ENTREVISTA - Eduardo Serra

terça-feira, 30 de setembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
ENTREVISTA - Eduardo Serra
ENTREVISTA - Eduardo Serra

Na tarde de sábado, 20 de setembro, o candidato ao Senado Federal pelo PCB, Eduardo Serra, procurou a redação de A VOZ DA SERRA para apresentar detalhes de sua visão política e suas propostas para o cargo.

Este espaço fica aberto, durante o período estabelecido pela legislação, para outros candidatos ao Senado que queiram prestar informações de mesma natureza.

 

A VOZ DA SERRA: Considerando que o senhor teve tempo bastante reduzido na televisão, parece apropriado começar a entrevista pedindo que o senhor se apresente e relembre um pouco de sua história.

Eduardo Serra: Eu comecei a trabalhar com 18 anos, fiz engenharia na UFRJ, e tenho licenciatura em inglês pela Uerj. Fiz a carreira acadêmica, mestrado e doutorado. A maior parte de minha carreira profissional se deu no magistério, mas também exerci a engenharia. Atualmente sou professor da UFRJ na graduação em Engenharia Naval, e no mestrado em Engenharia Ambiental. Comecei a fazer política no movimento estudantil, e como comecei a trabalhar cedo logo me envolvi com o movimento sindical. Passei pelo Sepe, pela rede pública e fui vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes). Comecei a militar na política em meados dos anos 70, e sou filiado ao PCB desde o fim daquela década, sem jamais ter trocado de partido. Sou do comitê central desde o início dos anos 90, e esta é minha terceira campanha. Fui candidato a prefeito do Rio em 2008, a governador em 2010 e agora estou cumprindo essa tarefa de representar o partido na eleição para o Senado.


Considerando as atribuições do senador, quais os seus principais projetos?

Nosso partido tem defendido sempre uma mesma plataforma política, e um programa integrado. Nós entendemos que as condições em que se dão as eleições atuais são muito interessantes, no sentido de que desde o ano passado aforaram uma série de demandas da sociedade que estavam reprimidas e não claramente identificadas. A população foi às ruas manifestar uma série de insatisfações envolvendo denúncias de corrupção, os gastos com a Copa do Mundo, o sistema político-partidário... Mas também reivindicações quanto à deterioração dos serviços públicos, a falta de empregos, a falta de perspectivas. Então essas eleições estão se dando num patamar político um pouco diferente do que era dois anos atrás, porque até então se acreditava que as coisas estavam melhorando para o conjunto da sociedade. Desde os mais ricos, os agroexportadores, os banqueiros, até as camadas de baixa renda. Que tudo ia bem e o País estava no trilho certo. E em 2013 ficou claro que não era bem assim. Se houve algumas melhoras pontuais — e houve, como os programas de bolsas, o salário mínimo aumentando acima da inflação e coisas assim — a estrutura social não melhorou com um todo, sob o ponto de vista da seguridade social, do emprego e mesmo da renda. Porque mesmo com o aumento acima da inflação, o salário mínimo ainda está entre 1/3 e 1/4 do que deveria ser. Essa é a primeira constatação. Nossa plataforma também constata que os principais problemas nacionais nascem nas contradições que o capitalismo gera, como concentração de riqueza, a exclusão, a tendência ao monopólio... Mas também na forma como o capitalismo se organiza no Brasil. Ele é monopolista, prioriza grandes empresas e tem uma base estrangeira grande. O Brasil tem se concentrado no agronegócio, na exportação de minérios, e está se desindustrializando, importando produtos industriais. O setor financeiro tem um peso enorme e isso é fácil de constatar pelo orçamento federal, onde 42% dos recursos são direcionados para pagar os juros de uma dívida que provavelmente já foi paga. E claro, as limitações da própria democracia brasileira, que sofre fortes influências do poder econômico. Com base em tudo isso nós apresentamos um programa de eixos de lutas. Não são projetos de lei específicos que apresentaremos no Congresso, mas sim eixos políticos que podem gerar esses projetos.


Seriam essas as diretrizes do partido?

Sim, que nós chamamos de eixos de luta. Primeiro, temos dois grandes objetivos: garantir um estado de seguridade social universal; e a desmercantilização da vida.

No primeiro eixo a meta é garantir que previdência, saúde, assistência social, o emprego como direito para todos, tudo isso garantido e estatal. No segundo, nosso entendimento é de que tudo que é essencial à vida não pode depender de estrutura de mercado, mas tem que ser garantido pelo Estado, de forma universal. Isso inclui a própria saúde, que não pode ser dominada pelo setor privado. Inclui a educação, que deve ser pública e estatal, por mais que não sejamos contrários à existência de escolas particulares. Não vamos fechar nenhuma escola, mas queremos garantir que todos tenham acesso à melhor educação possível. Inclui o transporte urbano, que deve convergir para a tarifa zero; os alimentos básicos; os medicamentos básicos, que podem ter preço zero ou de custo, a depender do caso; o direito ao emprego e outros itens que são essenciais à vida.


Algumas dessas proposições podem afetar empregos existentes de um lado, e de outro gerar aumento de gastos no orçamento do governo. A pergunta então é como o plano do partido prevê soluções para esses efeitos?

A pergunta é boa porque encaixa exatamente na próxima parte do plano que é como fazer. É preciso entender que estamos falando de algumas metas socialistas, e não da implantação de um regime socialista. Estamos falando de um estado mais amplo, que possa garantir o direito e a qualidade de vida universais ao retirar do mercado alguns pontos de interesse fundamental. São objetivos que foram alcançados por países que não são socialistas em diversas partes do mundo, mesmo que por curtos períodos de tempo. Primeiro, nós vamos reestatizar algumas empresas de serviços básicos que foram privatizadas nos últimos vinte anos. Depois vamos estatizar as grandes empresas estratégicas, como energia, siderurgia, portos, uma parte da indústria farmacêutica... E nesse eixo vem também a reforma agrária, que deve ser radical para romper com o viés exportador de commodities agrícolas em detrimento do consumo interno. A gente entende que o agronegócio expandiu demais, a forma como ele atua é extremamente lesiva ao ambiente e à qualidade da vida, e a gente pretende implantar um modelo que contemple formas diferentes de gestão. Criaremos grandes fazendas públicas onde haja mais empregos no campo, e a produção voltada para o mercado interno. Sem deixar de produzir para exportar, mas reorientando essas prioridades. Não se pensa em propor nenhuma alteração nas empresas médias, pequenas ou microempresas, nem nas grandes empresas que não sejam estratégicas.


CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade