aspectos, não podemos negar. E as faces taciturnas, creio, são o oposto de tudo aquilo que o sorriso sincero expõe. Desânimo, cansaço, antipatia, tristeza.

Por outro lado, o sorriso aberto não significa felicidade. Não necessariamente. Em tempos em que o que se demonstra em redes sociais toma dimensões inimagináveis, não raras vezes o ser mais triste apresenta o sorriso mais bonito. A gargalhada gostosa do vídeo, ensaiada. O riso sem brilho nos olhos. Será que dessa forma, sem verdade, sem consonância entre o que realmente se sente e o que aparenta, sorrir faz tão bem assim? Tanto se utiliza a poderosa ferramenta do sorriso para vender a imagem da felicidade que no dia a dia está longe de ser perseguida. Gente que sorri para as câmeras, que mostra sua faceta mais aprimorada da simpatia em fotos, mas que é incapaz de sorrir para as pessoas com quem topa na rua, para o porteiro do prédio, para o colega de trabalho. Gente que oferece sua melhor versão às postagens nas redes sociais, mas que é incapaz de sorrir em casa, que oferece ao convívio familiar sua expressão de descontentamento. Sem senti-lo.

São divagações – para não dizer devaneios. Mas fazem algum sentido. Vejo tantas pessoas essencialmente sem brilho que fazem questão de ensaiar o Sol para convencer terceiros sobre uma felicidade que por vezes passa longe. E qual a intenção de tudo isso? O riso é livre. Sorrir transforma, muda a energia, eleva a frequência, transforma o dia de alguém. E livre e ilimitado. Por que não sorrir de dentro para fora? Isso mesmo: de dentro para fora. Rir de a barriga doer. De dentro para fora. Gargalhar sem medo de ser feliz. Sem pose para fotos. Sem necessários registros. Sem foco na aparência. De dentro para fora. Sorrir para mudar o dia, para mudar a si mesmo, para contagiar o outro, para transformar a vibração do mundo.

É isso. Enxergar o lado bom que tudo tem e sorrir para a vida. É deveras transformador. De dentro para fora.

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Cinquenta perguntas

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Oi, tudo bem? Como você está? E sua mãe, o pessoal da sua casa, todos bem? O que você tem feito? Quase não te vejo, por que sumiu por tanto tempo? Nem me liga mais, hein! Tá trabalhando muito? Como vão os estudos? E as provas? Pretende fazer concurso? A cunhada da filha da minha vizinha estudou e passou em três meses. Sempre foi muito inteligente, sabe... E o namorado, vai casar? Ah, está solteira? Isso aí, vai curtir a vida. Saindo muito?  Tem feito o quê? Tá pensando em filhos? Vai ter mais um? Tá morando aonde? Sozinha? Voltou para a casa dos pais.

Oi, tudo bem? Como você está? E sua mãe, o pessoal da sua casa, todos bem? O que você tem feito? Quase não te vejo, por que sumiu por tanto tempo? Nem me liga mais, hein! Tá trabalhando muito? Como vão os estudos? E as provas? Pretende fazer concurso? A cunhada da filha da minha vizinha estudou e passou em três meses. Sempre foi muito inteligente, sabe... E o namorado, vai casar? Ah, está solteira? Isso aí, vai curtir a vida. Saindo muito?  Tem feito o quê? Tá pensando em filhos? Vai ter mais um? Tá morando aonde? Sozinha? Voltou para a casa dos pais. Hum, não é mole não, mas pelo menos não tem que se preocupar com aluguel. Tudo tem um lado bom. Tem visto o pessoal da faculdade? Nem me chamam mais. Mas me conta, o que você está fazendo para parecer mais jovem? Gostei desse tom de loiro em você, rejuvenesceu, parece uma menina. E lá se vão minutos de existência só ouvindo o questionário daquela antiga conhecida que não se importa com você mas tem toda a curiosidade sobre a sua vida e despeja todas as próprias frustações na primeira oportunidade que tem de fazê-lo e o faz assim, em forma de perguntas impregnadas de cobranças.

Quem nunca passou por isso? Numa situação dessas a vontade que dá, lá no fundo, é de cortar o papo e tocar a vida, mas por educação e dificuldade de impor limites, muitas vezes o que fazemos é responder ao questionário na sequência insana proposta pelo questionador. Sentimo-nos, então, réus de nós mesmos, porque acabamos por abrir demais nossas vidas a quem não faz parte dela. Sem vontade. E então, por que o fazemos? Já pararam para pensar.

Ninguém precisa prestar contas da própria vida aos conhecidos que encontram na esquina, em algum evento ou até mesmo nos encontros de Natal. Não é necessário. E eu nem acho que seja saudável também. Além de ser incômodo e chato. Sei lá, deixa as coisas fluírem. Falem sobre o que tiverem vontade. Abram suas vidas e corações às pessoas da sua confiança. Ao seu rol seleto – ou nem tanto - de pessoas escolhidas para saberem de você. Es-co-lhi-das por você. Esse é o ponto.

 O checklist social às vezes faz mal, porque te impõe a lembrança despreparada sobre suas frustrações, rupturas, preocupações, desejos. Gera preocupações. Te obriga a pensar rápido sobre o que você fez e tem feito, como vive, com quem se relaciona. Te joga em uma clássica “sinuca de bico” entre ter que responder e falar sobre o que não quer com quem não tem intimidade ou exercer suas habilidades para disfarçar, mudar de assunto, sair pela tangente. Interrogatório inesperado feito por conhecidos que não participam da sua vida, não te amam, não te conhecem direito, não compartilham a vida com você e não detém sua confiança, acredite: não é legal.  É chato.  Inconveniente. Constrange as pessoas. Ainda que com a melhor das intenções, meu conselho seria: não forcem a barra, apenas não forcem.

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Mas tudo bem

quinta-feira, 06 de julho de 2023

Sentimento difícil de lidar é a tal da ingratidão dos outros. Eita coisa ruim. Tá bom que talvez seja um grande erro esperar demais (ou o mínimo) das pessoas, sobretudo daquelas a quem dispensamos as melhores intenções, por quem fazemos algo importante, a quem nos dedicamos. Perceber que ainda que nossas ações não tenham sido em vão, não tiveram para os seus destinatários o mesmo valor que para nós, é um descompasso desconfortável. Dói.

Sentimento difícil de lidar é a tal da ingratidão dos outros. Eita coisa ruim. Tá bom que talvez seja um grande erro esperar demais (ou o mínimo) das pessoas, sobretudo daquelas a quem dispensamos as melhores intenções, por quem fazemos algo importante, a quem nos dedicamos. Perceber que ainda que nossas ações não tenham sido em vão, não tiveram para os seus destinatários o mesmo valor que para nós, é um descompasso desconfortável. Dói.

Mas tudo bem. Agir sem esperar nada em troca pode ser a chave para não experimentar esse desgosto vez ou outra. E por falar em ingratidão, podemos focar no antagonista desse sentimento que é gratidão. A gratidão é um sentimento que nos liga à força divina, ao supremo, ao universo, àquilo que transcende à visão humana e, para aqueles que creem nessa força resguardo a titulação respectiva. Penso que exalar esse sentimento nos resguarda de um monte de maus acontecimentos. Como se o imponderável carecesse desse voto de confiança. Como se o presságio das boas novas estivesse umbilicalmente ligado ao ato de sermos gratos a tudo e a todos, em qualquer circunstância.

Ser resiliente e grato é perceber que os pés doem, mas que podemos andar. Que a coluna não está lá “grande coisa”, mas que sustenta com maestria esse corpo que nos reveste. Que o dia de hoje pode não ser perfeito, mas que é o presente concebido e não pode ser desperdiçado. Que os sonhos não foram realizados da forma como queríamos, mas que temos força para batalhar. E por aí vai.

Sentir gratidão nesse nível é uma questão também de treinamento. Gratidão gera gratidão. A corrente ganha força e a energia do contentamento, da aceitação, da felicidade se expandem. Coisa chata é essa atmosfera de reclamações por todos os cantos, o dia inteiro. Se chove, está ruim. Se faz calor, piora. Se tem emprego, reclama. Se o perde, piora. Coisas assim. Como mensurar a dimensão da força que pode alcançar essa energia massiva de milhares de pessoas reclamando de tudo o tempo todo?

Que bom seria se o mesmo empenho em lamuriar fosse empregado em agradecer em qualquer conjuntura. Não quero caminhar com esforço ao longo de uma vida inteira e lá na frente perceber que o passado foi o melhor presente que me fora dado, aquele clássico  sentimento de que “ era feliz e não sabia”. Não quero perder minha vida para a ingratidão. Ser grato é questão de escolha. Uma ótima escolha. A começar por agora.

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Melhor aposta

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Quer uma aposta boa, desse tipo que não tem risco de errar? Nem parece aposta. Porque dá certo, sempre. Resolva investir em si mesmo. Pense sobre como iniciar. Trace o ponto de partida a começar por suas reflexões. Pense na estratégia. Tente entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Queira caminhos. Mergulhe no universo de saber mais sobre o que deveria saber. Atente-se em buscar o que quer fazer. Esbarre no desconhecimento sobre quem você é. E supere. Aprenda, sem subestimar a profundidade de seus anseios. Siga em frente.

Quer uma aposta boa, desse tipo que não tem risco de errar? Nem parece aposta. Porque dá certo, sempre. Resolva investir em si mesmo. Pense sobre como iniciar. Trace o ponto de partida a começar por suas reflexões. Pense na estratégia. Tente entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Queira caminhos. Mergulhe no universo de saber mais sobre o que deveria saber. Atente-se em buscar o que quer fazer. Esbarre no desconhecimento sobre quem você é. E supere. Aprenda, sem subestimar a profundidade de seus anseios. Siga em frente.

E então, prossiga. Por vezes, a sensação de estar em um beco sem saída vem, percurso sem volta. Mas ao se conhecer melhor e se tornar o próprio destinatário de todo o investimento projetado, apostar as fichas em si deixa de ser um sacrifício. Não queira ser a “zebra” da própria vida. Resistir de toda forma passa a ser uma boa opção.

Nesse processo, como investidor, percebe-se asas para voar; aprende-se sobre o voo. Entende que seus lucros seriam maiores se cuidasse muito bem do seu principal patrimônio, a sua própria saúde. E então, ao concluir que a mola mestra da máquina, sua mente, pode estar mal da engrenagem, enferrujada, em estado ruim de funcionamento, usa este conhecimento como a mola propulsora do processo. Começa a aplicar em seus cuidados. O retorno é rápido. Estando certo de seu propósito, prossegue. O equilíbrio pretendido passa pela reforma interior e exterior. Mãos à obra.

Feliz com o resultado, templo em equilíbrio, resolve transmutar seu olhar sobre o mundo e sobre o outro. Fomenta práticas altruístas e quanto mais útil ao bem do próximo se torna, mais se depara com uma sensação até então inédita. E desconfia tratar-se da tal felicidade. Ao olhar-se no espelho, o semblante ranzinza cede espaço para um sorriso leve que desperta até uma vontade estranha de continuar sorrindo.

Decide incrementar suas habilidades. Investir em conhecimento, aprimorar suas habilidades mais técnicas, ler bons livros, priorizar contatos com pessoas a quem admira. Aposta certeira. O retorno vem à galope. E quanto mais cuida do seu templo e desenvolve suas habilidades, mais satisfeito está por ter feito um bom negócio. Muda-se até seu conceito de riqueza. Sente-se detentor de um super poder. Volta a acreditar em si, enxerga seu potencial e percebe-se habitante de um belo templo, cujas energias tão boas são ao longe percebidas. Renasce. Eis o melhor investimento de sua vida. 

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Sábias palavras

quinta-feira, 22 de junho de 2023

A literatura, sem dúvida alguma é além de expressão artística e cultural, uma ferramenta de instrução educacional de valor inquestionável, um dos caminhos de evolução social cujos impactos podem ser profundos e transformadores.

Fomentar as atividades literárias, o incentivo à leitura e à escrita, o contato com esse vasto universo cultural são um empenho necessário cujas consequências comumente são positivas.

A literatura, sem dúvida alguma é além de expressão artística e cultural, uma ferramenta de instrução educacional de valor inquestionável, um dos caminhos de evolução social cujos impactos podem ser profundos e transformadores.

Fomentar as atividades literárias, o incentivo à leitura e à escrita, o contato com esse vasto universo cultural são um empenho necessário cujas consequências comumente são positivas.

Quem dera o mundo fosse povoado pelos amantes da escrita, por apreciadores da língua pátria, por leitores vorazes e por escolhas políticas que sempre priorizassem o acesso ao conhecimento, o compartilhamento de ideias, a aproximação a um espaço mais lúdico e criativo, a vivências mais poéticas e a liberdade de expressar sentimentos e ideias. 

Quem dera as bibliotecas atraíssem tanto interesse como outros ambientes sociais. Quem dera as livrarias fossem destino certo dos nossos investimentos. Quem dera os festivais literários fossem tão demandados quanto outros tipos de festivais. Quem dera a educação e a cultura - que sim, caminham lado a lado - fossem prestigiados em todas as classes sociais, em todas as idades. Quem dera o hábito de escrever fosse valorizado desde a alfabetização. Quem dera a prática da leitura fosse presente em todos os lares. Quem dera....

Certamente viveríamos em uma sociedade mais justa, com uma educação mais sólida, com pessoas mais conscientes e provavelmente mais felizes. Por crer em tudo isso e felizmente vivificar o amor pela literatura, aplaudo de pé as iniciativas de incentivo a essa valorosa arte. É o tipo de coisa que incorpora o velho dizer popular: "Quanto mais, melhor"!

Atribui-se ao grande Jorge Amado as seguintes palavras: "A solução dos problemas humanos terá que contar com a literatura, a música, a pintura, enfim, com as artes. O homem necessita de pão e de liberdade. As artes existirão enquanto o homem existir sobre a face da terra. A literatura será sempre uma arma do homem em sua caminhada pela terra, em sua busca de felicidade."  Sábias palavras...

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