Blog de paulafarsoun_25873

Redes de Solidariedade

sábado, 18 de maio de 2024

Nossa querida cidade, Nova Friburgo, celebrou na última quinta-feira, 16, mais um ano de vida. No último fim de semana, o cantor friburguense Benito di Paula esteve aqui para participar dos festejos. E paralelamente a isso, estamos testemunhando uma catástrofe no Rio Grande do Sul que nos remete a sentimentos conhecidos e vividos por nós, de tristeza, medo, desolamento, perdas, luto, revolta, solidariedade, empatia e tantos outros. Que situação difícil e desoladora!

Nossa querida cidade, Nova Friburgo, celebrou na última quinta-feira, 16, mais um ano de vida. No último fim de semana, o cantor friburguense Benito di Paula esteve aqui para participar dos festejos. E paralelamente a isso, estamos testemunhando uma catástrofe no Rio Grande do Sul que nos remete a sentimentos conhecidos e vividos por nós, de tristeza, medo, desolamento, perdas, luto, revolta, solidariedade, empatia e tantos outros. Que situação difícil e desoladora!

Lembrei-me que o cantor, conhecido pela canção “Homem da Montanha”, nos apresentou no início do ano de 2011, após a tragédia climática que nos assolou e vitimou milhares de friburguenses, a canção ‘Me ajude a salvar a montanha que chora”. Lembro-me de ter ouvido, chorado, me identificado e fortalecido com aquelas palavras. A letra dizia em um de seus trechos: “sou homem da montanha, nunca tive sofrimento, é duro ver o meu povo sofrendo. Por Deus eu peço e venho pedir agora, me ajude a salvar a montanha que chora”. Acho que este foi o desejo de todos nós.

Naquele contexto, tive a oportunidade de escrever um texto para A VOZ DA SERRA que recebeu título similar ao nome da música. Foi uma dor inenarrável sermos obrigados a acreditar que o mundo caiu sobre nossas cabeças. Dor pior foi aceitar que tantas pessoas se foram, tantas casas ruíram, tantos bens construídos com o esforço de uma vida inteira se destroçaram, que tantos sonhos se perderam. Um turbilhão de emoções inimagináveis se embaralhou em nossos corações. Um sentimento que parecia apenas ser realmente captado, verdadeiramente sentido na raiz por nós que somos friburguenses de corpo, alma e coração e que podíamos sentir aquela imensa tristeza em um contexto de pertencimento, de dentro para fora. A dor da perda de vidas, a dor da necessidade de reconstruir tudo o que virou lama em poucos minutos, a dor de ver nosso povo chorando. E a dor de não sabermos como seria o dia de amanhã.

Em meio à desolação e ao desespero instalados desde o dia 11 de janeiro de 2011, percebi um amor que eu já conhecia, mas que até então era imensurável: o amor pelo lugar em si, pela terra, pela cidade e tudo o que constava dela. A solidariedade, a união, a cumplicidade e o amor ao próximo deram lição ao mundo! O caos da região serrana ofuscou as maldades e trouxe à tona os sentimentos mais nobres dos seres humanos. Tudo isso fez renascer a esperança por um mundo melhor.

O cenário mudou. Andar pela cidade requereu muita força para que o desespero não impedisse de ver adiante. Muita tristeza nos olhos das pessoas. Ninguém não perdeu nada. Todos perdemos muito. Uns mais, outros menos, mas todos perdemos. É realmente duro ver o cenário marrom, os bombeiros, o exército, a polícia, os caminhões de donativos, tratores, corpos, os voluntários andando por toda parte. No céu muito helicópteros; na praça, um hospital; nos rios, entulhos; nas montanhas, rasgos de terra. E por todos os cantos: solidariedade!

Treze anos depois, comemoramos mais um 16 de maio em outras circunstâncias. Mas nossos irmãos choram no Sul. E essa dor, também é nossa. Mais uma vez, vemos desespero, tristeza, medo, desamparo, incertezas ao mesmo tempo em que redes incríveis de solidariedade nos levam a ter esperança nos seres humanos. Novamente, o cenário desolador ocupa os noticiários e milhares de pessoas encontram-se sem casa, sem chão, sem aconchego, sem agasalho, sem paz, sem quase nada. Muitos perderam a vida. Não podemos, em hipótese alguma, ignorar tamanha dor. Façamos nossa parte da forma como pudermos inclusive para transbordarmos a solidariedade anteriormente por nós recebida. A união faz a força, sim! 

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Quebra-cabeças

quinta-feira, 09 de maio de 2024

Para a construção de uma obra nova, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Para a construção de uma obra nova, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.

Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.

Seres humanos não são esse tipo de projeto que elaboramos com técnica. Somos, na verdade, uma obra sempre inacabada e complexa. Imperfeita por natureza. Em evolução (ou involução). O projeto é de vida e não há nada mais pessoal do que isso. O outro, por mais perito no assunto que seja, não pode precisar com exatidão o que acontece no interior da obra, nem apresentar soluções lapidares.

Esse terreno – que somos nós – não está descoberto a ponto de desvendarmos seus desníveis pelo olhar. Tem até areia movediça por baixo do mato verde. Tem de tudo, como se diz.

Investimos preciosos minutos de vida construindo uma imagem do outro. Supondo coisas. Julgando e prejulgando pelo pouco que conhecemos a seu respeito. Por isso o culto reverenciado pela imagem. Nem sempre a real. Quase sempre a projetada. A que pode ser vista. Isso é uma grande tolice, pois ao construirmos pessoas fictícias em nosso imaginário, empenharemos o dobro de energia para desconstrui-las, pois comumente erramos as análises. Os outros não são o que pensamos deles. Os outros são o que são.

Seria interessante se aceitássemos que o jogo começa com as peças do quebra-cabeças desmontadas, para então, com o tempo pudéssemos aprofundar e conhecer a imagem real que será formada. Daria menos trabalho e as surpresas talvez fossem mais prazerosas. Ou mais reais.

Mania estranha essa de querermos jogar um jogo ganho. Imagens preestabelecidas. Vencedores determinados. E no final das contas, a frustração da decepção. O girassol que eu estava montando no meu quebra-cabeças não passa de uma forma geométrica e sem sentido. Uma bola amarela. E vice e versa. Quantos girassóis deixamos de descobrir no meio do jogo justamente por superficialmente só enxergarmos a bola amarela. Sem essência. Forma e não flor.

Desconstruir é preciso. E se tivermos ânimo, reconstruir. Não sei se me fiz entender. Mas também não é preciso. Referenciando mais uma vez Clarice Lispector: “ não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”. Não me preocupo, pois.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Contando os anos

quinta-feira, 02 de maio de 2024

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

Assim começa o texto “O tempo e as jabuticabas”, de Rubem Alves, que tanto admiro e que deixo aqui como sugestão de leitura. É impressionante como os textos dele falam por mim. Não que eu imagine que já vivi metade da vida, porque minha mente tem por subterfúgio imaginar a vida eterna e se esquivar de pensar na efemeridade da existência. Contudo, também já não tolero gabolices e sinto que em meu tempo já não cabem desperdícios vaidosos e vãos.

Evito me colocar em uma contagem regressiva, mas a verdade é que o tempo não volta e o relógio só anda para frente. O que fazer diante dessa realidade senão aproveitar todo tempo do mundo que nos resta?  Uma fórmula infalível ao priorizarmos o que fazer diante da infindável lista de tarefas é pensar se nossa próxima ação vai ser positivamente útil para alguém ou para a humanidade ou se ela traz felicidade. Usar esse critério pode auxiliar em algum direcionamento, embora não resolva nossas questões desde as mais simples às mais profundas.

O tempo está passando e queremos tudo da vida. Desejamos a boa sorte, o sucesso em todos os aspectos, o amor profundo, a Prosperidade com P maiúsculo, a saúde plena, a realização profissional, o casamento feliz, a família perfeita, a viagem ao redor do mundo, a fonte da juventude. Conforme a vida vai passando vamos constatando que não dá tempo de ser tudo o que sonhamos (muito não por nossa escolha), que os dias terminam sem que executemos todos os nossos afazeres, que a lista de pendências é uma espiral crescente infinita. Alguns de nós, sabiamente, se dão conta de que querendo ou não, escolhas sobre prioridades são feitas todos os dias, só que elas podem ser conscientes.

E assim, é possível bancar a opção de saber dizer “não” para muitas situações e “sim” para outras tantas, de sustentar um modo de vida em que o tempo seja prioridade e que tê-lo livre ou destinado para o que nos seja crucial é um luxo merecido que todos podemos ter. Viver a vida é fundamental, viver mesmo, não apenas existir. Na minha concepção, há uma correlação entre o viver de verdade e o ser de verdade, na essência de tudo.

E “o tempo e as jabuticabas” conclui por mim:  (...) Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘As “pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.”

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Posso ouvir

quinta-feira, 25 de abril de 2024

A cada dia que passa a vida mostra que saber ouvir é mais que uma habilidade rara, mais do que uma necessidade, mais do que uma demanda social. É um dom. Proponho uma breve observação. Quantas pessoas falam ao mesmo tempo na mesma roda de conversa? E dessas, quantas estão falando sobre si mesmas, sobre suas próprias vidas, seus anseios individuais e seus problemas? Quantas estão a reclamar o tempo todo?

A cada dia que passa a vida mostra que saber ouvir é mais que uma habilidade rara, mais do que uma necessidade, mais do que uma demanda social. É um dom. Proponho uma breve observação. Quantas pessoas falam ao mesmo tempo na mesma roda de conversa? E dessas, quantas estão falando sobre si mesmas, sobre suas próprias vidas, seus anseios individuais e seus problemas? Quantas estão a reclamar o tempo todo?

Em sequência, proponho que observem quantas pessoas ouvem atentamente a história do outro, olham nos seus olhos e efetivamente parecem se importar com as informações compartilhadas. Hoje me aconteceu algo curioso. E que curiosamente sempre acontece. Comigo! Estive com uma pessoa que pouco vejo e com quem não tenho intimidade alguma. Mas a quero muito bem e ela deve perceber. Estivemos juntas por 20 minutos apenas e em uma circunstância incomum.

Pois bem. Nesse interregno de tempo eu pude saber das dores mais profundas pelas quais ela passa, do sofrimento de sua família, sobre suas recentes perdas e dificuldades. Coisas que só contamos a Deus quando colocamos a cabeça no travesseiro. Ela não estava lamuriando. Definitivamente não estava. Abriu seu coração simplesmente por sentir que teria dois ouvidos disponíveis por algum tempo e talvez um coração aberto a acolhê-la de alguma maneira. Talvez um olhar sincero além dos ouvidos atentos.

Confesso que quando ela começou a contar sobre sua vida, olhei no relógio e lembrei-me o tanto de afazeres que ainda tinha por fazer. Por alguns segundos senti medo da demora e pensei em mudar o rumo da prosa, imaginando o tanto que ela se prolongaria. Por pouco não a interrompi. Não daria tempo, eu não tinha realmente disponibilidade aquela hora. Afinal, já sabemos as horas voam.

Não raras vezes eu imagino que “aquela pessoa” poderia ser minha mãe ou minha avó e que eu gostaria de que elas fossem sempre tratadas com zelo, respeito e atenção quando decidissem abrir o coração com alguém. Um pensamento um tanto egoísta que às vezes vem. Não por isso. Muito mais frequentemente eu me coloco no lugar de uma pessoa estranha e procuro buscar entender como ela se sente e volta e meia percebo que ela precisa simplesmente do que mais posso oferecer: atenção (que não necessariamente é sinônimo de tempo) e carinho.

Hoje foi assim. Felizmente eu perseverei alguns segundos, me acomodei melhor na cadeira e me pus a ouvi-la como se tivesse a eternidade à sua disposição. Olhei atentamente para aqueles olhos cansados de um dia de trabalho exaustivo que escondiam por trás dos óculos um semblante triste, abatido e desolado. Senti de forma profunda que ali residia uma enorme dor. E sem que eu proferisse uma palavra (nenhuma palavra!) ela confiou a mim suas profundas aflições.

Enquanto ela falava, eu agradecia. Agradecia por estar ali naquele exato local e momento podendo ser útil a alguém como ela. Agradecia por não ter posto o meu egoísmo e a minha pressa à frente do sentimento dessa pessoa. Agradecia por meu coração naquele momento estar livre daquelas angústias vividas por ela. Agradecia por conseguir me transportar para o lugar ocupado por ela, entender seus anseios. Agradecia por ser eu a estar ali. Agradecia por isso sempre acontecer comigo e apesar de eu não conseguir me vencer sempre, por estar ali tentando, mais uma vez, com mais uma pessoa. Agradecia pelo dom de ainda saber ouvir.  Muito mais do que por meio dos ouvidos.

Ao fim da conversa – eu, com os minutos contados e ela, atrasada para pegar seu ônibus - bastou um abraço e sem que eu dissesse nada, encerramos aquela conversa. Que experiência rica. Como estamos carentes de um interlocutor de verdade, com quem possamos simplesmente compartilhar, não só o lado bom da vida, mas também as profundezas da alma. Sem julgamentos.

Lembrei-me de uma frase de Rubem Alves: “As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.”   Apesar da correria do dia a dia, do ruído e da ansiedade social, não me esqueci de que ainda sei ouvir. E mais uma vez agradeci por não ter ensurdecido a alma. Apesar dos pesares.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Sem força

quinta-feira, 18 de abril de 2024

                Há dias em que a força nos foge. Sentimo-nos, como diz o dito, “o saco vazio que não para em pé”, mesmo tendo nos alimentado. É incrível como nos dias de exaustão os pensamentos escondidos aparecem. Lembramo-nos de cuidar da saúde, valorizamos mais do que nunca uma boa noite de sono, repensamos a qualidade de nossas atividades e pensamos em como damos conta.

                Há dias em que a força nos foge. Sentimo-nos, como diz o dito, “o saco vazio que não para em pé”, mesmo tendo nos alimentado. É incrível como nos dias de exaustão os pensamentos escondidos aparecem. Lembramo-nos de cuidar da saúde, valorizamos mais do que nunca uma boa noite de sono, repensamos a qualidade de nossas atividades e pensamos em como damos conta.

                A ausência de pausas, os excessos de compromissos, de afazeres, as demandas incessantes nos tomam dias inteiros e às vezes noites. Há quem encontre plena alegria em viver nessa intensidade de multitarefas, muitas relações interpessoais, muitas funções na sociedade. E, de fato, é deveras um privilégio. Desafio interessante é conciliar tudo isso com os ciclos de descanso e o verdadeiro cuidado com o repositório de energia. Da melhor energia.

                No final das contas, como diz um outro dito popular, “não existe almoço grátis”, o que significa que essa conta uma hora vai chegar. Dia desses estava lendo um depoimento de um notívago e sua produtividade noturna. Além de brincar que a energia da lua era aliada de sua criatividade, desenhou sua rotina da madrugada como sendo altamente revigorante para justificar seu relógio biológico às avessas. Ele é escritor. E o silêncio da madrugada o conecta com seus mais profundos pensamentos.

                Dificilmente eu conseguiria. Aliás, quem conseguiria? Realmente é para poucos. Nossa rotina acorda e deita com nossas necessidades básicas de descanso. Não tem muita escapatória. O meu relógio biológico certamente não obedeceria os comandos todos os dias. Eu, pelo menos, quando não tenho uma noite de sono ideal, luto ao longo do dia para ser a melhor que posso, apesar disso. Apesar de. Não dormir, para mim, é como cobrar a conta durante 24 horas desse “almoço caro”, é sentir a ausência de forças latente. É lembrar que o bocejo coletivo do dia, começará por mim. Provavelmente puxarei a fila e não conseguirei disfarçar. Até a próxima noite de sono chegar.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Pausa estratégica

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.

Nem todo mundo quer o barulho a todo instante. Nem toda hora é hora para expressar uma opinião. Aliás, não necessariamente temos opinião formada sobre todas as coisas o tempo todo. Tem gente que gosta de ficar quietinho. Que precisa maturar suas ideias. Que prefere retrair para depois avançar. Há silêncios necessários. Pausas estratégicas. Pensamentos que precedem as falas. Um passinho de cada vez.

A coisa está tão confusa que não raras vezes o julgamento social recai justamente sobre quem opta por não estabelecer o conflito, aliás, mais um conflito dentre os tantos existentes. Há que se entender que tem gente que opta pela paz e que de uma maneira mais singela expõe para o mundo a que veio. De passagem, claro, mas não indiferente.

Conceitos preestabelecidos. Comportamentos repetitivos. Ecos inconscientes levando a lugar nenhum. Outras tantas manifestações alcançando os fins pretendidos. E além. De um lado, pensamentos e sentimentos sem voz. De outro, o grito. E a coexistência entre eles faz da sociedade um ambiente plúrimo, consistente e complexo. E que bom que seja assim. Liberdades liberadas. Expressões expressadas. Silêncios, silenciados.

Tem gente que acha que tem monstro esperando o apagar da luz. Tem gente que quer ser o monstro, ou o amigo do monstro. Tem ainda aqueles que não acreditam em monstros. E outros que acendem a luz. Todos existindo e coexistindo, enriquecendo a diversidade, construindo pontes, tecendo diálogos, abrindo mentes, restaurando coisas, salvando gente, defendendo ideologias, batalhando por si, por todos. Qual valor tem essa liberdade? Incalculável.

E se pudesse sucumbir ao silêncio, talvez fosse para dizer sobre ética e liberdade, para levantar essas bandeiras e gritar que a censura não passará, a mitigação das liberdades individuais não passará, que estado de exceção não passará. Que evoluir democraticamente é muito para não continuar. Que o silêncio pode fazer todo sentido para um e ou outro nesse momento e enquanto ele for, apenas, opcional.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Mudança

quinta-feira, 04 de abril de 2024

Aquele frio na barriga, palpitação, pensamentos voando, respiração mais curta. Nessa hora, bate uma agitação interna, por vezes um excesso de empolgação. Quem está prestes a chegar é a “mudança”. Mudança em algo da vida, por vezes, vem de surpresa, chega mostrando a que veio, imponente, avassaladora. Outras vezes, chega de mansinho, vai se acomodando, conquistando espaço, se esparramando pelo sofá da vida e quando menos percebemos, nos deparamos com ela e encaramos sua presença. Mas nem só de surpresa chegam as mudanças. De certo, muitas mandam notificação prévia.

Aquele frio na barriga, palpitação, pensamentos voando, respiração mais curta. Nessa hora, bate uma agitação interna, por vezes um excesso de empolgação. Quem está prestes a chegar é a “mudança”. Mudança em algo da vida, por vezes, vem de surpresa, chega mostrando a que veio, imponente, avassaladora. Outras vezes, chega de mansinho, vai se acomodando, conquistando espaço, se esparramando pelo sofá da vida e quando menos percebemos, nos deparamos com ela e encaramos sua presença. Mas nem só de surpresa chegam as mudanças. De certo, muitas mandam notificação prévia. Ou são planejadas, desejadas, perseguidas.

As mudanças vêm. Simplesmente vêm. Quando não somos nós quem a promovemos, de uma forma ou de outra, parece que dão seu jeito de chegarem até nós. São insistentes. Surpreendentes. Podem chegar em silêncio, fazendo pouco ruído e impactando pouco nosso cotidiano. Ou podem chegar feito furacão, remexendo todas as estruturas e bagunçando tudo por onde passa.

Mudar faz parte da natureza humana. Mudanças internas são quase que orgânicas e necessárias. Eu de ontem não sou igual a eu de hoje. Não tem como ser. Quantos pensamentos novos já experienciei, quantas vivências, quantas decisões precisei tomar, quantos cursos fiz para me aprimorar, quanto amor partilhei, quanto me conheci, me desafiei, trabalhei. Mudanças são bem-vindas. São o sinal de que a vida pujante nos convida para escolhermos os rumos a tomar o tempo todo. Mudar para melhor. Escolher que seja para melhor. Como se essa escolha pudesse direcionar os rumos dos ventos e coubesse a nós cuidar das velas e preservar a nau.

Sinto que essa habilidade incrível que o mero existir demanda de nós, de superar sempre, de enfrentar todos os dias, de conviver, aprimorar, respeitar, ser melhor, fazer mais – ou o mínimo, nos torna super-heróis ou super heroínas de nós mesmos. Não sei vocês, mas eu quando me deparo com a adversidade e sinto-me forte para enfrentá-la, olho para trás e percebo o tanto que já evoluí. Porque se um dia mudar era sofrer, hoje mudar é crescer. E as mudanças são bem-vindas quando sabemos extrair delas o que de melhor elas podem oferecer: nossa evolução, nossa força, nosso autoconhecimento.

Quando descobri que eu posso promover boas mudanças dentro de mim, em minha vida e na de pessoas e também trazer as que não posso escolher para meu lado como aliadas em meu processo de evolução, deixei de temê-las. E por assim dizer, entendi que sem elas o frio na barriga provocado pelas variantes da vida poderia não me mover. E que o movimento é bom, principalmente o que ocorre de dentro pra fora da gente.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Um amigo...

sexta-feira, 29 de março de 2024

Aquela pessoa.  A-M-I-G-O. Todo mundo deveria ter. Pelo menos um para fazer valer a pena. Seria desperdício muito grande existir sem ter ao menos um grande amigo na vida. Daquele para quem basta um olhar para dizer que está tudo bem. Aliás, aquele para quem não precisa dizer nada. Não há necessidade de desculpas sobre a razão do sumiço. Não há cobrança sobre o motivo de não ter ligado nos últimos dias. Nos últimos anos. Simplesmente ele existe e isso muitas vezes, basta.

Aquela pessoa.  A-M-I-G-O. Todo mundo deveria ter. Pelo menos um para fazer valer a pena. Seria desperdício muito grande existir sem ter ao menos um grande amigo na vida. Daquele para quem basta um olhar para dizer que está tudo bem. Aliás, aquele para quem não precisa dizer nada. Não há necessidade de desculpas sobre a razão do sumiço. Não há cobrança sobre o motivo de não ter ligado nos últimos dias. Nos últimos anos. Simplesmente ele existe e isso muitas vezes, basta.

Aquele amigo que guarda teus segredos pueris, que conhece sua essência, que brincou, brigou, sorriu e chorou ao seu lado. Que sabe quem você é. E continua te amando. Que te vê diferente, mas tem a certeza de que nada mudou. Ah! Um velho amigo jovem, pouco importa a idade. Refiro-me àquela pessoa, com “p” maiúsculo, que enche seu rosto com um sorriso genuíno quando aparece, que decifra seu estado de espírito com o olhar, que acha graça das suas piadas sem graça. Que não se importa com o que você tem e sim com quem você é. Que se importa com sua felicidade. Que ama sua família. Que torce por você. Que comemora à distância pelas suas conquistas ou que está ao seu lado para o melhor abraço. Vibra ao falar com você, sobre você. Sabe do que estou falando?

Amigo parente, amigo da escola, do trabalho, da vida. Chega em nossa vida de alguma forma e fica, constrói laços e se torna alguém especial, sua referência, seu porto seguro, com elos inquebrantáveis. É uma raridade. Cultivar uma amizade demanda entrega, investimento de tempo, energia, afeto e dá trabalho. Mas vale a pena. É incrível ter alguém com quem partilhar a vida genuinamente, polir o ouvir sincero, compartilhar os segredos, trocar abraços carinhosos, olhar nos olhos e identificar ali uma morada segura. Escolha alguém e dedique-se a essa pessoa porque amor de amigo é multiplicação.

Se você tem alguém assim na vida, amigo, que sorte a sua. A construção dessa relação leva tempo. Ela passa por fases, amadurece, se reinventa, afrouxa, aperta, some, aparece, mas continua intacta. Basta levantar a mão por socorro na multidão das outras companhias para você ver a presença de quem que irá fazer toda a diferença. O alento de ver o rosto conhecido quando estamos perdidos, de sentir a presença quando estamos sós. É ele. Esse amigo que pode ser qualquer pessoa no mundo, com ou sem laços sanguíneos, mas que foi escolhido por você para ser aquela pessoa: a-que-la pes-so-a ! Jamais uma qualquer.

Porque amizade é amor. Amor para poucos. Porque amar na alegria, na prosperidade, na diversão e na saúde, é moleza. Amor de fotografia é lindo, basta um abraço e um sorriso e pronto: fez-se o melhor amigo superficial. Difícil é amar na dureza, na doença, na escassez, no sofrimento. Nessa hora, infelizmente comumente vão-se os dedos e os anéis. Sobra pouco perto de nós. Poucos. E normalmente, quem ali permanecerá será o amor incondicional. O verdadeiro. O diamante em meio ao cascalho. O tesouro imaterial que faz a vida valer a pena.

Feliz de quem possui um velho amigo. Um! Seu referencial e a certeza de que os momentos partilhados fincaram bases sólidas e inquebrantáveis pelo tempo, pelas circunstâncias, pelas novas ou velhas outras presenças. Amor que soma. Amizade que multiplica. Que edifica. Feliz de quem sabe do que estou falando, o que estou sentindo.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Alerta de Gatilho

quinta-feira, 21 de março de 2024

         Esta semana estamos recebendo inúmeros avisos, mensagens, compartilhamento de reportagens, a respeito do alerta de chuvas fortes no Estado do Rio de Janeiro nos próximos dias. Nós, que temos cravada em nossa história a tragédia de 2011, sentimos este alerta como uma ameaça à nossa segurança, nossa cidade, nossas famílias e tudo mais. É como um gatilho que nos faz rememorar as dores vividas em nosso passado próximo.

         Esta semana estamos recebendo inúmeros avisos, mensagens, compartilhamento de reportagens, a respeito do alerta de chuvas fortes no Estado do Rio de Janeiro nos próximos dias. Nós, que temos cravada em nossa história a tragédia de 2011, sentimos este alerta como uma ameaça à nossa segurança, nossa cidade, nossas famílias e tudo mais. É como um gatilho que nos faz rememorar as dores vividas em nosso passado próximo.

         Os avisos meteorológicos estão percorrendo os lares e felizmente, a população parece estar em alerta. O Jornal A Voz da Serra, na última quarta-feira, 20 de março, publicou uma reportagem noticiando a possibilidade de chuva extrema em nosso Estado, incluindo a Região Serrana. O jornal O Globo noticiou que o diretor do Cemaden – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais descreveu que o cenário é de situação similar com a de janeiro de 2011.

         Fato é que há previsão de chuvas extremas em nossa região a partir de hoje, sexta-feira. A torcida é grande para que o cenário mude e que não haja transtornos de nenhuma ordem à população. Mas o sobreaviso é importante, para que façamos as melhores escolhas possíveis de modo a evitarmos nos colocarmos em riscos desnecessários.

         Inclusive, lembro-me bem que em 2011, quando nossa montanha chorou e tantas vidas foram perdidas, desejávamos ter sido informados sobre o que estava por vir, de modo a tentarmos buscar uma proteção. O tsunami caiu sobre nós e fomos pegos desprevenidos. Será que as consequências catastróficas que presenciamos teriam sido amenizadas pela prevenção ou mesmo o acesso à informação para que a população não se surpreendesse com tamanho caos? Provavelmente, sim.

         E é por acreditar que podemos minimizar consequências de tragédias por meio de informação, embora infelizmente, nós, população, de maneira geral não possamos evitá-las, dedico esse espaço, substituindo o texto preparado para hoje, para também alertar sobre a iminente chuva forte que deve se aproximar nesse final de semana.

         Certamente o pânico não contribui e nem a propagação de informações falsas ou especulações. Mas é necessário que atribuamos credibilidade às fontes oficiais e autoridades para que possamos, tanto quanto possível, nos resguardar.

         Por aqui, um alerta de tempestade como esse é um baita gatilho de dor e medo. Contudo, um fato sobre a vida é que os episódios difíceis que enfrentamos podem engrenar uma experiência de vida capaz de nos ajudar a enfrentar desafios futuros. Estejamos, pois, alertas.

         E vamos torcer para que toda essa instabilidade que notamos no clima ultimamente, também confronte as piores previsões e nos surpreenda com chuvas mais brandas, população protegida e ausência de prejuízos. Quem sabe conseguimos observar um arco-íris no céu. Todos sãos e salvos. Cuidem-se!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Estudemos

quinta-feira, 14 de março de 2024

Um conselho recorrente que costumo dar ao longo da vida é muito simples e verdadeiro ao mesmo tempo: estude. Naturalmente, vivemos em um país absolutamente desigual, sem oportunidades para todos. Isso faz com que o acesso à educação de qualidade, infelizmente, não seja privilégio de todos. Mas meu ponto é outro e ele parte do esforço pessoal, do espírito de busca, da vontade de aprender e do objetivo de construção de algo melhor para si próprio, para os outros, para o planeta.

Um conselho recorrente que costumo dar ao longo da vida é muito simples e verdadeiro ao mesmo tempo: estude. Naturalmente, vivemos em um país absolutamente desigual, sem oportunidades para todos. Isso faz com que o acesso à educação de qualidade, infelizmente, não seja privilégio de todos. Mas meu ponto é outro e ele parte do esforço pessoal, do espírito de busca, da vontade de aprender e do objetivo de construção de algo melhor para si próprio, para os outros, para o planeta.

Como professora, por exemplo, aconselhar aos alunos a estudarem é prática rotineira, quase lugar comum. Mas vai além disso. Aconselho por amor, pois acredito verdadeiramente que por meio dos estudos damos passos mais largos em rumo a algo que tende a ser melhor. É justamente renunciando tempo e energia dispendido com algumas outras atividades para focar em nossa qualificação e aprendizado, que organizamos de forma correta cada tijolinho de nossa pirâmide de conhecimento.

Conhecimento sólido não se conquista da noite para o dia. Demanda tempo, dia após dia, leitura, diálogo, métodos de estudos. Requer paciência, motivação, empenho, organização e principalmente, vontade. Não me refiro, neste ponto, ao dia a dia de salas de aulas em escolas, cursos e universidades. Quero falar sobre o esforço pessoal em estudar onde estiver em qual circunstância for, como prioridade para o crescimento pessoal e profissional. Refiro-me à leitura, à conscientização responsável, à busca por boas fontes, à construção da capacidade de debate civilizado, às críticas construtivas.

A verdade é que o conhecimento de alguma maneira segue o fluxo de dentro para fora e não o inverso. Nós é que precisamos verificar dentro da realidade única que cada um temos, qual será nosso investimento em algo que apesar de abstrato, é absolutamente valioso, intransponível e irrenunciável: o conhecimento adquirido por meio do estudo ao longo dos anos.

Ao nos depararmos com uma sociedade desigual, com dificuldade de diálogo e apontamentos de soluções e alternativas, com informações desencontradas e transmitidas em meio a um fluxo intenso, creio que seja um sinal claro para que continuemos estudando e incentivando pessoas a fazê-lo não só em benefício próprio e de suas conquistas que certamente advirão por meio dos estudos, mas também por nossa sociedade, pelo presente e futuro da humanidade.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.