EDITORIAL - Uma triste realidade

segunda-feira, 18 de agosto de 2014
por Jornal A Voz da Serra
EDITORIAL - Uma triste realidade
EDITORIAL - Uma triste realidade

OS DICIONÁRIOS têm diversos nomes para definir os moradores de rua: mendigo, mendicante, pedinte, sem-teto ou sem-abrigo. Ou, numa linguagem "politicamente correta”, pessoas em situação de rua. A versão didática os classifica como o "indivíduo que vive em extrema carência material, não conseguindo obter as condições mínimas de salubridade e conforto com meios próprios”. Tal situação de indigência material força o indivíduo a viver na rua, perambulando de um local para o outro, recebendo o adjetivo de vagabundo, ou seja, aquele que vaga, que tem uma vida errante. Mas a realidade é bem mais dura que as palavras.

FRIBURGO vem convivendo com moradores de rua há algum tempo, causando alguns transtornos principalmente na Praça Getúlio Vargas, conforme reportagem de Flávia Namen publicada na edição de hoje. Sem proteção oficial do Estado e sem interesse de retornar ao convívio social, muitos indivíduos escolhem viver na rua a ter que convier com parentes, optando por uma vida marginalizada e desprotegida. São salvos pela benevolência de alguns que fornecem alimentação, um agasalho, uma ajuda.

USUÁRIOS da praça reclamam da presença de tais pessoas, alegando diversos motivos, como o uso de álcool e até mesmo de drogas e pedem que providências sejam tomadas pelas autoridades para beneficiar os turistas e moradores que visitam o local. Trata-se, contudo, de um erro de avaliação que pode ser visto como discriminatório. Constitucionalmente protegidos pelo direito de ir e vir, os moradores de rua são um reflexo da sociedade que não oferece oportunidades a todos os cidadãos, impondo-lhes essa triste condição. Resolver a questão de forma "estética” não irá resolver o problema, que hoje é comum na maioria das cidades brasileiras.

A SECRETARIA de Assistência Social vem realizando trabalhos de mobilização desse contingente, tentando reinseri-los no convívio familiar, mas não pode impor o seu retorno, posto que são livres para decidir o seu destino. Como se vê, a solução não é técnica, e, sim, política, num trabalho de longo prazo, oferecendo condições igualitárias de trabalho, qualificação e renda para todos.

NO BRASIL, existem diversas organizações não governamentais que cuidam dos moradores de rua. Atualmente, nas ruas brasileiras vivem aproximadamente 1,8 milhão de pessoas, sendo elas crianças, jovens, adultos e idosos que acabam por ter a rua como última opção de vida. Mas o que leva uma pessoa em sã consciência a abandonar seu suposto lar para viver sem estabilidade nenhuma? 

SERÁ QUE o senso de aventura dessas pessoas é apurado demais ou seus problemas fogem tanto da inércia humana que nem o aconchego do lar e a afetividade fraternal conseguem solucionar? A verdade pode chocar muitas pessoas, mas tem que ser dita quando as estruturas necessárias para uma boa convivência social falham e os problemas do indivíduo se tornam vistos sem solução. A última opção que o mesmo tem é de se entregar ao mundo e se tornar vítima de um problema que nem a esperança é capaz de resolver. 




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