Necrológio - Lurdes Gonçalves

segunda-feira, 21 de julho de 2014
por Jornal A Voz da Serra

Dizem, e comprovam, que o cigarro faz mal, mas eu não tenho essas acusações, pois foi graças a um cigarro que conheci Lourdes Gonçalves. Estávamos em uma reunião no Centro de Arte e, lá pelas tantas, como fumantes inveteradas, fomos até a área externa para fumar um cigarrinho e descobrimos sermos duas Lurdes, escritoras de A Voz da Serra, presentes naquele momento do tempo. Ela, Lurdes Gonçalves, a Cronista maravilhosa que sempre encantou seus leitores, como se proprietária de uma janela especial para apreciar a vida. E eu, uma colunista social, me escondendo atrás do pseudônimo de Lurdes Guerreiro.

Daí nasceu uma sólida amizade e muita admiração. Descobri que a simples Lurdes, quase despercebida em Friburgo, era uma escritora muito famosa, autora de vários livros de sucesso, como "O Grande Pecado”,  que a obrigou a utilizar o pseudônimo Florence Bernard, haja vista o pai não ter permitido que a filha assinasse uma história cujo tema era prostituição, e que obteve tanto sucesso, com  edição de vinte mil exemplares e divulgação até em novela na TV Tupi. Seguiram-se outros romances: "Edméia”, "A Inimiga”, "Diabo 55” e "As Ex-Esposas”.

A partir de 1952, fez uma pausa nos romances dedicando-se ao jornalismo, como correspondente nos  grandes meios de comunicação da época:  Correio da Manhã, O Cruzeiro, A Cigarra, O Globo e às maiores agências de publicidade do país: a MacCann Erickson, J.W.Thompson e Standard. Em 1957, retomou à vida literária como romancista infantil, lançando "Calunga”, com o qual recebeu o cobiçado "Prêmio Jabuti”, seguindo-se outros livros dedicados à  criançada: "O Espantalho”, "Bozo o elefante de asas”, "Alex Rumo ao Sol”, "Céu de Lona” e "Apenas João”.

Em linhas gerais, esta é a grande Lourdes Gonçalves, uma fantástica mulher que um dia escolheu Friburgo para passar o resto dos seus proveitosos dias e onde, segundo ela, encontrou Deus, na pureza da Natureza e na beleza das montanhas.

Minha gratidão à sua presença em minha vida será eterna. Sem ela, eu não teria me tornado uma escritora. As ideias existiam, mas sua tendência era ficar presas nos discos rígidos dos computadores. Se não fosse  ela  pegar meu primeiro romance e, através dos seus conhecimentos, encaminhá-lo a uma editora, minha vida não teria este capítulo. Eu lhe devo isso, mas, mais que meu agradecimento, devo-lhe uma  grande saudade pelos agradáveis e ilustrativos papos matinais que mantivemos por longos anos.

Yedda Santos

 

Uma perda irreparável

Nova Friburgo perdeu uma figura de destaque do cenário cultural. A romancista, contista, jornalista e publicitária Lurdes Gonçalves faleceu na manhã de ontem, 22, para tristeza de amigos e leitores que ela cultivou em sua longa trajetória. Dona de um talento especial para retratar os comportamentos do mundo contemporâneo, ela foi colunista por vários anos de A VOZ DA SERRA, tendo conquistado uma legião de admiradores. "Sou remanescente de uma geração que acreditava no poder da palavra escrita ou oral para melhorar as relações do homem com seus semelhantes. E com a vida em seu todo”, observou ela em uma de suas centenas de crônicas publicadas no jornal. 

Vencedora do Prêmio Jabuti – Revelação de Autor/ 1977, com o livro "Calunga”, Lurdes era um exemplo de mulher à frente de seu tempo, tendo atuado em grandes agências publicitárias do Brasil. Há várias décadas em Nova Friburgo, ela decidiu se mudar para cá após ter se encantado pelas montanhas que cercam a cidade. 

O velório da romancista foi no Memorial SAF, em Duas Pedras, e o enterro acontece na manhã desta quarta-feira, 23, no Rio de Janeiro. À família enlutada, direção e equipe de A VOZ DA SERRA enviam os votos de pesar. A escritora Yedda Santos também presta uma homenagem especial à querida Lurdes no texto ao lado:


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