“Era época de Ensino Médio e boa parte das minhas tardes eu costumava passar no prédio Tupinambás, no centro de Belo Horizonte. Por volta de 2018, eu, com 16 anos, às vezes ficava sozinho, sentado na sala de aula, buscando úteis afazeres.
E foi numa tarde extremamente difícil pra mim, ao checar meu telefone, que notei, em uma página do Instagram de estudantes da minha escola, várias fotos pessoais minhas me ridicularizando. Eram fotos me comparando com montagens preconceituosas sobre a minha aparência e comentários que buscavam me ofender. Foi como levar um soco, que prendeu minha respiração e não havia nada que pudesse ser feito que me fizesse sentir melhor. Pelo menos, era o que eu achava.
Foi justamente em uma destas tardes, observando pela janela o Parque Municipal e os prédios que alaranjavam a cidade em um tom esperançoso que, ao colocar meu reprodutor de música em modo randômico, ouvi pela primeira vez a canção “Balada do Louco” .
Os versos “dizem que sou louco por pensar assim / se eu sou muito louco por eu ser feliz” me motivaram a ignorar os pensamentos que alguns estudantes tinham sobre mim, e seguir em frente.
Passei a ponderar que se alguém como Rita vivenciou um dia, o que eu estava vivendo, e conseguiu sobreviver, eu deveria me aceitar mais, aprimorar meu jeito e ir em frente. Rita me mostrou que a aceitação é mais pessoal do que pública e que são as pessoas diferentes que sempre mudaram o mundo (...)
Para mim, Rita Lee é imortal! Ela não morreu e jamais morrerá. O planeta terra foi apenas uma de suas viagens cósmicas.
Viva Rita Lee! Viva o rock nacional! Viva as portas abertas por Rita e que facilitaram a entrada de mulheres no rock nacional! E, sobretudo, viva nossas diferenças!”. (*Trecho de artigo publicado em midianinja)
Balada do Louco
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles tem três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz
Compositores: Arnaldo Baptista / Rita Lee / Roger Ranson
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