27 de setembro: viva São Cosme, viva São Damião!

domingo, 28 de setembro de 2014
por Jornal A Voz da Serra
27 de setembro: viva São Cosme, viva São Damião!
27 de setembro: viva São Cosme, viva São Damião!

Neste fim de semana, preparem-se pais, avós, tios, padrinhos, pois a criançada ficará em polvorosa, pelo menos as das famílias que ainda mantêm viva a tradição de distribuir — e "catar”, como se costuma dizer — doces de São Cosme e Damião.

A história destes dois santos — seus verdadeiros nomes eram Acta e Passio — começa no século III da era cristã, em Egeia, e é envolta em lendas e folclores. O que se sabe é que os irmãos, gêmeos, eram filhos de uma família que se converteu ao cristianismo quando os dois eram adolescentes. A principal teoria é de que tenham se tornado médicos graças a um homem chamado Levi, que lhes transmitiu seus próprios conhecimentos e, através do ofício da medicina, os dois puderam cativar mais pessoas para o exercício da fé cristã. Julga-se que curavam não só por seus tratamentos médicos, mas também através das orações que faziam. Devotos fervorosos e muito respeitados na comunidade, Cosme e Damião chamaram a atenção das autoridades locais. Neste período, o imperador romano Diocleciano havia autorizado a perseguição aos cristãos, uma vez que estes despertaram sua ira por serem fiéis a Jesus e não idolatrarem as esculturas consideradas sagradas pelo Império Romano.   

Os irmãos, então, foram perseguidos. Presos, sofreram diversos tipos de tortura, mas mantiveram sua fé: "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo, pela força do Seu poder”, afincaram. Deu-se, então, a condenação à morte. Quatro soldados os atingiram com setas, mas os irmãos resistiram, assim como sobreviveram a pedradas e flechadas. Os militares recorreram à decapitação por espada. Cosme e Damião morreram como mártires.

Cem anos depois, no entanto, iniciou-se uma verdadeira idolatria aos seus restos mortais. Foram esculpidas imagens em sua homenagem, as quais eram absolutamente reverenciadas. Até que, por volta do ano 520 d.C, dois séculos depois, em Roma, uma basílica foi construída a pedido do Papa Félix IV para honrar Cosme e Damião. A solenidade de consagração desta basílica foi em um dia 26 de setembro — daí a tradição dos católicos de festejar os dois santos nesta data.

Aqui no Brasil, o culto aos santos começou em 1535, quando foi erguida a primeira igreja católica do país, em Igarassu (PE), que recebeu o nome deles. Mais tarde, como os escravos não podiam professar a própria crença, era preciso que houvesse o sincretismo religioso da devoção trazida pelos portugueses com o culto aos orixás-meninos — os Erês — da tradição africana yorubá. Na umbanda e no candomblé, os santos gêmeos são tão populares quanto Santo Antônio e São João. As festas que homenageiam São Cosme e Damião ocorrem no dia 27 de setembro e nelas distribui-se doces e balas às crianças. Na década de 70, o Vaticano mudou oficialmente para 26 de setembro o dia de homenagear os santos, mas na tradição popular a data antiga foi mantida.


Uma tradição que nunca morre

A tradição de distribuir doces é seguida por católicos — embora tenha origem num costume pagão, a igreja a adotou como forma de incentivar a caridade —, umbandistas e até mesmo por aqueles que não seguem religião alguma, mas se sentem gratos por algo que tenham alcançado. Apesar de poucas pessoas ainda seguirem o costume e as corridas aos doces já não serem mais como antigamente, as lojas do ramo, bombonieres e distribuidoras acabam registrando um alto volume de vendas nessa época do ano. Segundo o proprietário de duas lojas de doces na cidade, o estoque foi aumentado em 15% para atender a demanda e as vendas superaram as expectativas. "Os doces específicos das sacolinhas de São Cosme e Damião — maria-mole, mariola, suspirinho — já foram vendidos e os outros, se sobrarem, saem para as festas de Dia das Crianças”, diz.

No que depender da criançada, essa tradição nunca terá fim. Então, é bom informá-las sobre os cuidados com o trânsito e o perigo de se falar com desconhecidos, lembrá-las que é bom não exagerar na comilança para não afetar a saúde dos dentes e deixá-las sair. Uma coisa é certa: mesmo que o costume tenha perdido grande parte da sua força ao longo do tempo, ainda assim as mochilas voltarão cheias de doce! 

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