De férias em Nova Friburgo, Edson Barboza revela dificuldades por distância da família

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
De férias em Nova Friburgo, Edson Barboza revela dificuldades por distância da família
De férias em Nova Friburgo, Edson Barboza revela dificuldades por distância da família

Vinicius Gastin

Há alguns anos, Edson Barboza chegava à academia onde treina desde a infância, em Nova Friburgo, como um jovem qualquer, que sonhava em vencer no mundo das artes marciais. Algum tempo depois, o sucesso no mundo do MMA o transformou em exemplo. A presença do lutador, antes praticamente despercebida, provoca euforia. Edson distribui autógrafos, tira fotos e conversa com cada pessoa que hoje o considera uma referência. No último sábado, a tarde de autógrafos em uma loja na cidade reuniu dezenas de fãs e amigos. E não é para menos.

De férias na cidade, Barboza colhe os frutos de um trabalho realizado com muito esforço. A história começou com o sacrifício de sua mãe, que cedia os vales-transportes que ganhava no emprego para o filho ir à academia. Hoje, a maior luta também não é dentro do octógono: o peso-leve revela que o processo de adaptação aos EUA teve como maior obstáculo a saudade da família. "Durante o primeiro ano, eu acordava diariamente e dizia para mim mesmo que aquele seria o meu último dia nos EUA. Eu queria voltar ao Brasil, pois a saudade da família e dos amigos era muito grande. E ainda é, mas a ida da Bruna (esposa) para morar comigo amenizou um pouco a situação e me deu forças para prosseguir.”

Edson Barboza percebeu a necessidade de buscar novos rumos na carreira a partir do momento em que não encontrou mais adversários para os combates de muay thai no país. Campeão de todos os torneios possíveis, o friburguense ainda resistiu durante à ideia de migrar para o MMA por algum tempo, mas acabou aceitando. "O Anderson França (treinador) e vários amigos sempre me incentivaram, mas eu não aceitava. Em certo momento, eu percebi que teria de buscar algo diferente para poder crescer na carreira.”

Nos EUA, Barboza participou de algumas lutas antes de assinar contrato com o UFC, a maior organização de MMA do planeta. O potencial ficou evidente logo nas primeiras lutas, e chamou a atenção de Dana White e sua equipe. Desde a estreia, o lutador impôs o próprio estilo e conseguiu vencer quatro duelos por knockdown. Dono de um dos mais impressionantes nocautes da história do UFC, contra Terry Etim, Edson persegue o maior sonho da carreira, que acredita estar cada vez mais próximo.

"Ainda vou conquistar esse cinturão. A luta contra o Cerrone, que eu dominei e perdi depois de um descuido e por méritos dele, mostra que eu estou preparado para enfrentar qualquer adversário. Cerrone é um dos melhores da minha categoria, e encarei de igual pra igual.”

Nono colocado no ranking dos pesos-leves, Edson Barboza Junior aguarda a oportunidade para disputar o título máximo do UFC. A determinação do desafiante ao detentor do cinturão parte da própria organização, a partir de uma série de parâmetros que não consideram apenas o rankeamento. "Enquanto isso eu vou treinando e me preparando. Hoje sou um lutador completo, e posso vencer tanto com finalizações no chão quanto na luta em pé. A rotina é bem árdua, e eu treinos praticamente todos os dias. Mas é o que eu escolhi para a minha vida e amo fazer.”

 

Edson Barboza e equipe, após a vitória contra Evan Dunham: sucesso é resultado de uma série de sacrifícios


A tal da dieta...

A dedicação ao esporte por um atleta de alto nível exige uma série de renúncias. A rotina de Edson Barboza é completamente diferente de qualquer outra pessoa que não tenha o esporte como profissão. Dentre os hábitos especiais adotados por Barboza, a dieta é a parte mais complicada. O direito de relaxar com a alimentação é o aspecto mais comemorado pelo lutador durante as férias em Nova Friburgo.

"Acordar e poder comer tudo o que eu quero, sem maiores preocupações, é a melhor parte desse período de descanso. Principalmente comer chocolate, que é a minha grande paixão. Quando eu começo o camp (período de treinos), tudo fica muito limitado. Eu chego à véspera de uma luta com quatro ou cinco quilos a mais em relação ao ideal, e tenho 24 horas para atingir o peso”, conta;

Controlar o peso é a maior dificuldade do atleta nos dias que antecedem à luta. Apesar da proximidade de subir ao octógono, Edson Barboza revela que mantém a tranquilidade e encara o dia do combate como outro qualquer. "Muita gente me pergunta como eu me sinto no dia da luta, e eu respondo com outra pergunta: como você se sente quando acorda todos os dias para ir trabalhar? É exatamente assim que eu me sinto. Fico bastante feliz em poder lutar. É o que eu gosto de fazer. Fico tranquilo e encaro com a maior naturalidade.”

 

Solícito, Edson Barboza vira referência e atende aos fãs com carinho 


O filho como motivação

Durante as entrevistas concedidas, Edson Barboza sempre cita a cidade de Nova Friburgo e a família. Os dois pilares conduzem o atleta na vida pessoal e profissional, e o motivam a buscar cada vez mais sucesso no mundo da luta. "É o que sinto mais falta quando estou nos EUA”, reitera.

Após a última vitória, contra Evan Dunham, em julho, um gesto específico anunciava o que considera "a maior felicidade de sua vida”. A esposa Bruna Almeida Barboza está grávida de um menino, e a proximidade de se tornar pai torna-se a maior inspiração para a sequência na carreira. "Quando eu acordo e lembro que vou me tornar pai, eu ganho um ânimo extra para levantar e treinar. É algo fantástico, uma alegria sem tamanho. Está chegando mais um alvinegro, e quem sabe, mais um lutador”, brinca, referindo-se ao Botafogo, o clube do coração.

O pequeno Noah possivelmente vai nascer em Nova Friburgo, mas será criado nos EUA. Edson Barboza revela o desejo de um dia voltar para a cidade natal e realizar toda a preparação para as lutas na cidade. Entretanto, ainda considera a possibilidade improvável para um futuro próximo.

"Infelizmente é uma realidade bem distante. Gostaria muito de estar aqui durante a minha preparação, e viajar apenas para lutar. Mas falta estrutura financeira para isso. E até mesmo por esse motivo, o Brasil perde grandes talentos nas artes marciais. Conheci pessoas mais talentosas que eu, mas que não tiveram as mesmas oportunidades. É uma pena. Mas enquanto isso continuo levando o nome de Nova Friburgo para o mundo. E sempre agradeço pela torcida. Eu sinto toda essa energia do povo daqui.”

 

Tarde de autógrafos em Nova Friburgo foi sucesso e reuniu amigos e fãs do lutador




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