Conexão sem limites no universo de jovens e adultos

Panorama histórico sobre uso de ferramentas digitais emite alerta
sexta-feira, 03 de maio de 2024
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

Os voos que a educação permite podem ter alcances potencializados por meio da leitura, uma ferramenta divisora de águas quando se trata de adquirir conhecimentos e perpetuar o aprendizado, em qualquer idade. Mas, em tempos de tecnologia na rotina diária, cabe a pergunta: há diferença entre a leitura física e digital? E no que diz respeito ao universo infantil?

Talvez você já tenha passado pela experiência de falar com uma criança e, diante da falta de resposta, notar que ela está hipnotizada pelo celular ou alguma outra tela. Os aparelhos eletrônicos são objetos constantes no cotidiano das novas gerações, que podem passar horas nas redes sociais ou jogando. 

Dependendo do uso, computadores, tablets e celulares podem ser ferramentas que ajudam no desenvolvimento e no aprendizado das pessoas, de diferentes faixas etárias e diversas carreiras. Porém, as telas não devem ser usadas de forma exagerada. 

Essa é a avaliação do pediatra e especialista Daniel Becker, ressaltando que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos já é reconhecido mundialmente como um vício. Em usuários de qualquer idade. De acordo com a pesquisa Comscore Tendências de Social Media, de 2023, o Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais no mundo. E os jovens, de acordo com dados da FGV, de 2019, passam em média 14 horas por dia nos aplicativos. 

“Se isso está acontecendo com os adultos, com mais de 65% hoje se declarando viciados em celular, imagina então com as crianças, que não têm mecanismos de controle e não têm capacidades de combater a adição”, diz Daniel. 

Mudança cerebral sem precedentes

Ao traçar um panorama histórico do uso de ferramentas digitais, Becker fez um alerta: o uso desmedido de telas pode causar danos irreversíveis para o desenvolvimento de capacidades físicas e emocionais. “Até o advento da internet e das telas clicáveis, a gente sabia brincar, ler, assistir filmes, passear na rua, a gente sabia conversar longamente. A gente parece estar, gradualmente, perdendo essas habilidades. Eu comparo com a urgência climática. Se a gente não mudar o caminho, estamos indo para um desastre ecológico, e para uma mudança cerebral que não tem precedentes”, afirma. 

O pediatra cita um estudo publicado pela revista Nature, que identificou que o uso de redes sociais de 2 a 7 horas diárias, causou uma queda brutal de satisfação com a vida entre as meninas, levando a quadros graves de depressão. 

Transtornos de imagem corporal e o afastamento de relações afetivas com familiares e amigos são algumas das consequências apontadas pelo pediatra do uso desregulado das redes sociais. Isso sem falar dos perigos de golpes, vazamento de dados e riscos à privacidade.  

“O aumento de suicídio de crianças no mundo inteiro chama a atenção, é uma crise internacional de adoecimento mental e emocional, e as telas são parte fundamental disso. Elas levam a uma espécie de hipnose e passividade. As crianças perdem a capacidade de criar, de imaginar, fantasiar. Na tela, há o consumo passivo de conteúdo alheio, ela fica sem atividade cerebral positiva”, afirma. 

De acordo com o médico, outro cuidado a ser observado é assegurar que crianças e adolescentes consigam ter horas de sono reparadoras.

“Outra prioridade é o sono, que está ficando perturbado pelo mundo digital. Podemos desligar o celular, pelo menos, meia hora antes de dormir e realizar atividades não digitais, uma conversa para relaxar e leitura de histórias, que é um momento afetivo muito bonito”, completa.

Regras até para adultos

O primeiro passo para famílias e educadores lidarem com a situação é conhecer os riscos. Uma vez compreendidos, é preciso colocar a mão na massa e buscar soluções.  Becker destaca que não é uma guerra, a internet faz parte da vida contemporânea, mas é preciso ter bom senso e propor alternativas para um convívio digital saudável. 

“Quais são os mecanismos humanos que podemos utilizar? Eu sempre recomendo que, em qualquer idade, a gente estabeleça um contrato de uso digital, com validade para todos, regras até para adultos. A criança que recebe regra imposta dificilmente vai aderir, então é preciso trazê-la para a conversa e mostrar que sua voz é respeitada e acolhida”, sugere o especialista.  

Além de estabelecer um vínculo de proximidade com as crianças, a conversa pode incentivar hábitos que vão ajudá-las a desenvolver uma relação mais tranquila com as redes sociais e até mesmo descobrir novos hobbies, como a prática de atividades esportivas. Além disso, é importante alertá-las sobre os perigos das redes.

“É importante desenvolver e estimular um pensamento crítico com as crianças. Se ela receber um conteúdo falso, podemos mostrar para ela porque aquilo é falso. Essa capacidade que temos para ajudar as crianças a terem um olhar crítico sobre o que elas consomem é fundamental”, afirma.

Lidando com um ambiente tóxico

Seja em jogos on-line, seja nos comentários nas redes sociais, os produtos virtuais podem trazer mensagens violentas. É preciso muito cuidado com as relações que são criadas no ambiente virtual, destaca Becker.

Ele sugere que os responsáveis e educadores conversem com as crianças e com os adolescentes sobre o comportamento agressivo nos aplicativos. 

“Você acha que uma pessoa se sente bem com o xingamento? Se coloque no lugar do outro. É chegar com uma abordagem reflexiva, não a proibição”, aconselha.

O papel dos responsáveis

De acordo com Becker,  a vida digital tornou a parentalidade mais complexa nos dias de hoje e as famílias precisam contar com o envolvimento e participação de todos os agentes da vida social. 

“As famílias têm o que fazer, mas não podem agir sozinhas. A gente tem que envolver as escolas nessa discussão de educação. Elas têm um papel essencial, e a sociedade como um todo, com políticas públicas e mecanismos de controle dessas empresas, também”, defende.

 Uma semente a ser regada

A leitura física, na visão da professora Amanda Rocha Carneiro da Cunha, de 36 anos, perdeu a exclusividade no aprendizado com o passar do tempo e o aumento do alcance das plataformas multimídias. Entretanto, ela afirma, ainda permanece sendo a base mais consistente no quesito aprendizado. Na sala de aula, Amanda ensina as disciplinas de língua portuguesa, produção textual e espanhol.

“Nós não podemos mais afirmar radicalmente que a leitura seja a única fonte de conhecimento e também de crescimento na área da educação, porém, ela ainda detém as mais complexas literaturas e apresenta as bases das mais diversas áreas. Aquele que quer ir a fundo no estudo, não poderá ficar só nos vídeos e áudios”, disse.

A organização e o preparo na hora de se debruçar sobre a leitura são os “ingredientes” indispensáveis para a receita de quem busca cultivar a leitura ao longo da vida. Para Amanda, essa semente deve ser regada antes mesmo dos primeiros passos de uma criança.

“A leitura quando é realizada de forma bem feita, selecionada e organizada, irá trazer frutos incontestáveis para a pessoa. A combinação dessa leitura incansável às atualizações dos outros gêneros será incrível para um bom estudante. O hábito da leitura deve ser cultivado desde o berço”, afirmou.

“A pessoa que lê tem mais habilidade na escrita, consegue estimular mais o cérebro, a sua criatividade, e ainda o seu pensamento crítico. Ler regula até mesmo o lado emocional e melhora a concentração. São muitas as vantagens”, explicou.

Substituindo a bata branca da professora em sala de aula pelo colo colorido da mãe dentro de casa, Amanda continua ensinando e fazendo a sua parte, também pessoalmente, na hora de plantar a semente da leitura no berço, com seu filho Rodrigo, ainda um bebê. A mãe conta que desde os oito meses de vida ela e o marido recebem livros infantis das mãos do filho, como um pedido para leitura.

“Ele adora livros, e traz para a gente ler, nos entrega”. O orgulho também é o sentimento compartilhado pelo pai. “É muito divertido e emocionante vê-lo se interessar pelo passar das páginas e das cores, e entender que há algo ali para ser compreendido”, festeja. (Fonte: www.inteligenciadevida.com.br)

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