Câmara elege nova mesa diretora

Marcio Damazio continua na presidência da Casa até o fim do mandato; única alteração foi a substituição de Wellington Moreira por Vanderléia Lima na segunda vice-presidência
domingo, 30 de novembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Márcio Madeira

O cenário estava desenhado para uma noite tranquila na Câmara Municipal. Diversos vereadores de oposição já haviam declarado publicamente apoio à reeleição de Marcio Damazio para a presidência do Legislativo — deixando no ar a possibilidade de, pela segunda vez na história da Casa, um presidente vir a ser eleito por unanimidade. Restava, apenas, que fossem feitas algumas concessões de parte a parte. Afinal, além da unanimidade em torno do nome de Damazio para a presidência, a oposição também estava preparada para acatar a continuidade de Marcelo Verly como 1º secretário, e Alexandre Cruz como 1º vice-presidente.

Os únicos impasses, de fato, estavam nos dois extremos da mesa. De um lado a oposição – liderada neste caso específico pelo PSB – não aceitava a continuidade de Christiano Huguenin na função de 2º secretário. Como argumento, a sigla lembrava que o parlamentar se elegeu pelo próprio PSB em 2012, e que chegou à mesa diretora como forma de fazer valer a representatividade da sigla, à época com quatro vereadores. E, como ninguém fez questão de esconder, a pressão para sua saída da mesa diretora foi ainda agravada pelo acirramento da rivalidade entre o partido e seu antigo membro, sobretudo na reta final da campanha para o mais recente pleito eleitoral. Por outro lado o governo não aceitava a continuidade na mesa de Wellington Moreira, atual 2º vice-presidente, que ao longo do mandato deixou progressivamente a base governista para se converter numa das vozes mais críticas à administração atual.


O primeiro embate

Diante do contexto, a oposição – tão decidida a reeleger Marcio Damazio quanto dedicada a retirar Huguenin – preferia que a eleição para a nova composição fosse feita membro a membro, e não através de chapas fechadas. Para o governo, no entanto, logo ficaria claro que essa não seria a opção mais adequada.

Desde a migração de Ricardo Figueira e Wellington Moreira para uma postura independente e crítica, o governo passou a contar com apenas 12 dos 21 votos no plenário, tendo sua maioria ameaçada. A esta altura, perder o apoio de um vereador como Christiano Huguenin – que em momentos específicos já se posicionou de forma contrária ao governo – poderia ameaçar seriamente a governabilidade. Deste modo, a base governista optou por elaborar a própria chapa, mantendo Huguenin e substituindo Wellington por Vanderléia. Além de proteger a necessária maioria, a medida evitaria eventuais constrangimentos em votações isoladas para cada uma das funções.

A votação por chapa, contudo, inviabilizaria o apoio da bancada de oposição a Márcio Damazio, graças à presença de Huguenin. Levar as formas de votação a plenário, conforme foi sugerido pela presidência, significaria a vitória do formato proposto pela base governista e a necessidade de formação de uma chapa de oposição, sem chances reais de vitória, mas ainda assim necessária para que os nove vereadores de oposição não fossem obrigados a votar em quem, na verdade, queriam retirar. Wellinton Moreira e Wanderson Nogueira chegaram a pedir a interrupção da sessão antes desta primeira votação, mas não foram atendidos.

Dito e feito.


Chapas

Aprovada a votação por chapa por 11 votos a 9 — sem o voto da presidência — a sessão foi finalmente interrompida para que pudesse ser composta a chapa de oposição. Enquanto alguns nomes reuniam-se em sala fechada, era possível ver Wanderson Nogueira, Cigano e Wellington Moreira conversando com Marcio Damazio e Marcelo Verly. O conteúdo desses diálogos logo daria muito que falar.

Também neste momento chegou a informação decisiva, através de uma fonte que teve acesso às deliberações da reunião entre vereadores de situação, ocorrida instantes antes. "A chapa final ficou mesmo com Huguenin, Verly, Damazio, Alexandre Cruz e Vanderléia”, confirmando as previsões que puderam ser apuradas pela manhã. A grande novidade, no entanto, veio a seguir. "[Professor] Pierre ainda não sabe, mas se ele compuser a outra chapa, seu nome será retirado pelo Huguenin, que é presidente municipal do partido [Solidariedade]”. Minutos depois a informação seria comprovada.

Coube ao vereador José Carlos Jacutinga apresentar a composição da chapa, exatamente conforme a fonte havia acabado de antecipar. Em seguida foi a vez de Wanderson Nogueira apresentar a chapa de oposição, não sem antes lamentar publicamente a conjuntura que o impediu de cumprir sua determinação pessoal de votar em Damazio. A chapa de oposição, deste modo, indicou Renato Abi-Ramia para a presidência, Ricardo Figueira como 1º vice-presidente, Wellington Moreira como 2º vice-presidente, Cláudio Damião como 1º secretário e Cigano como 2º secretário.


Reviravolta

A essa altura o resultado da eleição já era conhecido para qualquer um que soubesse contar, mas ainda haveria novidades antes da votação propriamente dita. Havia chegado a hora da segunda informação prestada pela fonte vir à tona, na forma de um documento apresentado por Christiano Huguenin à leitura do 1º secretário, Marcelo Verly.

"Senhor presidente, o partido Solidariedade de Nova Friburgo, através de seu presidente, vem informar a Vossa Excelência que no dia 9 de outubro de 2014 os membros da Comissão Provisória Municipal de Nova Friburgo se reuniram e estabeleceram o cumprimento do estatuto partidário artigo 16, no que se refere à indicação do líder do partido na Câmara Municipal. (...) Ficou decidido que a liderança do partido Solidariedade na Câmara Municipal de Nova Friburgo será exercida pelo vereador Christiano Pereira Huguenin.”

Assinaram em conjunto os partidos Solidariedade e PDT, que por intermédio dos vereadores Christiano Huguenin e Samoel Grassini informaram nesse momento a criação do bloco bipartidário. Tão importante quanto, os vereadores do PT foram informados somente nesse instante, e dessa maneira, que já não mais compunham coligação com o Solidariedade. "Fomos expulsos”, resumiu uma militante na assistência, encontrando eco em declaração do petista Cláudio Damião.

Ato contínuo, ainda sob o impacto das novidades, o PSB convidou os vereadores do PT, Cláudio Damião e Gabriel Mafort, e também Renato Abi-Ramia, do PMDB, a formarem um novo bloco, com seis vereadores. Todos aceitaram, e a partir desse momento os membros da nova coligação passaram a questionar a validade das duas chapas compostas minutos antes, uma vez que a nova configuração do plenário tornaria ambas as formações inválidas, sob o ponto de vista da representatividade.


Discussões

Foi neste clima, já completamente distante das amenidade iniciais, que as duas pautas foram colocadas sob votação, ignorando os contínuos protestos da oposição. Wellington Moreira, Ricardo Figueira e Renato Abi-Ramia recusaram-se a votar, ao passo que Cláudio Damião, Pierre Moraes, Gabriel Mafort, Wanderson Nogueira, Zezinho do Caminhão e Cigano votaram na chapa de oposição, identificada como chapa 2. Todos os demais votaram na chapa 1, eleita por 12 votos a seis.

Para comprometer ainda mais o ambiente, alguns vereadores aproveitaram suas declarações de voto para provocar adversários, dando início a uma interminável série de debates. Nami Nassif ironizou a atitude dos vereadores que estavam questionando a validade da própria chapa, e ainda assim votavam nela. Já Christiano Huguenin afirmou que a revolta era "choro de perdedor”, e que "doze sempre serão mais que nove”, ao que Wanderson prontamente respondeu que 82 mil sempre serão mais que "quarenta oitenta”, fazendo referência às votações recebidas por Glauber Braga e pelo próprio Huguenin nas eleições de outubro, para o cargo de deputado federal.

Por fim, em sua votação Marcelo Verly retomou o conteúdo das conversas tidas lá atrás, durante o intervalo para a composição das chapas, afirmando ter sido convidado pelo PSB para compor uma chapa alternativa. O vereador do PSDB afirmou que não poderia aceitar o convite por uma questão de coerência, uma vez que já estava comprometido com a chapa concorrente. Wanderson Nogueira, por sua vez, pediu a palavra para explicar que não negociou com Verly, mas que o PSB estava sim pronto a apoiar uma mesa que tivesse as presenças de Marcelo Verly, Marcio Damazio e Alexandre Cruz nas funções que ocupam atualmente, desde que Christiano não compusesse a mesa.

A definição de duas cadeiras, portanto, terminou por envolver em debates e discussões e polêmicas uma noite que prometia entrar para a história justamente pela unanimidade em torno do nome mais importante a ser votado.

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