Luta contra crematório tem final feliz para moradores de Córrego Dantas

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
por Jornal A Voz da Serra
Luta contra crematório tem final feliz para moradores de Córrego Dantas
Luta contra crematório tem final feliz para moradores de Córrego Dantas

Um alívio para os moradores de Córrego Dantas. Além de ter sido um dos bairros mais sacrificados na tragédia climática de janeiro de 2011, os moradores ainda se viram obrigados a conviver com a fumaça de um crematório. A princípio seriam apenas animais de pequeno porte a serem cremados ali, mas posteriormente diversos tipos de lixo também passaram a ser incinerados, poluindo o ar no bairro e provocando as mais variadas reações nos moradores.
Unidos desde a tragédia através da associação, os moradores de Córrego Dantas iniciaram outra luta, a fim de impedir que o crematório continuasse funcionando. Algumas luzes no fim do túnel chegaram a ser vistas, pois órgãos ambientais determinaram o fim das atividades da empresa. Mas, para desespero dos moradores, o crematório voltou a funcionar e ainda teve a licença prorrogada algumas vezes.
Porém, os moradores festejam agora o desmonte do crematório. Na terça-feira, 19, um senhor se limitou a atender a reportagem deste jornal por uma fresta do portão da empresa e não quis comentar o assunto. Já os moradores comemoram esta vitória e vislumbram dias mais felizes, embora o bairro ainda esteja carente de outras necessidades, em consequência da tragédia de janeiro de 2011.
Alcélia Cláudia da Silva fazia sua caminhada às margens da estrada RJ-130 (Nova Friburgo-Teresópolis), em Córrego Dantas, onde nasceu e foi criada. Ela afirma que era muito prejudicada pela fumaça emanada do crematório. Portadora de rinite e sinusite, ao cair da tarde, horário preferido para suas caminhadas, chegava em casa com dor de cabeça, devido à fumaça, mais sentida no fim da tarde, e seguia a noite toda. Ela era obrigada a manter toda a casa fechada.
Para contornar o problema, Alcélia fazia tratamento respiratório e tomava medicamentos. “Era um cheiro horrível, não dava para suportar. Eu vivia tomando remédio para alergia”, explica. Ela e outros moradores chegaram a apelar para a imprensa algumas vezes, além dos integrantes da associação de moradores que procuraram os órgãos responsáveis e botaram a boca no trombone pela internet também. “Agora a gente conseguiu se livrar disso”, comemora. Ela destaca que os moradores de Córrego Dantas, que já haviam sofrido tanto com a tragédia, não foram consultados e nem ficaram sabendo da instalação do crematório no bairro. Só depois da infestação da fumaça é que ficaram sabendo. “Era uma fumaça escura e bem fedida”, observa. E complementa: “Espero que agora melhore, porque a gente já perdeu demais nesses três últimos anos. Isso foi um desrespeito com a gente aqui”, observa, salientando que seus vizinhos, na Rua João Luiz Fernandes, eram os mais prejudicados com a fumaça, que invadia a rua. “Minha mãe, que já tem 78 anos, tossia a noite inteira. A gente ficava com a casa fechada, tinha falta de ar, era uma coisa horrível mesmo”, finalizou a moradora, na esperança de dias—e noites—melhores.
Paloma Thurler Leal foi uma das moradoras que só foi saber que havia um crematório em Córrego Dantas depois que começou a sentir o mau cheiro da fumaça. Chegou a imaginar que vinha de um abatedouro de porcos. O incômodo causado era enorme, principalmente à noite. Aliviada, Paloma disse que agora o sofrimento será amenizado, pois ainda resta mau cheiro da enchente nos dias mais quentes, como nesta época.
A preocupação de Andréa Storck Bachini, moradora da Rua Luiz Shottz, era com o filho, de 17 anos, que piorava do quadro de bronquite sempre que a casa era invadida pela fumaça preta do crematório. Volta e meia ele tinha que ser levado ao hospital. A luta da associação de moradores foi grande e, embora demorada, a vitória está sendo comemorada. “Espero que agora a gente não tenha mais mau cheiro por aqui”, diz, na expectativa.
Na porta da creche, Irene Ribeiro, moradora da Rua Laurindo Schottz, esperava por sua neta de 1 ano. Ela garante que, como toda a vizinhança, estava sendo prejudicada pela fumaça do crematório, que afetava a saúde de quase toda a família. O ambiente ficava poluído pela fumaça e pelo mau cheiro. Ela participou da luta da associação de moradores desde a tragédia e depois contra o crematório. “Esses dois problemas, juntos, prejudicaram muito a comunidade. E eles [os integrantes da associação] lutaram muito junto à comunidade para a retirada desse crematório. Eles [o crematório] ganharam vários recursos na Justiça para permanecer no bairro. Agora, graças a Deus, melhorou muito. E tem que melhorar mais. As autoridades têm que fazer mais pelo nosso bairro porque a gente está precisando de apoio.”
O comerciante Aurélio Gonçalves Corrêa também comemora a saída do crematório de Córrego Dantas, pois também era prejudicado pela fumaça tanto pela manhã, bem cedo, ou à noite. Além do mau cheiro, ficava com os olhos irritados. Clientes seus se queixavam de dor de cabeça, alergia e do mau cheiro. Mora há dois anos no bairro, na casa onde morava sua irmã, que já reclamava dessa situação. Soube por um amigo do Inea que o crematório havia sido fechado. Foi uma alegria geral. Mas, logo depois, a empresa foi reaberta, através de uma liminar concedida pela Justiça. 
Além dos moradores, Aurélio lembra que eram afetadas também escolas, creche, hotel, pousadas e confecções, entre outros estabelecimentos. O incômodo era geral. Ele chegou a ouvir comentários sobre um protesto que estava sendo planejado, inclusive com interdição do trânsito na RJ-130. “Mas, agora, eu soube que o crematório está sendo transferido para outra cidade. Vamos torcer para que realmente se concretize essa saída”, comenta feliz.

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