Lenha ecológica? Peça ajuda aos universitários

Trabalho de conclusão de curso gera primeira patente verde do Instituto Politécnico de Nova Friburgo
domingo, 07 de dezembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
Lenha ecológica? Peça ajuda aos universitários
Lenha ecológica? Peça ajuda aos universitários

Texto: Dayane Emrich / Fotos: Amanda Tinoco

Já dizia o famoso inventor e empresário americano Steve Jobs: "A única maneira de fazer um bom trabalho é amar o que você faz”. E foi assim, com muito entusiasmo, força de vontade e criatividade, que dois estudantes do curso de Engenharia Mecânica do Instituto Politécnico de Nova Friburgo (IPRJ) realizaram uma grande descoberta. 

Felipe Bicalho Azeredo da Silva, 23, e Philipe Lopes Jurge Tardin, 28, desenvolveram, como trabalho de conclusão de curso, uma técnica inovadora de produção de briquetes. Briquete é um bloco sólido feito de materiais diversos, também conhecido como "lenha ecológica”. O processo desenvolvido pelos estudantes da Uerj, batizado de "briquetagem por batelada hermética”, possui, segundo os inventores, uma série de vantagens em relação ao tradicional: necessita de menos pressão e temperatura, permite o uso de pedaços maiores e também de uma diversidade maior de matérias-primas, possui maior capacidade aglutinadora e gera um produto mais barato e que queima melhor do que os disponíveis no mercado. 

Os briquetes geralmente são fabricados a partir de resíduos de serragem, casca de arroz, palha de milho, sabugo, bagaço de cana-de-açúcar, casca de algodão e de café, entre outros. É um combustível capaz de substituir a lenha convencional, o gás, energia elétrica, carvão vegetal, carvão mineral e outros. "O procedimento consiste basicamente em apanhar resíduos que geralmente são desperdiçados, como restos de material de poda e sobras de alimentos e, com eles, criar um produto que possa vir a gerar energia, uma fonte que seja alternativa e sustentável”, explicou Philipe. 

A ideia para o projeto de Felipe Bicalho e Philipe Tardin surgiu após uma visita dos universitários à antiga fábrica Ypu. "Quando vimos o sistema de caldeiras, logo pensamos: queremos algo parecido. Vimos muitas máquinas paradas, restos de madeira, e as ideias foram surgindo, tudo, é claro, com a ajuda do nosso orientador”, disse ele, se referindo ao professor e engenheiro químico Diógenes Câmara. 

De acordo com Diógenes, o resultado do trabalho foi obtido por acaso, pois seus alunos não seguiram os procedimentos até então ditos como funcionais para a produção dos briquetes. Conforme afirma o professor, o método convencional exige que sejam feitos furos no reator (aparelho que realiza a compressão do material) — porém, no procedimento criado pelos estudantes, o reator, desenvolvido também por eles, é hermético, não permite a passagem de ar. "Se eles tivessem começado a experiência fazendo os furos, talvez teria dado errado”, explicou Diógenes.

De forma geral, a primeira etapa do processo consiste em submeter os elementos a uma espécie de filtragem. Depois os diversos resíduos são misturados e colocados no reator hermético a uma temperatura entre 200 a 250 graus Celsius. 

Os elementos componentes da mistura que origina a lenha produzida pelos universitários são inusitados. Além de lixo orgânico e água, os estudantes utilizaram óleo de cozinha. "O óleo de frituras, para ser reaproveitado, geralmente é utilizado para fazer detergente, mas este é um processo muito caro. O nosso não, usamos ele sem fazer qualquer tratamento e a queima fica muito melhor”, afirma Felipe.

Uma das questões que também chamam atenção para o projeto são os diversos benefícios em relação aos briquetes disponibilizados no mercado. De acordo com os estudantes, o briquete feito por eles com resíduos de alimentos, entre outros produtos, tem maior poder calorífico, é feito com matéria-prima barata, além de sua produção ser mais rápida e não ter entre seus componentes produtos sintéticos e tóxicos. Outra questão que pode ser destacada é que a técnica de briquetagem por batelada hermética permite utilizar produtos maiores, menor pressão e temperatura em relação à produção convencional, a qual exige que os resíduos sejam triturados, o que, consequentemente, gasta muita energia. 

As vantagens da invenção vão ainda além. "Geralmente as pessoas usam as sobras de comida como lavagem para porcos ou mesmo, no pior dos casos, despejam os resíduos em aterros sanitários — prática nociva ao meio ambiente, pois gera gás metano e chorume. Com essa técnica para a produção de briquetes, poderemos dar um novo destino a esses materiais, isso sem comprometer o ambiente, pelo contrário, gerando energia sustentável”, explica Philipe. Vale destacar ainda que estes materiais ecológicos podem ser utilizados em caldeiras, lareiras, fornos de pizza, padarias e para uso doméstico.

De forma descontraída, os estudantes contaram ainda que as primeiras tentativas não deram certo e que, ao todo, foi preciso cerca de um ano de dedicação à criação dos briquetes. "O professor foi o único que abraçou e incentivou a ideia. Ele nunca demonstrou dúvidas, isso nos deixava seguros”, disse Philipe. Em contrapartida, Diógenes riu ao dizer: "Confesso que fiquei um pouco preocupado imaginando o que faria se desse errado”.

Apesar de trabalhosa e de algumas tentativas falhas, contudo, os rapazes afirmaram que a criação do processo não foi complicada. "Na verdade, foi uma grande diversão para a gente. Não fizemos nenhum sacrifício. Eu tenho até medo de falar, mas foi muito tranquilo. Não foi difícil. A gente só aplicou aquilo que vinha aprendendo”, concluiu Philipe. 


A primeira patente verde do IPRJ/Uerj

O produto criado pelos estudantes foi patenteado pela Uerj e 2/3 dos futuros rendimentos, caso venha a ser produzido em série, serão revertidos em investimentos na educação e na própria instituição.

Diógenes afirma ainda que o próximo passo será a realização de uma máquina para produzir briquete em larga escala. "A nossa ideia é utilizar os resíduos de poda da cidade para a produção da lenha no município. Isso seria fundamental para questões ambientais, geraria crédito de carbono para a cidade e seria positivo para a imagem de Nova Friburgo”, pontuou.

 

Professor e engenheiro químico, Diógenes Câmara foi o orientador do projeto

Reator hermético utilizado pelos estudantes

Briquetes produzidos  




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TAGS: Lenha ecológica | Meio Ambiente
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