À espera de uma Nova Suíça

quinta-feira, 17 de abril de 2014
por Jornal A Voz da Serra
À espera de uma Nova Suíça
À espera de uma Nova Suíça

Texto: Vinicius Gastin / Fotos: Amanda Tinoco

A tranquilidade talvez seja a única característica digna de comparação entre o Nova Suíça e o país europeu que inspirou o nome do bairro. A 8 km do Centro, às margens da RJ-150, a localidade cresce em ritmo acelerado e os problemas de urbanização aumentam na mesma proporção. Aos poucos, o verde preservado nas montanhas é tomado por casas e obras. Diversas vias foram abertas, os terrenos até então vazios — que custam em média R$ 60 mil cada — são ocupados por novas construções e o crescimento populacional é notório. 

O desenvolvimento do comércio acontece de forma gradual. O bairro já conta com mercados de boa estrutura, lojas de materiais de construção — nada mais apropriado para um local em franca expansão — e uma farmácia, aberta há cerca de um mês. A Prefeitura garante que a Subsecretaria de Fiscalização de Edificações e do Meio Ambiente realiza fiscalizações sobre as obras de edificações constantemente. 

Em meio às novidades, antigos problemas seguem sem solução. O córrego próximo à Rua Valdir de Britos continua correndo a céu aberto e o esgoto provoca a proliferação de mosquitos e ratos. Segundo a Prefeitura, é necessário que representantes do bairro façam uma solicitação oficial através de abertura de processo para cobrir o córrego. "Ele não transborda, mas joga água pra fora através dos bueiros, além de contribuir para a proliferação de doenças”, reclama o motorista Paulo Rodrigues, 56 anos.


Ruas sem calçamento: a principal reclamação

As reivindicações começam no acesso ao bairro. Os moradores pedem a instalação de um quebra-molas próximo à antiga usina de asfalto, onde o fluxo de pessoas que atravessam a RJ-150 com destino ao ponto de ônibus é intenso. Próximo ao local, um galho caiu sobre a fiação e por lá permanece há mais de três meses.

Para encontrar o principal alvo das reclamações basta seguir pela entrada do Nova Suíça, à direita da rodovia. Os buracos predominam na estrada de asfalto já desgastada. O tráfego pela pista estreita requer uma atenção ainda maior devido ao estacionamento irregular de carros ao longo da via.

Na região central do bairro, a situação se repete nas principais ruas, casos da Romana Villas Boas Schuenck e Vicente Sorrentino, e piora nas transversais, onde sequer há resquícios de pavimentação. A lama, os buracos e as pedras tomam até mesmo o espaço destinado às calçadas, e os moradores enfrentam dificuldades diariamente, seja de carro ou a pé. "Quando chove é ainda pior. Não há nem como passar por aqui. Já deixei de ir ao trabalho algumas vezes por conta dessa situação”, relata um morador que preferiu não se identificar.

Na Rua Adélia Wermelinger Duarte, o manilhamento está comprometido em determinados pontos. Algumas vias, como a Felisbina da Silva, constam como asfaltadas na Prefeitura. A realidade, entretanto, apresenta um cenário de completo abandono. Um dos casos mais críticos é o da Rua Dr. Helio Maia, em uma subida à direita da Capela de São Judas Tadeu — em fase final de construção. As casas de bom acabamento contrastam com a lama, os buracos, a falta de lixeiras e o escadão improvisado, também coberto por terra. Uma enorme cratera aberta em frente à residência de número 216 ameaça a segurança dos que por ali trafegam.

 

Ruas pavimentadas do Nova Suíça sofrem com a má conservação

 

Divisão entre parte asfaltada e a estrada de chão na Rua Felisbina da Silva: cenário comum em todo o bairro

 

O córrego a céu aberto é uma das queixas antigas dos moradores 

 Situação é pior na Reinaldo Braga

Há tempos os moradores da Rua Reinaldo Braga da Silva sofrem com a falta de pavimentação. Quando chove, a estrada de chão é tomada pela lama e o gramado de uma das casas se transforma em passarela. No entanto, o que era dificuldade virou risco desde a última semana, quando a Prefeitura despejou e compactou um material ao longo da via para eliminar os buracos. De acordo com relatos, os próprios funcionários do município teriam dito que o material foi preparado com os resquícios da tragédia de 2011 em Córrego Dantas. Pedaços de tijolos, canos e outros objetos são observados, e o mau cheiro predomina durante boa parte do trajeto. Por esse motivo, o iminente risco de doenças preocupa.

"A Prefeitura esteve aqui, capinou tudo e ameaçou fazer algumas valas. Mas a única coisa realmente feita foi o despejo desse material, que os próprios funcionários disseram ser do Córrego Dantas. A situação está complicada. Quando chove, temos que sair de casa mais cedo e utilizar o gramado do vizinho para passar. Nem os carros sobem por aqui”, conta Camila Mendonça, 23 anos, moradora do bairro há 20. 

Em resposta à reportagem, a Secretaria de Obras confirmou que o material é fruto de demolições de casas do Córrego Dantas, transformado em bica corrida para preparação de terreno. No entanto, o órgão descartou qualquer relação com entulhos provenientes da tragédia, e garantiu que em breve 12 ruas do Nova Suíça serão contempladas com o programa estadual Asfalto na Porta.

 


Moradores da Rua Reinaldo Braga reclamam do material utilizado

pela Prefeitura para cobrir os buracos na via: mau cheiro e ineficácia

 

Sem calçamento, a Reinaldo Braga fica praticamente intransitável nos dias de chuva


Correios e segurança deficientes

As condições precárias das vias não só limitam o deslocamento em dias de chuvas, como também comprometem os serviços básicos. O mau tempo costuma atrasar a coleta de lixo, que é feita regularmente às segundas, quartas e sextas-feiras. Devido às dificuldades de acesso, os correios não realizam entregas nas partes mais altas do Nova Suíça e a população precisa escolher outro endereço para receber as correspondências. 

O crescimento populacional também liga o alerta para a questão da segurança. Os moradores pedem reforço no policiamento à noite e cobram maior atenção à Rua Grécia, nas proximidades da Escola Municipal São Judas Tadeu. A iluminação precária facilita o tráfico de drogas que, segundo denúncias, acontece com frequência no local. 

A saúde e o transporte público necessitam de melhorias. A localidade é atendida por três linhas — Nova Suíça, Jardim dos Reis e Praça da Furunfa —, mas a espera nos pontos de ônibus dura até uma hora nos horários de maior movimento. No único posto de saúde do bairro nem sempre há médicos disponíveis para atendimento. 

 

Educação é ponto positivo

Escolas atendem à demanda e creche está quase pronta

A espera por melhorias parece não interferir na paixão dos moradores pelo bairro. "É um lugar muito bom para morar, bastante tranquilo, e eu pretendo continuar por aqui. Está crescendo muito, mas esperamos que esse crescimento seja acompanhado por melhorias”, ressalta Camila Mendonça.

Pelo menos no quesito Educação, o Nova Suíça parece preparado para atender às demandas da população local. A escola municipal São Judas Tadeu apresenta boa estrutura e atende a 260 crianças até o 5º ano do ensino fundamental. "Dificilmente falta um professor aqui. Precisávamos apenas de uma área de lazer”, relata uma mãe que pediu para não ser identificada.

Quanto à creche do bairro, o governo municipal garante a inauguração em breve, logo após a conclusão dos muros no entorno da unidade. A construção começou em junho de 2012 e deveria ter sido finalizada em nove meses. A obra custou R$ 715 mil, com recursos provenientes do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), governo federal e recursos do município.

 

Após longa espera e atraso no prazo para entrega, creche deve ser inaugurada nos próximos meses





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