Álvaro de Campos foi um dos heterônimos de Fernando Pessoa (1888 — 1935), considerado um dos nomes mais importantes da poesia e da crítica literária portuguesa. Pioneiro do modernismo em Portugal, o poeta escreveu sobre inúmeros temas, incluindo o mais universal de todos: o amor.
Todas as cartas de amor são ridículas
“Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)”
Análise e interpretação do poema
“Estamos perante um poema modernista, algo que se torna notório pela sua liberdade formal: estrofes e métrica irregulares, ausência de rimas, vocabulário próximo da linguagem coloquial etc. Usando termos que não eram comuns na poesia, os versos refletem sobre a temática amorosa através de um ponto de vista singular.
Algo que se destaca imediatamente é a existência de uma ideia que se repete ao longo de toda a composição, como se o sujeito estivesse tentando provar uma tese”.
[Após essa introdução, a autora deste artigo, Carolina Marcello, mestre em Estudos Literários, faz a análise e interpretação do poema, que podem ser conferidos no blog.
“As cartas românticas podem provocar estranheza e até escárnio naquele que lê: para quem está de fora, a mensagem se torna cômica, melosa e até absurda. A paixão é, aliás, conhecida por arrebatar e dominar os indivíduos, levando-os a cometer os atos mais inesperados ou incompreensíveis.
Assim, amar também pode representar uma certa perda da racionalidade, um abandono dos comportamentos tidos como normais. E todos os sentimentos que nos levam a desafiar as convenções, assim como as palavras que usamos para expressá-los, pode parecer bizarros para quem está em volta.
A sua intenção é comunicar o incomunicável: traduzir por palavras aquilo que toma conta do coração, provando a insuficiência da linguagem para exprimir as emoções mais fortes.”
As cartas de amor de Fernando Pessoa
“Para completar a nossa análise, é interessante lembrar que Pessoa realmente escreveu muitas cartas de amor para Ofélia Queiroz, a única namorada de que temos conhecimento. Em 1920, ele começou a trocar correspondências com a jovem, enviando dezenas de bilhetes românticos que hoje se encontram publicados. Nas suas palavras, é evidente o tom meigo, doce e até infantil do grande poeta da língua portuguesa quando se dirigia à mulher amada.”
Em tempo: Este poema se tornou conhecido no Brasil quando Maria Bethânia o apresentou em um de seus shows — que pode ser conferido no blog acima citado.
AS CANÇÕES QUE VOCÊ FEZ PRA MIM
(Foto: Roberto filho/Divulgação)
Hoje, eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
É tão difícil olhar o mundo e ver
O que ainda existe
Pois sem você meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Você disse tantas vezes que me amava tanto
Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto
Agora eu choro só sem ter você aqui
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais
É tão difícil olhar o mundo e ver
O que ainda existe
Pois sem você meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Você disse tantas vezes que me amava tanto
Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto
Agora eu choro só sem ter você aqui…
(Erasmo Carlos / Roberto Carlos)
“O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não dói”
CHÃO DE GIZ
Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas amiúde
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe
Uma camisa de força ou de Vênus
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom
Agora pego um caminhão
Na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de boy, that's over, baby
Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo é assunto popular
No mais, estou indo embora
No mais…
(Zé Ramalho)
Metáforas contam a história de um jovem apaixonado
Em 1978, Zé Ramalho lançou um álbum com alguns dos seus maiores clássicos, e guitarras de Sérgio Dias (Os Mutantes) e participação de Patrick Moraz (Yes), e tudo para ser um sucesso — e foi. Além de Avôhai, uma de suas canções mais icônicas foi justamente Chão de Giz, que através de metáforas conta a história de um jovem apaixonado, que vai, aos poucos, se livrando das amarras de um amor não correspondido.
Mas, como interpretar as várias nuances que Zé dá à letra? Primeiro, é preciso contextualizar: naquele momento, havia rumores de que o cantor tinha um relacionamento “escondido” com a esposa de um personagem influente de João Pessoa (PB). Se é verdade, não sabemos.
Para começo de conversa, o que é o tal “chão de giz”? Entre outras conjecturas, o mais provável é que o músico esteja se referindo a uma estrutura frágil, na qual ele faz seus “devaneios tolos”.
Em seguida, Zé conta que pegou as fotos de jornais (da pessoa famosa) e jogou tudo em um “pano de guardar confetes”, muito usado no Nordeste. Lamenta a existência de um “grão-vizir”, em referência à figura da nobreza, que, na época do Império Otomano, tinha uma autoridade sobreposta apenas pela do próprio sultão.
Por isso, mesmo disparando suas “balas de canhão”, o autor não conseguia atingir a sua “violeta velha”, como ele se refere à amada no verso seguinte. Se comparando a um colibri, frisa que existem outras mulheres mais velhas que anseiam pelo amor jovem, mas não é o caso da pessoa desejada.
Outro tema recorrente é o sexo — e pelo que Zé explica, essa parecia ser a única intenção da pessoa com quem ele se envolveu. Mas ele queria ir além. É o que ele procura dizer quando se divide entre usar uma “camisa de força” (para se manter distante dela) ou uma “camisa de vênus” (referência ao preservativo).
Da mesma forma, a temática repetida do cigarro (“mas não vou gozar de nós apenas um cigarro” e “não vou me sujar fumando apenas um cigarro”) faz crer que ele está decidido a não mais aceitar um relacionamento no qual a mulher apenas oferece uma “tragada”, que no caso se traduz em uma relação puramente carnal.
E assim, declara o fim de seus “vinte anos de boy” — de sua juventude — e se reafirma ao dizer que “já passou meu carnaval”, decidindo ir embora e deixar para trás esse amor frustrado.
PRECISO DIZER QUE TE AMO
Quando a gente conversa
Contando casos, besteiras
Tanta coisa em comum
Deixando escapar segredos
E eu não sei em que hora dizer
Me dá um medo, que medo
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo, tanto
E até o tempo passa arrastado
Só pra eu ficar do teu lado
Você me chora dores de outro amor
Se abre e acaba comigo
E nessa novela eu não quero
Ser teu amigo
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo, tanto
Eu já não sei se eu tô misturando
Ah, eu perco o sono
Lembrando em cada gesto teu, qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
É, eu preciso dizer que eu te amo, tanto
Eu já não sei se eu tô misturando
Ah, eu perco o sono
Lembrando em cada gesto teu, qualquer bandeira…
(Cazuza / Bebel Gilberto / Dé)
SINÔNIMOS
Quanto o tempo o coração
Leva pra saber
Que o sinônimo de amar
É sofrer?
No aroma de amores
Pode haver espinhos
É como ter mulheres em milhões
E ser sozinho
Na solidão de casa descansar
O sentido da vida encontrar
Quem pode dizer onde a felicidade está?
O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar
Quem revelará o mistério
Que tem a fé?
E quantos segredos traz
O coração de uma mulher?
Como é triste a tristeza
Mendigando um sorriso
Um cego procurando a luz
Na imensidão do paraíso
Quem tem amor na vida, tem sorte
Quem na fraqueza sabe
Ser bem mais forte
Ninguém sabe dizer onde a felicidade está
O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar
O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar
Quem revelará o mistério
Que tem a fé?
E quantos segredos traz
O coração de uma mulher?
Como é triste a tristeza
Mendigando um sorriso
Um cego procurando a luz
Na imensidão do paraíso
O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar
(De Paulo Sérgio / Cláudio Noam / César Augusto / Chitãozinho & Xororó)
TODA FORMA DE AMOR
Eu não pedi pra nascer
Eu não nasci pra perder
Nem vou sobrar de vítima
Das circunstâncias
Eu tô plugado na vida
Eu tô curando a ferida
Às vezes eu me sinto
Uma bala perdida, hey!
Você é bem como eu
Conhece o que é ser assim
Só que dessa história
Ninguém sabe o fim
Você não leva pra casa
E só traz o que quer
Eu sou teu homem
Você é minha mulher
E a gente vive junto
E a gente se dá bem
Não desejamos mal
A quase ninguém
E a gente vai à luta
E conhece a dor
Consideramos justa
Toda forma de amor, hey!
Eu não pedi pra nascer
Eu não nasci pra perder
Nem vou sobrar de vítima
Das circunstâncias
Você não leva pra casa
E só traz o que quer
“Eu sou um homem
Me diz você qual é”
E a gente vive junto
E a gente se dá bem
Não desejamos mal
A quase ninguém
E a gente vai à luta
E conhece a dor
Consideramos justa
Toda forma de amor
(Lulu Santos)
ONDE ESTARÁ O MEU AMOR
Como esta noite findará
E o sol então rebrilhará
Estou pensando em você
Onde estará o meu amor?
Será que vela como eu?
Será que chama como eu?
Será que pergunta por mim?
Onde estará o meu amor?
Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós
Se a voz da noite silenciar
Raio de sol vai me levar
Raio de sol vai lhe trazer
Onde estará o meu amor?
Se a voz da noite responder
Onde estou eu, onde está você
Estamos cá dentro de nós
Sós
Se a voz da noite silenciar
Raio de sol vai me levar
Raio de sol vai lhe trazer
Onde estará o meu amor?
(Chico César)
Deixe o seu comentário