Fechando a Semana Mundial da Água, o Cineclube Lumiar exibe nesta sexta-feira, 27, às 18h, o documentário "A Lei da Água”, que aborda os reflexos do novo Código Florestal no meio ambiente e no cotidiano dos brasileiros. A exibição será realizada no espaço Tribuna Livre Cultural, centro de Lumiar, e encerra o "Ciclo Águas de Março”, que trouxe um tema que é uma grande preocupação atual de toda a sociedade: a água. Realizado em parceria com escolas públicas de São Pedro e Lumiar, o projeto de ciclos temáticos busca introduzir o recurso audiovisual no processo de ensino-aprendizagem apresentando filmes temáticos todas as sextas-feiras.
"O cinema tem essa capacidade de transmitir narrativas, de em poucos minutos despertar a pessoa para outras realidades. Ele tem um impacto coletivo que possibilita uma horizontalização da comunicação em questões tão importantes para nossas vidas, como o uso da água”, explica Pedro Kiua, 32, fundador do Cineclube Lumiar, inaugurado em fevereiro de 2008.
Na última sexta-feira, o documentário "Água e Cooperação” propôs uma relação mais colaborativa e sustentável com o elemento água, apresentando-a como vida em vez de um mero recurso. "Carioca Era um Rio”, segundo documentário do ciclo, exibido dia 13, contou com a presença do próprio diretor, Simplício Neto. O filme narra a história do rio que deu nome aos habitantes da cidade do Rio de Janeiro e que hoje é um esgoto subterrâneo. Devido ao sucesso, o documentário foi reprisado no domingo, 15.
Abrindo o mês e primeiro ciclo do ano, "Ouro Azul: A Guerra Mundial Pela Água” apontou os governos e corporações como responsáveis pela crise hídrica mundial. Hoje, a proposta é que o tradicional debate que ocorre logo após as exibições cineclubistas se transforme num intercâmbio de experiências de práticas individuais no consumo e manejo consciente da água que possam ser adotadas pela comunidade na região.
Conscientização e mobilização
Entre os temas que vêm sendo discutidos pela plateia, composta por moradores, autoridades ambientais e professores dos colégios estaduais Carlos Maria Marchon e José Martins da Costa, estão a necessidade de um batalhão de polícia ambiental e de mobilização dos moradores para defender o meio ambiente. Ideias como a realização de mutirões para remoção de lixo dos rios e um fórum permanente de discussão local para conservação e prevenção estratégica tiveram boa repercussão.
"Precisamos sair do imobilismo. Toda vez que eu vejo uma pousada despejando esgoto no rio, meu coração aperta”, compartilhou a professora aposentada Eliane Mendes. Carla Perrone, 30, mestre em práticas de desenvolvimento sustentável pela UFRRJ, lembrou da importância de se ampliar a visão individual. "Por exemplo, a gente precisa ter consciência de qual aquífero a microbacia de Lumiar e São Pedro está usando. E tentar conhecer o que já está sendo feito pelas pessoas. Há muitos grupos e iniciativas legais aqui.”
Tom Adnet, 25, engenheiro florestal e professor do Colégio Estadual José Martins da Costa, falou sobre o desenvolvimento do programa Produtor de Água na bacia hidrográfica do Rio Macaé. Financiado pelo fundo do comitê da bacia, o projeto promove a economia e valorização da água e recompensa agricultores pela manutenção de mananciais.
Também presente, o gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) de Macaé de Cima, Vitor Urzua, expressou apoio ao Ciclo Águas de Março e convocou a comunidade a participar das reuniões da APA, que também realiza capacitações. "O cinema transforma a vida das pessoas. Precisamos de voluntários para ajudar na conscientização sobre o manejo controlado de queimadas, a paisagem, a qualidade da água”, afirmou.
"Não adianta simplesmente importar as boas práticas de outras regiões, pois possuem características diferentes. É preciso articular as existentes aqui, uma região de Mata Atlântica, floresta úmida e de altitude”, sublinha Pedro Kiua, que é formado em cinema pela UFF.
"Nós moramos num lugar com muitas pessoas incríveis, pessoas comuns que são pensadores, mas que não costumam se reunir. O cineclube acaba sendo isso, uma ágora. Além de paixão, o filme é também um ‘pretexto’ para nos encontrarmos, e, por que não, nos mobilizarmos em prol de ações coletivas pelo bem comum”, arremata Kiua.
A fim de alcançar um desdobramento prático na política pública de gestão da água na região, a ideia é reunir o conjunto das reflexões levantadas ao longo deste ciclo numa carta coletiva a ser apresentada nos conselhos da APA de Macaé de Cima e nos comitês das bacias hidrográficas do Rio Macaé, Rio das Ostras, Casemiro de Abreu e Cachoeiras de Macacu.
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